Dois personagens foram determinantes para que o presidente Jair Bolsonaro não demitisse, por enquanto, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM).
Esta segunda-feira (6) começou no Palácio do Planalto com o presidente pedindo que fosse formulado o ato de exoneração de Mandetta, acompanhado de uma nota à imprensa ressaltando “os trabalhados à frente da pasta”.
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Mas eis que o primeiro personagem entrou em ação: o general Walter Braga Netto, ministro da Casa Civil. Nesse momento, foi iniciada uma operação para salvar Mandetta da degola.
O ministro, que vem atuando na chefia de um grupo de trabalho interministerial para coordenar as ações do governo no enfrentamento da covid-19, disse ao presidente Bolsonaro que o momento não é para turbulências. Braga Netto mostrou ao presidente Bolsonaro que Mandetta “bem ou mal” vem desempenhando as atividades à frente do Ministério da Saúde e que parte da sociedade está do seu lado.
Bolsonaro nada respondeu e marcou um encontro para três horas depois. No almoço estavam presentes, também, além de Braga Netto, o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo; e o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) – todos fieis escudeiros do presidente da República.
Coube a Braga Netto repetir para o grupo os argumentos que já tinha feito ao presidente e ao general Ramos – a partir da informação de um telefone que ele tinha recebido no início da tarde. E é aqui que entra nossa segunda personagem.
Perto do meio-dia, o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), telefonou para Luiz Eduardo Ramos e advertiu ao articulador político do governo, que o Parlamento não via com bons olhos a demissão de Mandetta “sem um aparente e justificado motivo”.
Até aí, o presidente ainda estava irredutível de se ver livre do auxiliar mais simpático perante a opinião pública, conforme a última pesquisa do Instituto Datafolha.
Pontualmente, às 17h, começava a mais tensa reunião ministerial desde 1º de janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu à Presidência da República.
Jair Bolsonaro disse, textualmente, a Mandetta que considera o ministro um importante profissional, mas que ninguém pode jogar o presidente contra parte da opinião pública.
Mandetta negou, disse que, como militar, sabe respeitar hierarquias, mas que, nesse momento, “é preciso ter uma orientação centralizada”. O ministro, então, insistiu em defender o isolamento social para evitar a disseminação do coronavírus na população.
Duas horas depois, já na sede do Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta disse inspirado no "O Mito da Caverna", de Plantão, que continua à frente da gestão da pasta. O livro do filósofo ateniense aponta que só se sai da caverna pelo conhecimento, o racional e verdade.
Apesar do desfecho do dia, auxiliares próximos de Bolsonaro acreditam que a sua decisão já está tomada, a questão é o advérbio: quando?