O Sítio Histórico de São Bento, em Abreu e Lima, faz parte dos importantes territórios que contam a história de Pernambuco. O local abriga a Igreja de São Bento, erguida em 1660, além da Fazenda de São Bento e o Engenho Jaguaribe, um dos primeiros instalados no Litoral Norte de Pernambuco. No terreno histórico também foi construída uma fábrica, onde se produzia o açúcar extraído da cana.
Apesar da rica importância patrimonial e histórica para o estado, o local encontra-se com pichações, além de riscos estruturais. A estrada que leva ao Sítio Histórico também carece de revitalização.
As denúncias de abandono por parte dos moradores fez com que uma audiência na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) discutisse o tombamento do local. A audiência foi realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, no dia 26 de junho.
Estiveram presentes os representantes dos governos municipal, estadual e federal e da sociedade civil, que defenderam a preservação do local. A discussão sobre o Sítio envolve aspectos históricos, de resgate da memória; ecológicos, de preservação natural; e econômicos, de disputa territorial.
A professora do Departamento de Arqueologia da UFPE, Cláudia Oliveira, apresentou informações sobre a área com potencial para ser um museu a céu aberto. A proposta da professora é a criação de um parque estadual para integração e preservação de aspectos ecológicos e culturais da área.
"Lá a gente encontra as ruínas da Fazenda de São Bento, muito rica em história; as ruínas do Engenho Jaguaribe, um dos primeiros instalados no Litoral Norte de Pernambuco; e também o Forno da Cal, uma estrutura que fabricava o produto para a lavoura de cana-de-açúcar e poderia ser transformada em museu sobre a tecnologia da produção”, destacou.
O secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Natalício Alves, que também participou da reunião, informou que já existem licitações abertas para o escoramento das ruínas da Igreja e para a reestruturação da estrada que dá acesso ao local.
“Não podemos perder mais nenhum tijolo dessa construção. Ali está a história de Abreu e Lima, de Pernambuco e do Brasil”, comentou o gestor.
ENTRAVES PARA O TOMBAMENTO
O assessor jurídico da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Augusto Eugênio, informou que a proposta de tombamento deve ser encaminhada ao órgão.
“Há uma solicitação a ser apresentada pelo presidente do Instituto, e a Fundarpe aguarda esta proposta para abrir o processo. Já passamos todas as nossas observações e estamos aguardando que se movimentem para isso. Processo de tombamento não tem prazo, ele é muito elástico”, afirmou.
A senadora Teresa Leitão (PT-PE) alertou para que o espaço seja visto com atenção por parte do poder público, já que é uma área de interesse imobiliário.
“É uma área privilegiada, por isso está sob conflito, com construções irregulares e especulação imobiliária. O poder público precisa ter um olhar muito forte ali para preservar o nosso passado histórico”, pontuou.
Entre os entraves relacionados ao processo de tombamento é a identificação da propriedade do terreno. Segundo o Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, o deputado Mário Ricardo (Republicanos), a busca pelos proprietários do terreno está em curso.
“O Ministério Público está fazendo esse levantamento para saber quem é o proprietário das terras. Vai fazer uma pesquisa nos cartórios de Abreu e Lima, Itamaracá, e Igarassu para descobrir. Independentemente de a quem pertença, o fato é que existem as ruínas, que têm importância histórica e precisam do tombamento, que vamos iniciar”, comunicou o parlamentar.
Também estiveram presentes na Audiência Pública representantes da Secretaria de Turismo de Pernambuco, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Câmara Municipal de Abreu e Lima.
MASSACRE NA DITADURA
O Sítio Histórico de São Bento foi testemunha do episódio conhecido como massacre da Granja São Bento, ocorrido no período da Ditadura Militar. O Monsenhor Manoel Marques de Miranda, pároco da Igreja de São José, também em Abreu e Lima, relembrou o episódio que ocorreu em 1973.
"O caso, conhecido como massacre da Granja São Bento, envolveu o assassinato de seis integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) em Pernambuco, que lutavam contra a Ditadura Militar. Deveria ser construído um monumento pelos que foram mortos ali. O povo que não conhece a própria história está condenado a repeti-la”, sugeriu.