TUBARÃO EM OLINDA: Pernambuco deixou de fazer monitoramento dos tubarões na sua costa desde 2014

Desde novembro de 2014, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado (SDS) interrompeu o convênio com a Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE), que monitorava os tubarões na costa pernambucana
Adriana Guarda
Publicado em 21/02/2023 às 12:37
Barco Sinuelo, que monitorava e pesquisava ataques de tubarão no Estado de Pernambuco, encontra-se abandonado na Bacia do Pina Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


O caso do surfista André Sthwart Luiz Gomes da Silva, de 32 anos, supostamente atacado por um tubarão, na Praia dos Milagres, em Olinda na segunda-feira (20), expõe um problema que persiste há nove anos: a suspensão das pesquisas em Pernambuco. Desde novembro de 2014, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado (SDS) interrompeu o convênio com a Universidade Federal de Pernambuco (UFRPE), que monitorava os tubarões na costa pernambucana.

De lá para cá, a UFRPE continuou fazendo pesquisas, mas o monitoramento deixou de ser realizado. Após o episódio com André, que foi submetido a uma cirurgia vascular na perna esquerda no Hospital da Restauração, mas permanece em estado grave, a lacuna das pesquisas voltou a ser comentada. 

Em 2004, o então ministro de Ciências e Meio ambiente, Eduardo Campos, e o então reitor da UFRPE,  Valmar Côrrea, assinaram o projeto Protuba. Na mesma época, também foi criado o Cemit (Comitê de Estudos e Monitoramento de Incidentes com Tubarões), em parceria com o professor Fábio Hazin, da UFRPE, morto em 2021, vítima da covid-19.

O Protuba veio na esteira como o projeto que agregaria conhecimento sobre os incidentes com tubarões e às ações mitigadoras de educação ambiental, pesquisas e orientações que pudessem evitar novos ataques a humanos.

Em entrevista à Rádio Jornal nesta terça-feira (22), o engenheiro de Pesca e pesquisador da UFRPE, Jonas Rodrigues, comentou a suspensão da pesquisa e a necessidade de retomá-la. "Com o fim do monitoramento, hoje nós temos pouca ideia, a não ser pelo trabalho da UFRPE, de como está a situação. Hoje não se sabe, efetivamente, como está o estoque de tubarões ou a área usada por tubarões da região", afirma. 

Segundo o pesquisador, não há sinalização do novo governo (Raquel Lyra) para retomar o trabalho de monitoramento da costa pernambucana. Rodrigues afirma que, apesar disso, o acervo que coletado ao longo de dez anos sobre os tubarões, ainda pode ser utilizado. 

ESTUÁRIOS 

O pesquisador Jonas Rodrigues recorda que se tem registro de ataque de tubarão na região da Praia dos Milagres, em Olinda, desde 2006. "Foram registrados quatro ataques naquela praia, que fica próxima à desembocadora do Rio Capibaribe e do Porto do Recife. Essa mistura de água doce com salgada, propicia um ambiente favorável para que algumas espécies apareçam para se reprouzir", explica. A paia não tem muita frequência de banhistas nem de pessoas pratiando esportes náuticos. 

Rodrigues lembra que uma das 10 recomendações do Cmit aos banhistas e praticantes de esportes é evitar tomar banho em áreas próximas a desembocadura de rios. A espécie cabça chata, por exemplo, utiliza esse tipo de área para reprodução. 

TUBARÃO EM PERNAMBUCO

Caso se confirme que o surfista foi mordido, de fato, por um tubarão, esta se torna a 75ª ocorrência com o animal no litoral de Pernambuco desde 1992, segundo dados do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit).

Só na Praia Del Chifre, que fica ao lado da dos Milagres, houve quatro vítimas, das quais três sobreviveram e uma não resistiu. Nesta praia, o último caso aconteceu em 31 de março de 2015, quando um sufista foi atingido na coxa esquerda.

O surf, bodyboarding e outros esportes similares são proibidos em trechos considerados de maior risco no litoral pernambucano desde 1999 - desde a Praia Del Chifre, em Olinda, até a Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho.

Por nota, o Cemit reiterou a proibição da prática de surf no local da ocorrência e afirmou que está analisando o caso desta segunda.

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