Prédio de luxo abandonado em orla do Grande Recife volta à mira da Justiça
Edifício Tsar, à beira-mar da Praia de Piedade, definha sem solução há 30 anos
A Justiça de Pernambuco determinou que a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes atualize o laudo da estrutura do Edifício Tsar, localizado na orla de Piedade. Abandonado há 30 anos, o imóvel foi apontado com grau de risco 4 (muito alto) pela Defesa Civil do município em 2013 e, novamente, em 2019.
O novo pedido foi feito pela 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Jaboatão dos Guararapes no dia 1º de setembro, dentro de um processo movido pela Prefeitura. A gestão tem um prazo de 15 dias para se manifestar, mas disse ao JC que ainda não foi notificada pela Justiça.
O processo foi aberto pela gestão em março de 2020 pedindo para que o Tsar fosse demolido ou reabilitado pelos responsáveis - o proprietário Rômulo da Rocha Cavalcante, a construtora Tesla e outras partes.
Isso porque, de acordo com o laudo assinado pelo engenheiro civil Victor Varela, a estrutura apresentava corrosão contínua nas armaduras; o que, nas palavras dele, "tende a culminar no colapso da estrutura" com o passar do tempo.
À época, o imóvel estava sendo utilizado para guardar materiais de trabalhadores informais que atuavam na Praia de Piedade. Então, o engenheiro determinou sua desocupação imediata.
Por nota, a Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes informou que "irá realizar nova vistoria como solicitado, embora já possa reiterar a necessidade de demolição ou reabilitação estrutural, esta última se houver análise estrutural feita por engenheiro calculista do proprietário que comprove tal possibilidade".
"A deterioração do imóvel vem sendo acompanhada pelo órgão e continua crescendo ao longo do tempo. Contudo, ensaios técnicos estruturais que podem indicar possibilidade de recuperação não são de competência da Defesa Civil", disse a gestão.
O INACABADO EDIFÍCIO TSAR
O Edifício Tsar nunca chegou a ser ocupado regularmente. Suas obras começaram 1993 por meio da modalidade condomínio fechado, quando um grupo de pessoas se unem e pagam para que uma empresa o construa - nesse caso, a Tesla.
A ideia era fazer 10 apartamentos, com 314 m² cada, mas o serviço foi interrompido após brigas entre as famílias, segundo o sócio da construtora, Rogério Castro e Silva. “Parou porque houve uma briga entre os condôminos. A obra é toda regularizada. O que parou foi falta de dinheiro”, reiterou.
Rogério nega que haja risco de desabamento no Tsar, com base no laudo feito pela GHD de Andrade Engenharia, empresa contratada pela Tesla para uma nova avaliação. “O laudo da Defesa Civil, inclusive, foi visual”, afirmou.
O proprietário da Tesla disse que, agora, os donos do imóvel tentam vendê-lo.
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ABAIXO-ASSINADO PEDE DEMOLIÇÃO
Há dois anos, a moradora Andréa Almeida, do bairro de Piedade, fez um abaixo-assinado pedindo pela demolição do prédio. Em texto, ela relatou os diversos problemas que a construção tem trazido para a comunidade, desde o medo do desmoronamento até riscos à saúde.
"A superestrutura abandonada tem gerado a proliferação de mato, entulho e pragas decorrentes destes, como aranhas, escorpião, cobras, ratos e insetos no geral, inclusive a proliferação de mosquitos como o causador da Dengue e da Chikungunya”, disse.
Ainda, afirmou que o local é utilizado para a prática de crimes. "A localidade se transformou em ponto de tráfico de drogas ilícitas com a recorrente concentração de marginais que, sobretudo, invadem o terreno para furtar materiais metálicos da obra inacabada. Como o edifício é alto, ainda conseguem se esconder e observar a rotina dos moradores de prédios vizinhos, causando um eterno estado de pânico, medo e insegurança.”
A vizinhança teme que a história se repita. O Tsar fica no mesmo quarteirão onde era o Edifício Areia Branca, que desabou em 2004, deixando quatro mortos.