A ascensão dos partidos de direita e extrema direita, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, então filiado ao PSL, em 2018, deverá passar por uma prova de fogo nas eleições municipais de 2020, que vai muito além do discurso ideológico pautado pelo combate à corrupção e o antipetismo. A crise no sistema de saúde em todo o Brasil, provocada da pandemia do novo coronavírus (covid-19), e as consequências econômicas por trás disso, serão um roteiro inevitável para os candidatos a prefeito e vereadores.
O tom nacionalizado com viés conservador entre aqueles que seguem a linha do presidente da República devem ser mantidos na disputa municipal. Mas, no caso específico do PSL, as rusgas com Bolsonaro e seu clã, que culminaram no rompimento com a legenda, deixaram um cenário incerto quanto ao seu desempenho nestas eleições. Mesmo ainda sendo a sigla com o maior número de bolsonaristas, a bancada federal passou de 52 para 41 parlamentares. “Esse vai ser o primeiro teste do PSL pós-processo eleitoral em 2018. Ao mesmo tempo que ele serviu a Bolsonaro, ele também se aproveitou disso, foi uma troca. Por um momento isso funcionou, mas o partido nunca construiu de forma mais orgânica esse crescimento”, avalia a cientista política Priscila Lapa.
Ainda segundo Priscila, a maior parte dos quadros que associaram sua imagem ao PSL estavam focados na agenda de combate à corrupção, o antipetismo, a falta de segurança pública. “De todas essas pautas, diante do contexto que vivemos agora, a agenda de 2020 será a recuperação econômica e quem conseguiu conduzir melhor as ações durante a crise. Provavelmente o PSL tem pouca identificação com essa nova agenda, porque como ele tem poucos cargos majoritários, são os governadores e prefeitos, que estão à frente da condução desse processo todo da crise, é que devem pautar um pouco as eleições”, afirma a cientista política.
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O presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar, tem evitado falar sobre as eleições neste momento de enfrentamento a covid-19. A reportagem tentou entrar em contato com Bivar, mas não teve resposta. “Nós entendemos que tem que haver o respeito a vida, neste momento nós temos que pensar em seguir as recomendações dos órgãos de saúde. Não estamos ainda visualizando esse cenário, muito embora as eleições sejam em outubro, essa será uma segunda pauta”, declara o advogado do PSL, Delmiro Gouveia em entrevista ao JC.
De acordo com Gouveia, o partido tem em torno de 70 a 80 diretórios municipais em Pernambuco com objetivo de criar chapas competitivas tanto no campo majoritário quanto proporcional. De acordo com dados do PSL estadual, a expectativa é de lançar 20 candidatos a prefeitos e 1.400 candidatos a vereador. “O PSL é um partido coeso, muito embora o presidente tenha escolhido um caminho adverso, nós continuamos mostrando nossa força e todas as pautas que forem necessárias para que o Brasil cresça, o PSL estará junto”, completa.
Para o cientista político Arthur Leandro, o Partido Socialista Liberal, é associado à redução do tamanho do Estado (via privatizações) e defesa da propriedade privada, colocando-se ideologicamente no campo do liberalismo. ”Considerando a realidade do federalismo brasileiro, e a cartela de atribuições constitucionais dos municípios - que precisam de muitos recursos de transferências da cobrança direta de tributos, para poder entregar um volume considerável de serviços públicos - o PSL deve organizar suas propostas localmente, a partir dos acordos realizados com os partidos que conseguirem trazer para as coligações das suas candidaturas majoritárias”, analisa o especialista.
É importante frisar que no Brasil, o voto tem uma característica personalista. Ou seja, as pessoas tendem a votar na persona e não no partido político a qual ela pertence. As bandeiras levantadas pelos candidatos, não necessariamente estão ligadas a história e tradição de suas legendas, mesmo que haja um consenso na identificação dos campos ideológicos. “Os candidatos de Bolsonaro em 2020, não necessariamente serão os candidatos do PSL, dado que o presidente da República nunca foi um homem de partido, mas um político com retórica específica, destinada a uma parcela minoritária do eleitorado, e ao interesse de algumas corporações, como militares e policiais”, explica o Arthur Leandro.
O presidente Bolsonaro, que já foi filiado a oito partidos - PDC, PPR, PRB , PTB, PFL PP, PSC, PSL -, agora segue tentando viabilizar uma sigla própria, o Aliança Pelo Brasil. “Nos últimos anos, estamos vendo a tentativa do eleitor de fazer escolhas menos intermediadas, ele valoriza menos o papel dos partidos. No Brasil, a gente alinha esse traço de novas mediações, então a pessoa acha que pode falar diretamente com o seu candidato, e toda a crise de credibilidade dos partidos mais estabelecidos”, justifica Priscila Lapa.
Partidos de Aluguel
Sem conseguir ratificar as assinaturas necessárias para validar sua fundação, a tempo do prazo calendário estipulado na Justiça Eleitoral (4 de abril), o Aliança ficou de fora das eleições municipais deste ano. O que não foi empecilho para que bolsonaristas pudessem se filiar a outros partidos para disputarem o pleito ou ser uma liderança em apoio aos candidatos aliados.
Os filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, se filiaram ao partido Republicanos e devem apoiar a reeleição do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Em Pernambuco, a escolha dos dirigentes do Aliança no estado, foi o Partido Social Cristão (PSC).
“Obedecendo a orientação do nosso presidente Jair Bolsonaro, cada estado foi tratado individualmente a nível de partido. Em Pernambuco nós fizemos um levantamento, e chegamos a conclusão de levarmos ao PSC”, explica o pré-candidato a vereador do Recife, e coordenador do Aliança, Coronel Meira. Entre as outras opções trabalhadas pelos representantes do presidente da República, estavam no radar o Patriotas e o PRTB.
Além do Coronel Meira, o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, e outros membros do Aliança como Sandra Queiroz, Sarita Machado, Osvaldo Neto e Silvio Nascimento (que disputará em Caruaru), também ingressaram no PSC.
O cientista político Arthur Leandro explica que partidos abrigarem figuras ou grupos políticos até que suas próprias legendas sejam estruturadas, é uma prática antiga no país. “Os votos da futura legenda abrigada, cujos candidatos precisam estar filiados a um partido para se candidatar, formarão cauda para a legenda abrigante. Num exemplo recente, a Rede Sustentabilidade foi acolhida no seio do PSB enquanto seu registro definitivo era homologado”, afirma.
Para o presidente estadual do PSC, deputado federal André Ferreira, o acolhimento destas lideranças que desejam disputar a eleição, se deu de forma coerente as bandeiras de direita que ambos defendem. “Algumas pessoas ligadas ao movimento de direita, como o Coronel Meira e Gilson Machado, vieram porque o PSC eles se identificam com as bandeiras de direita que nós temos. Então, vamos construir dentro do Estado e na Região Metropolitana, candidaturas que representam especificamente essas bandeiras que defendemos”, afirma. O partido deve lançar mais de 15 candidaturas a prefeito e ampliar o número de vereadores, que hoje tem 55 parlamentares.
Na visão de André Ferreira, dentro desse cenário inesperado por conta da disseminação do novo coronavírus, é preciso ter cuidado sobre a politização desta crise. “Não é o momento de politizar esse debate, mas de nos unirmos para vencermos juntos. É um momento que as pessoas precisam ter segurança no poder público”, destaca.
Mesmo que a eleição não esteja ainda no centro das discussões, para André, as pessoas vão estar atentas ao posicionamento que tem sido firmado agora. “Principalmente dos prefeitos que estão no Executivo, o governo do Estado também. As pessoas estão acompanhando muito de perto as ações que estão sendo tomadas para combater a pandemia, porque elas não querem politizar esse momento”, afirma o parlamentar.
Recife
A presença de Bolsonaro nas eleições municipais nunca foi formalizada, apesar de ser um fator de peso para os candidatos. Segundo o Estadão, o próprio presidente afirmou, no mês passado, que não pretende participar de campanhas ao menos no primeiro turno. No Recife, os pré-candidatos a prefeito que mais se aproximam da linha bolsonarista são o deputado estadual Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB), a delegada Patrícia Domingos (Podemos) e agora o recém filiado ao PSC, o deputado estadual Alberto Feitosa - embora o partido não tenha cravado sua candidatura na Capital.
“É muito difícil fazer o que eu faço na Assembleia Legislativa, assim como Marco Aurélio, Clarissa Tércio e por aí vai. Ninguém mais tem coragem de defender sequer o que o governo federal manda para Pernambuco, ninguém é capaz de citar o que foi mandado”, declara Feitosa. Ao ingressar no PSC, o parlamentar que buscar fortalecer a bancada para ampliar o “leque de discussão na oposição para crescer sob o ponto de vista de ocupação dos cargos públicos”. “Que a gente possa fazer um contraponto para as eleições municipais, quem sabe até ganhar as eleições no Recife, ganhar um segundo mandato em Jaboatão (com Anderson Ferreira, do PL)”, pontua o parlamentar.
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