Praias urbanas: sem banheiros na orla, frequentadores em Jaboatão vivem de improvisos
Orla de Jaboatão dos Guararapes acumula problemas e é atingida pela falta de infraestrutura adequada que atenda às necessidades da população

Piedade, Candeias e Barra de Jangada. Juntas, as três praias de Jaboatão dos Guararapes emolduram o município com a extensa faixa de areia e o mar de águas tranquilas que atraem visitantes diariamente.
Os trechos ainda são cenário para outro tipo de beleza natural: periodicamente, visitantes assistem ao nascimento e desova de tartarugas marinhas. Jaboatão é nascedouro de quatro das sete espécies de todo o mundo.
Apesar disso, a orla do município também acumula problemas e é atingida pela falta de infraestrutura adequada que atenda às necessidades da população. Nos mais de 8 quilômetros de extensão, não há banheiros públicos ou chuveiros.

Comerciante em Barra de Jangada, Ronildo de Souza fala sobre a sensação de abandono na praia. “Eu sinto falta de banheiro químico, chuveiro e limpeza aqui na orla de Barra de Jangada, que é praticamente abandonada. Às vezes eu mando os clientes irem para o banheiro na minha casa porque aqui não tem”.
Às vezes eu mando os clientes irem para o banheiro na minha casa porque aqui não temRonildo de Souza, comerciante em Barra de Jangada
O problema também é relatado pelo professor David Bahr, que frequenta a praia de Candeias. “A infraestrutura não suporta. Falta banheiro, então as pessoas muitas vezes fazem as necessidades na água”.
Ataques de tubarão
Conhecidas pelos ataques de tubarão, as praias jaboatonenses convivem com um estigma que afasta o público e os comerciantes.
Marli Alves de Santana trabalha na praia de Piedade há 35 anos e conta que a falta de investimento do poder público prejudica os empreendedores. “Antigamente, eu colocava 80 mesas e hoje estou colocando 10. A praia de Piedade acabou e nenhum órgão público olha para ela. “Como a gente vai trabalhar em uma praia interditada?”, questiona.
Ela lamenta a falta de chuveiros e banheiros que possam dar suporte para os frequentadores e incentivar que eles circulem pela faixa de areia. “Eu improviso um chuveiro, é tudo improvisado aqui”, diz.
De acordo com o biólogo Leandro Alberto, a incidência de tubarões acontece principalmente em frente à Igrejinha de Piedade porque existe um canal possibilitando que esses animais fiquem na região. Ele afirma que já foram contabilizados 23 ataques no local e 24 em Boa Viagem.
A orientação para a população é se atentar às regulamentações do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) e das autoridades e obedecer às sinalizações de placas.
“A carne humana não é um atrativo para esse animal, ele se alimenta principalmente de tartarugas marinhas e peixes”, explica Leandro.
A tenente Marina Barros, chefe da seção de instrução e estatística do Corpo de Bombeiros, explica quais são os procedimentos em caso de insistência do banhista em entrar no mar em trecho em que o banho é proibido.
“A gente solicita e orienta o banhista que se retire do local para preservar a sua integridade física. Em caso de insistência, a gente pede apoio a órgãos de segurança, como as Guardas Municipais ou a Polícia Militar”, afirma.
Engorda da praia
Um dos projetos de mais destaque na orla de Jaboatão dos Guararapes é a engorda da praia.
Núbia Chaves é geóloga da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e foi responsável pelo projeto de engorda em Jaboatão. Ela destaca que um dos problemas foi que os prédios começaram a ser construídos “em cima da areia” e em 2010, um pulso erosivo atingiu o município.
A geóloga também conta que as construções avançaram sem levar em conta os períodos em que a maré estivesse mais cheia. “É o ciclo natural do oceano. Vai depender muito do vento, dos deságues de água, das formações de cadeias de montanha e da destruição de ilhas”, explica Núbia.

Ela relata como funcionou o processo de monitoramento para os estudos que resultaram no projeto. “Nós íamos em todo período de lua cheia e lua nova monitorar porque é quando a maré tem o maior pico de altura para chegar no continente e nós vemos o quanto ela tirou de areia. A gente estudou cerca de 8,5 quilômetros”, conta.
No Plano de Gestão Integrada da orla de Jaboatão, a equipe de pesquisa destaca: "No futuro, com as mudanças climáticas e a elevação do nível dos oceanos, os moradores do litoral enfrentarão mais problemas com a erosão marinha. O mais certo é manter uma faixa de segurança, de não edificação. No entanto, o uso sustentável é possível, caso haja a gestão adequada e o respeito aos limites naturais da zona costeira".
Para o biólogo Leandro Alberto, o processo de sedimentação e ampliação da faixa de areia tem benefícios e desvantagens. De acordo com ele, um dos principais benefícios é a possibilidade de oferecer a visitantes e comerciantes uma área maior de lazer. Já as desvantagens são que “o processo é temporário e paliativo e que os maquinários colocados causam um impacto muito grande”, explica.
Projetos e requalificação
No ano de 2024, a orla de Jaboatão dos Guararapes recebeu o Espaço Vida Marinha. Idealizado pela prefeitura, o equipamento é um centro de educação ambiental e recebe o público com entrada gratuita.
“O objetivo principal é trazer para a população o conhecimento sobre os ecossistemas marinhos, quanto à necessidade de sermos um local de desova e nascimento de tartarugas marinhas e também conscientizar a população do uso adequado desse ambiente que é tão atraente para todos”, explica Renata Félix, uma das coordenadoras do Espaço.
De acordo com ela, os visitantes também têm acesso a informações sobre como evitar afogamentos na região e como pode ser a convivência com tubarões, para que novos incidentes não aconteçam.

Além do espaço, a orla de Jaboatão está recebendo obras de requalificação. O secretário municipal Daniel Pessoa conta que o projeto está dividido em quatro etapas: a primeira foi entregue à população, e as outras devem ser concluídas até o segundo semestre deste ano.
De acordo com ele, estão previstos serviços de:
- Drenagem
- Pavimentação
- Academias
- Ciclofaixas
- Construção de espaços públicos de convivência
- Banheiros

Demanda recorrente - e antiga -, a construção de banheiros deve se tornar uma realidade em breve. “Não havia banheiros, mas agora a realidade é outra. Já foram adquiridas todas as licenças necessárias e o início das obras estão previstas para o primeiro semestre”, conta.
O secretário afirma que serão dez banheiros em toda a extensão da orla e que as licenças garantem que não vai haver nenhum problema com o meio ambiente.
Ainda de acordo com Daniel Pessoa, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes está fiscalizando as áreas em que o esgotamento sanitário está atingindo o mar - outra reclamação frequente dos visitantes.
“Já foram tomadas medidas que estão em execução. Em uma das ruas que estava com problema de drenagem, existe uma obra em execução e no final de março está sanado o problema. Além disso, uma empresa responsável por causar isso foi multada em R$ 500 mil”, pontua.
O investimento da gestão se estende à segurança. “As ações preventivas têm sido feitas, como iluminação pública e a circulação de equipes da Guarda Municipal, que colabora com esse papel que é do estado. Também foi autorizada a instalação de 120 câmeras para fazer o videomonitoramento em toda a orla”, finaliza.
Às vezes eu mando os clientes irem para o banheiro na minha casa porque aqui não tem<br><br>
Ronildo de Souza, comerciante em Barra de Jangada