'Todo mundo assistiu àquela morte bárbara e ninguém fez nada', diz delegada sobre assassinato de mulher trans no Recife
Crismilly Pérola, conhecida como Piu Piu, de 37 anos, foi morta na Várzea, Zona Oeste do Recife. Além de baleada, ela foi arrastada por 20 metros e jogada em um rio
Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (26), a Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) afirmou que o homicídio da mulher trans Crismilly Pérola, conhecida como Piu Piu, de 37 anos, em 5 de julho, na Várzea, Zona Oeste do Recife, foi assistido por pessoas, que não fizeram nada para impedir o ato praticado por um adolescente de 17 anos.
Segundo a delegada Euricelia Nogueira, titular da 4ª Delegacia de Polícia de Homicídios (DPH), a ação do adolescente teria sido motivada por "puro ódio". "Quando se faz a entrevista com ele o que fica muito claro é que ele não gostava da vítima, não se sentia satisfeito ou bem com ela. Ele teria solicitado que a vítima se retirasse do local e ela ter se negado foi suficiente para toda essa violência, que foi presenciada por algumas pessoas que estavam no local e ficaram assistindo", disse a delegada.
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De acordo com a PCPE, o jovem teria atirado contra Pérola com uma arma de fogo, além de arrastá-la e jogá-la em um rio. "Durante a investigação o que podemos apurar foi que a mulher foi baleada em um local, agredida com um instrumento contundente e depois, como ela continuava viva, o adolescente a arrastou por 20 metros e a jogou no rio até que pudesse confirmar a morte e sair do local", explicou a delegada.
O menor foi apreendido na última sexta-feira (23) e levado por policiais para uma unidade de internação provisória de adolescentes infratores. A justiça pode decidir pela internação do adolescente por até três anos. De acordo com a PCPE, o rapaz teria afirmado que já havia sido ameaçado pela vítima, no entanto, a ação não foi confirmada, porque nenhuma testemunha teria presenciado a possível ameaça.
Sobre a arma utilizada para praticar o crime, o menor informou à polícia que havia jogado no rio, já que ela teria falhado durante a ação infratora. "[A arma] não foi encontrada. Segundo o adolescente, ela foi arremessada ao rio com muito raiva, porque ele havia efetuado vários disparos e só um atingiu a vítima. O interessante é que ele alega que atirou, jogou a arma no rio e voltou. Nesse meio tempo, ninguém socorreu a vítima ou a levou para outro lugar. Todo mundo assistiu àquela morte bárbara e ninguém fez nada", disse a delegada.
Ainda segundo a delegada, ocorre uma investigação para elucidar se as pessoas que presenciaram o crime podem ser indiciadas por omissão de socorro, visto que o menor agiu sozinho, mas elas poderiam ter ajudado a vítima.
Casos de transfobia no Estado
Kalyndra, Roberta, Fabiana e Pérola. Quatro mulheres transexuais assassinadas no Estado, entre o fim de junho e início de julho, vítimas da transfobia. Em 18 de junho, o corpo de Kalyndra Selva foi encontrado dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife. Em 24 do mesmo mês, Roberta da Silva morreu após ter 40% dos corpo queimado por um adolescente, no Centro. Em 7 de julho, Fabiana da Silva Lucas, de 30 anos, foi assassinada com vários golpes de faca às margens da PE-160, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano.
Como denunciar LGBTfobia
A sociedade em geral e a população LGBTI podem denunciar qualquer ato violador dos seus Direitos pelo CECH, através dos números (81) 3182-7665/ 3182-7607, do e-mail centrolgbtpe@gmail.com, ou presencialmente na sede do órgão localizado na Rua Santo Elias, 535, bairro do Espinheiro. O governo do estado garante sigilo das informações. Já a Prefeitura do Recife disponibiliza plataforma online de denúncias contra LGBTfobia através do link https://bit.ly/DenunciaLGBTRecife. Vítimas também podem procurar o Centro de Referência em Cidadania LGBT do Recife. O equipamento fica na Rua dos Médicis, nº 86, Boa Vista, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.