Ex-ministro

Ao sair do Ministério, Moro disse que Bolsonaro quis interferir politicamente na PF em Pernambuco e no Rio

Sergio Moro desembarcou do Governo Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (24)

Cássio Oliveira
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Cássio Oliveira
Publicado em 24/04/2020 às 13:01 | Atualizado em 28/04/2020 às 12:50
LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
Com ajuda da Interpol, Polícia Federal de Pernambuco prende recifense foragido em Portugal, acusado de homicídio e tráfico de drogas - FOTO: LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM

Durante a coletiva para anunciar o desembarque do governo Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (24), o então ministro da Justiça, Sergio Moro, criticou a interferência política do presidente da República para realizar troca nos comandos da Polícia Federal no Rio de Janeiro e em Pernambuco.

"O problema é que nas conversas com o presidente, havia intenção de trocar também superintendentes. Não só o diretor-geral. No Rio de Janeiro, em Pernambuco, sem que me fosse apresentado uma razão ou uma causa para essas substituições", disse Moro.

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Por meio da assessoria de comunicação, a Superintendência Regional da Polícia Federal em Pernambuco afirmou que não vai se pronunciar sobre as mudanças da PF, nem sobre as declarações de Sergio Moro.

De acordo com Moro, a partir do segundo semestre de 2019 passou a haver uma insistência do presidente na troca do comando da PF. No ano passado, Bolsonaro sugeriu um nome para a superintendência da PF no Rio de Janeiro mas acabou sendo nomeado para o cargo outro delegado, Carlos Henrique de Sousa, indicado pelo ex-diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, com o aval de Moro.

"Não é uma questão do nome. Tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor-feral da PF. O grande problema da troca é uma violação de promessa que foi feita a mim, de carta branca. Não teria causa e seria uma interferência política na PF. Isso geraria um abalo de credibilidade. Não minha, mas minha também, e do governo. Geraria desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito dos problemas de corrupção dos governos anteriores", disse Moro nesta sexta.

A definição do ocupante do posto no Rio, em substituição a Ricardo Saadi, foi tema de um entrevero entre Bolsonaro e Moro e causou desgaste entre o presidente, a cúpula da PF e o próprio ministro. Bolsonaro, que precipitou a saída de Saadi, queria substituí-lo por Alexandre Saraiva, superintendente no Amazonas. A PF não aceitava indicação para o preenchimento dessa vaga.

Após a mudança, a delegada Carla Patricia Cíntia Barros da Cunha assumiu como superintendente da PF em Pernambuco, no lugar se Carlos Henrique Sousa. A portaria foi assinada pelo secretário-executivo da PF, Luiz Pontel.

Hoje, a PF n Rio investiga o senador Flávio Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro, em processo sobre esquema conhecido como 'rachadinha', no qual haveria acerto fraudulento de contratação de assessores sob condição de abrirem mão de parte do salário em favor de quem o contratou.

Já em Pernambuco, a PF apura um suposto esquema de candidaturas laranjas usado nas eleições de 2018 pelo PSL, de Luciano Bivar, partido que elegeu Jair Bolsonaro presidente. Hoje, Bolsonaro não faz mais parte do partido.

Moro pede demissão

A demissão de Moro foi motivada pela decisão de Bolsonaro de trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, indicado para o posto pelo agora ex-ministro.

Moro afirmou que disse para Bolsonaro que não se opunha à troca de comando na PF, desde que o presidente lhe apresentasse uma razão para isso. Segundo ele, Bolsonaro quer "colher" informações dentro da PF, como relatórios de inteligência.

"O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação", declarou.

Sergio Moro ainda comparou a situação com o período em que conduziu os processos da Operação Lava Jato como juiz. "Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?", questionou.

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