Foi revelado na tarde desta quarta-feira (1º) o novo visual da alegoria do Galo da Madrugada de 2023, que terá como tema "Galo Preto Ancestral", homenageando a herança afrodescendente do Brasil no principal bloco do Carnaval do Recife.
A novidade foi apresentada no espaço Art Plenna, do artista plástico Leopoldo Nóbrega, responsável por idealizar o Galo pelo terceiro ano seguido. Já a irmã dele, Germana Xavier, cuidou do design e da produção executiva da alegoria.
Nóbrega teve como inspiração para a obra de arte a representatividade da etnia brasileira e, sobretudo, da população negra, do nascimento dos brinquedos populares e do frevo.
"Evocamos a nossa ancestralidade africana e brindamos um novo tempo colorido, de paz, igualdade, inclusão e valorização das diferenças como potência cultural e estímulo ao fortalecimento das identidades através do empoderamento social, das narrativas humanistas e práticas sustentáveis presentes na escultura gigante do Galo da Madrugada", disse.
Para o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, o encontro com o Galo Ancestral reverencia a cultura popular basilar inerente ao ciclo momesco recifense.
"Quando falamos em uma volta com todos os Carnavais, estamos atentos à diversidade, à pluralidade única desse ciclo cultural, no Recife, mas também às referências temporais, das várias épocas, encontrando assim as origens da folia", disse.
DETALHES SOBRE O GALO GIGANTE DE 2023
O Galo gigante traz traços cubistas e angulosos inspirados em Picasso e terá 90% de materiais e resíduos recicláveis. Ele terá padronagens e paletas de cores africanas e pernambucanas, com tons quentes, e um piercing no bico.
As pontas das asas serão douradas, em reverência a Oxum. No pescoço, trará uma gargantilha africana. A cauda, por sua vez, traz todas as cores da paleta do arco-íris para rememorar que o Carnaval é de todos.
Mosaicos de espelhos tecnologicos serão confeccionados com DVDs descartados, iluminando a importância do consumo consciente. Na roupa, Leopoldo também mascarou alguns símbolos sagrados da folia. As cores fazem referência ao Frevo e Maracatus, com coroas, escudos e sombrinhas de frevo.
Já a cabeça do Galo Ancestral terá pinturas africanas em cor branca que irão adornar o rosto do Gigante, cuja crista passa a adotar dreadlocks, embelezados com fitas de múltiplas cores.
A obra será composta por mais de 7 toneladas de insumos e chegará a 28 metros de altura quando instalada na Ponte Duarte Coelho, entre os bairros da Boa Vista e de Santo Antônio, no Centro da cidade, em 16 de fevereiro.
No ateliê, a roupa do Galo está sendo confeccionada por mais de 150 costureiras de comunidades periféricas, como Bomba do Hemetério, Morro da Conceição, Santo Amaro e Ponto de Parada.
Uma delas é artesã Maria Gorete, que fez um treinamento para se tornar a única a subir no gigante e está animada para vê-lo em 2023. "Esperamos os dois anos e agora estamos com o coração explodindo de alegria. Vamos 'simbora' para a ponte, ver aquele Galo lindo e maravilhoso", convidou.
Ela também participou da costura da alegoria de 2019 - o "Galo Artesão" - e da de 2020 - o "Galo Circense de olho no futuro" - ambos de Leopoldo.
A formação das artesãs é formação das artesãs é fruto de metodologias próprias para Eco Arte Educação, idealizada pela Professora e Artista Plástica Maria do Carmo da Silveira Xavier, e vem acontecendo em oficinas permanentes através dos Núcleos Produtivos voluntários e solidários Arte Plenna, a exemplo do projeto Sonhar e Bordar, em parceria com a Artesã e Ativista Ester Bispo.
BLOCO DO GALO DA MADRUGADA 2023
Considerado o maior bloco de rua do mundo, o Galo da Madrugada voltará a arrastar multidões no Carnaval do Recife após dois anos guardado pela pandemia da covid-19.
Em 18 de fevereiro deste ano, no Sábado de Zé Pereira, os foliões voltarão a cantar, em uníssono, o"ei pessoal, ei moçada" que anuncia a chegada do bloco.
Os detalhes 44º desfile, que voltará em 2023 após dois anos de suspensão, deste ano foram anunciados ainda em novembro de 2022 pelo presidente do bloco, Rômulo Meneses.
Sob o tema "Viva a Vida, viva o Frevo, viva Enéas", o Galo celebra o centenário de Enéas Freire, um de seus fundadores. A festa está marcada para o dia 18 de fevereiro, a partir das 9h.
"É muito forte esse sentimento do Galo de poder retornar às ruas, já que essa, aliás, foi a grande motivação do surgimento do bloco, devolver o frevo às ruas. Deixamos, por dois anos, de cumprir essa missão e, agora, estamos de volta, para grande alegria nossa e do povo". comemora Rômulo Meneses, presidente do bloco.
Sobre o tema, Meneses explica que foi pensado de modo a expressar todo sentimento de gratidão e esperança, junto à retomada das festividades. "Queremos celebrar a vida, a paz, a alegria, e, é claro, o nosso frevo, que tem tudo a ver com essa explosão de sentimentos, além de fazer parte da nossa cultura e da própria origem e história do Galo" explica.
Até porque, de ressuscitar a tradição, o Galo entende. O bloco que hoje é Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco já nasceu da necessidade de relembrar a festa tradicional que parecia ter sido perdida no Bairro de São José, no Centro do Recife, em 1978.
A festa começou com cerca de 70 pessoas que saíam as 5h e contagiou os foliões pelo seu espírito democrático - a única exigência do seu fundador, Enéas Freire. É ele, o Presidente de Honra do bloco, que será homenageado no próximo desfile, já que o seu centenário de nascimento, em 2 de dezembro de 2021, não foi celebrado pela exigência de isolamento para conter a pandemia da covid-19.
Outro homenageado é o artista plástico Ary Nóbrega, que faleceu em abril de 2020. Por mais de 25 anos, ele foi o cenógrafo responsável pela confecção das alegorias que tanto abrilhantaram os desfiles de carnaval do Galo.
COMO COMEÇOU O GALO DA MADRUGADA
O Galo da Madrugada começou em 1978 da necessidade de relembrar a festa tradicional que parecia ter sido perdida no Bairro de São José, no Centro. Já no primeiro ano, foi um sucesso.
A alegria de pouco mais de 70 pessoas que saíam às 5h - por isso o nome do bloco - contagiou a legião de moradores e comerciantes que movimentavam o bairro, que estavam saudosos com as festas dos anos 30.
Todos mascarados, quem não participava não sabia quem era quem, e a brincadeira rolava solta. A única exigência de Enéas Freire, seu fundador, era que a festa permanecesse democrática, incluindo quem quisesse entrar. Não deu outra: ano após ano, ela foi tomando cada vez mais dimensão, até se tornar um dos principais símbolos de Pernambuco.
Hoje, tudo no Galo virou superlativo, como gostam os pernambucanos. São 200 diretores por trás, 30 trios, 9 horas de desfile e uma legião de gente que colabora direta ou indiretamente para que ele aconteça. Para tudo ficar pronto para o folião, a preparação precisa começar 6 meses antes.
