A chefe do Gabinete do Centro do Recife, Ana Paula Vilaça, comemorou a notícia de que a região deve receber um “boom” de novos edifícios, como revelado por estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) publicado pelo JC. Por outro lado, a pasta ainda não conseguiu engrenar a restauração de prédios hoje abandonados - uma das principais críticas da pesquisa.
A universitária Alice Albuquerque, sob coordenação da doutora em urbanismo Iana Ludermir Bernardino, por meio do Grupo de Estudos sobre o Mercado Fundiário e Imobiliário (GEMFI), descobriu que havia 73 empreendimentos em fase de tramitação para serem construídos na região até agosto de 2022 - a maioria condomínios residenciais.
Isso traria, segundo elas, mais de 16 mil moradores para os bairros do Recife, Santo Antônio, São José, Boa Vista e Soledade, que, em duas décadas, tiveram um declínio habitacional e abandono de prédios. O resultado do esvaziamento provocou inúmeros problemas, desde falta de zeladoria em áreas públicas, até aumento na violência e fechamento de parte do comércio.
Em entrevista ao JC, Ana Paula Vilaça pontuou que os dados expostos pela UFPE não foram uma surpresa, porque já vinha “observando um desejo e sentimento de otimismo em relação ao Centro” por investidores e que “percebeu um aumento da demanda desde o ano passado”.
“Ficamos muito felizes, porque tudo o que queremos é ocupar o Centro - claro, de forma ordenada, controlada, mas queremos trazer as pessoas de volta. Saber que tem muitos projetos em licenciamento significa que estamos no caminho certo”, disse.
O Recentro surgiu, em dezembro de 2021, justamente com o intuito de facilitar investimentos da área central do Recife - prioritariamente nos bairros do Recife, São José e Santo Antônio. Assim, presta assessoria para reduzir os trâmites pelos quais os empresários precisam passar para voltar ao Centro.
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Nessa esteira, concedeu incentivos fiscais com a isenção parcial e total de impostos municipais para atrair investimentos privados e estimular a chegada de novas moradias.
Uma das críticas de Alice e Iana foi, justamente, a inação do poder público em tornar mais atrativo requalificar imóveis já construídos - já que o “cemitério” de prédios no Centro permanece presente, sem uma reação imediata, enquanto novos edifícios já tem sido construídos.
Sobre isso, a chefe do Gabinete comentou que a própria Prefeitura está buscando, junto ao governo federal, "dar um benefício maior a quem faz o retrofit numa área histórica", através do Minha Casa, Minha Vida retrofit - uma das reembalagens do programa retomado neste ano pelo presidente Lula (PT).
Confira a entrevista completa com Ana Paula Vilaça:
JC: Como o Gabinete recebeu a notícia sobre o “boom” de novos empreendimentos no Centro? Foi uma surpresa?
Ana Paula Vilaça: A gente vem observando esse “boom” pelo desejo e sentimento de otimismo em relação ao Centro. Atendemos a investidores junto com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e eles têm se surpreendido com o ambiente favorável do Centro. Recentemente, tivemos dois restaurantes inaugurados: o Frege e o Moendo na Lage, que são sucessos, com fila de espera no final de semana.
Temos tido o feedback de pessoas que voltaram a acreditar no Centro, nos procurando para entender os incentivos fiscais e saber quais projetos a Prefeitura está planejando. Ficamos muito felizes, porque tudo o que queremos é ocupar o Centro - claro, de forma ordenada, controlada, mas trazer as pessoas de volta. Saber que tem muitos projetos em licenciamento significa que estamos no caminho certo.
JC: A que a senhora atribui essa retomada?
Ana Paula Vilaça: O olhar de ser uma área estratégica e prioritária da Prefeitura dá confiança para o investidor. Agora, ele tem um órgão que o orienta e o ajuda (o Recentro) com toda a questão burocrática, de insegurança jurídica, licenciar um projeto, dificuldades com o Iphan. A gente acredita que essa oferta de diferentes faixas de renda, desde a habitação com interesse social até o mercado imobiliário, contribui para a diversidade no Centro, que é o que a gente deseja.
Com isso, vai surgir o hotel, o mercadinho, a farmácia, o restaurante e a gente volta a ter um polo de entretenimento, lazer e turístico na região central. Estamos na área estratégica da cidade, com infraestrutura, saneamento, abastecimento, escola, universidade, serviços de saúde, facilidade de chegar na Zona Norte e Zona Sul, então é um movimento que acredito que, em breve, vai ter oferta e demanda de moradia.
JC: Mas uma das críticas do estudo é que ele prevê, justamente, que um público restrito terá acesso a esses novos empreendimentos, que serão voltados para a classe média. Como a Prefeitura pretende, então, garantir o uso diversificado no entorno dele?
Ana Paula Vilaça: Quando temos um empreendimento acontecendo na região, temos o olhar de ver como é o entorno, [em termos] de calçada, acessibilidade, iluminação. Sabemos que o Hotel Marina vai gerar um fluxo de turistas e visitantes indo até o Mercado São José e o Marco Zero, porque essas pessoas vão estar circulando. Então, já temos estudos e planos para absorver essa demanda de infraestrutura que isso gera. Eles não vão acontecer ao mesmo tempo, mas estamos preparados, sim, para recebê-los e que convivam de forma harmônica entre si.
Temos casos de grandes condomínios de luxo no Espinheiro, Casa Forte, que consomem o comércio local. Acreditamos que essa demanda vai ser gerada sim. As pessoas vão poder morar e trabalhar perto, que é o desejo de todo mundo. Tem gente que mora em Jaboatão, Abreu e Lima, e demora 2h no deslocamento para vir até o Centro, mas vai ter a possibilidade de morar nas proximidades.
JC: O Plano Diretor do Recife de 2020, estabeleceu que a promoção de moradia no Centro fosse priorizada para “trabalhadoras e trabalhadores das áreas centrais, famílias que moram em condições precárias em tais regiões e população em situação de rua”. Pela iniciativa privada, ocorre o oposto disso. Como a gestão pretende garantir, então, a execução da lei?
Ana Paula Vilaça: A Parceria Público Privada (PPP) de locação social (onde a Prefeitura vai subsidiar parte do valor do aluguel para a população em vulnerabilidade) está em fase avançada, estamos definindo o modelo econômico e financeiro. A ideia é ser um condomínio em um imóvel já existente. Estamos dialogando com Sinduscon e Ademi para despertar o interesse dos privados para realizar habitação para diversas classes de renda e recuperar os imóveis do centro.
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Também estamos vendo linhas de financiamento. O MCMV retrofit vem justamente com essa pegada: dar um benefício maior a quem faz o retrofit numa área histórica, porque óbvio que construir um habitacional na periferia, num terreno vazio, vai ser mais barato do que recuperar um imovel. [...] O próprio prefeito encampou essa proposta, e a secretaria de habitação também já está em discussão com a Caixa para que possamos avançar e viabilizar esses projetos.
JC: Quais serão os próximos passos do Recentro?
Ana Paula Vilaça: A gente vem trabalhando projetos habitacionais, acompanhando o financiamento do Yolo, um coliving no Cais do Apolo. Obras de infraestrutura que estão acontecendo na Avenida Sul, Rua Imperial e Rua da Concórdia. Vamos anunciar em breve um empreendimento em Santo Antônio que vai gerar cerca de 2 mil empregos. Estamos retomando a articulação com a Polícia Militar, Civil e guarda para termos um enfrentamento da violência.
A Emlurb está tratando o embutimento da fiação no Bairro do Recife, que está com projeto 100% aprovado. Estamos com plano de mobilidade pro centro, que vai facilitar os acessos e redistribuir linhas de ônibus. Temos projetos de reforma do Mercado de São José e do Camelódromo. Faremos uma rota histórico cultural no Centro, valorizando os principais atrativos turísticos.
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