Giro Metropolitano: ex-prefeitos destacam desafios da mobilidade na RMR e soluções para áreas limítrofes
João Paulo e Professor Lupércio discutiram questões de mobilidade, ações de suas gestões em Recife e Olinda, além de soluções para áreas limítrofes

O terceiro episódio do videocast Giro Metropolitano, que foi ao ar neste sábado (8), na Rádio Jornal e nas plataformas digitais do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, trouxe para o centro do debate desafios da Região Metropolitana do Recife (RMR), como a mobilidade urbana e soluções para áreas limítrofes. Para discutir soluções e avanços, os ex-prefeitos João Paulo e Professor Lupércio, que tiveram mandatos, respectivamente, nas cidades de Recife e Olinda, compartilharam experiências e apontaram caminhos para uma gestão mais integrada entre os municípios.
Hoje deputado estadual pelo PT, João Paulo foi prefeito do Recife entre os anos de 2001 e 2008. Já Professor Lupércio, foi prefeito de Olinda entre os anos de 2017 e 2024.
A necessidade de uma gestão metropolitana
João Paulo destacou que a mobilidade não pode ser tratada isoladamente por cada cidade e que a gestão metropolitana deve ser colocada como prioridade entre os prefeitos da RMR, na intenção de buscar parcerias, citando seu caso à frente da prefeitura do Recife, quando fez parcerias com o então governador Jarbas Vasconcelos, que era seu adversário político, à época.
"Governar bem uma cidade ou a RMR exige ter uma visão que extrapole os limites municipais. Quando fui prefeito, sempre busquei parcerias, mesmo com adversários políticos, para minimizar os impactos da precariedade do transporte coletivo", afirmou.
"É preciso coragem política, é preciso ação e é preciso que cada prefeito não pense só na sua cidadezinha. Ele tem que pensar enquanto região metropolitana", complementou.
O ex-prefeito do Recife citou o exemplo de sua relação Jarbas Vasconcelos, enfatizando que, mesmo sendo adversários políticos, trabalharam juntos para solucionar problemas como o transporte clandestino, que ameaçava a estrutura do sistema de ônibus.
Já Lupércio, que concluiu recentemente seu segundo mandato à frente da Prefeitura de Olinda, ressaltou que o gestor precisa estar próximo da população para compreender suas demandas.
"É preciso sentir o cheiro do povo, ouvir as necessidades e agir. Em Olinda, fizemos investimentos significativos em recapeamento, iluminação e drenagem, buscando melhorar a mobilidade e a qualidade de vida. Projetos como o Novo Caminho, que liga a Rua do Sol ao limite com o Janga, são exemplos de ações concretas. Além disso, investimos na modernização da Avenida Presidente Kennedy, um eixo essencial para quem transita entre Olinda e Recife", explicou.
Integração e participação federal
Durante o programa, os ex-prefeitos ressaltaram a importância de uma gestão metropolitana coordenada, com a participação ativa do Governo do Estado e também do Governo Federal, para respaldar as discussões entre os municípios.
João Paulo destacou que a falta de planejamento integrado afeta diretamente o trabalhador que transita entre os municípios da RMR.
"A população transita diariamente entre os municípios. O trabalhador que mora em Abreu e Lima ou Itapissuma e precisa chegar ao Recife não pode ser prejudicado por falta de planejamento integrado", pontuou João Paulo.
O deputado argumentou que a responsabilidade de coordenar essa integração deve partir do Estado e defendeu uma reformulação do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano, para que municípios menores tenham maior participação nas decisões.
Os ex-prefeitos também defenderam uma reorganização desse conselho para garantir uma distribuição mais equilibrada do poder de decisão entre os municípios da RMR. De acordo com João Paulo, atualmente o o Estado detém 40% da participação no Conselho, enquanto Recife tem 17%, representando 57% do Conselho, enquanto o restante da RMR se divide nos outros 43%. O deputado defende a redução da participação de Estado e da prefeitura do Recife, caindo para 30% e 12%, respectivamente.
"Vai haver uma necessidade maior, até de uma articulação política para definir os planos, os prefeitos e as outras cidades vão se sentir motivados para isso. [...] Essa dificuldade de só haver uma relação do prefeito do Recife se o governador for um aliado dele, é muito ruim, porque você perde a continuidade de um projeto metropolitano. Então você não vai ter como resolver, vamos supor, o problema do transporte, o problema da saúde", analisou.
João Paulo lembrou de problemas na execução de obras por não conseguir diálogo com outras prefeituras.
"Eu tive problemas sérios com Jaboatão porque nós fazíamos a limpeza dos canais, aí esbarrava em Jaboatão, que não limpava, aí a água chegava, não tinha por onde escorrer. Então eu acho que essa é a necessidade da retomada dessa discussão coordenada pelo Estado", afirmou.
Lupércio também destacou que Olinda, por ser uma cidade com grande fluxo de pessoas, precisa de mais apoio na integração metropolitana.
Soluções para os desafios estruturais
A falta de investimentos em infraestrutura também foi um ponto abordado. Lupércio ressaltou que a governadora Raquel Lyra tem avançado em algumas pautas, como a requalificação da Avenida Presidente Kennedy e o investimento em geomantas para prevenção de deslizamentos nos morros.
"Olinda tem quase 50% de sua área composta por morros. Quando deixamos a prefeitura, conseguimos avançar com investimentos em geomantas e solo grampeado, e a atual gestão está dando continuidade", disse.
João Paulo, por sua vez, criticou a descontinuidade de programas essenciais, como o monitoramento de morros em Recife.
"Nos anos 2000, conseguimos reduzir significativamente as mortes em áreas de risco com um trabalho preventivo. Hoje, vemos o abandono desse serviço e o aumento das vítimas nas chuvas. Falta coragem política para priorizar o que realmente importa: a vida da população", declarou.
Ele lembrou que, quando foi prefeito, Recife contava com um sistema eficiente de limpeza de canais e drenagem para evitar alagamentos, mas que esse trabalho foi reduzido nos últimos anos, prejudicando a população mais vulnerável.
Desafios políticos e futuro da gestão metropolitana
Outro ponto levantado foi a influência da disputa política na execução de projetos coletivos. João Paulo criticou a existência de disputas eleitorais e o risco das disputas tomarem à frente das necessidades da população.
"Não podemos colocar interesses eleitorais acima das necessidades da população. Quando fui prefeito, fizemos parcerias com o governo do Estado, mesmo sendo de partidos opostos, porque entendíamos que o bem-estar das pessoas vinha primeiro", disse João Paulo. Ele defendeu que a governadora convoque uma reunião emergencial para redefinir as diretrizes da gestão metropolitana.
A discussão também abordou a necessidade de revisão dos limites municipais e a integração de serviços essenciais.
"Há bairros em que os moradores nem sabem a qual cidade pertencem e acabam sem assistência. Essa é uma questão urgente que precisa ser debatida no Conselho Metropolitano", destacou Lupércio. Ele citou regiões como Mirueira e Águas Compridas, onde a indefinição dos limites municipais compromete o acesso a serviços básicos, como saneamento e saúde.