Ministro do STF ficou incrédulo com vídeo de Bolsonaro durante reunião

Fontes informaram que a tendência é que o membro da Suprema Corte acate o pedido do ex-juiz e libere o vídeo na íntegra
Douglas Hacknen
Publicado em 20/05/2020 às 22:36
Ministro alegou questões processuais para derrubar a liminar Foto: Foto: José Cruz/ ABr


Incrédulo: essa teria sido a reação do decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, ao assistir o vídeo da reunião ministerial do governo Bolsonaro, realizada em 22 de abril. Fontes ligadas ao jornal O Estado de São Paulo informaram que a tendência é que o membro da Suprema Corte acate o pedido dos advogados do ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, para a divulgação na íntegra do material. 

Moro já solicitou ao decano que o vídeo seja divulgado na íntegra, em nome do interesse público. Celso de Mello havia destacado, em uma decisão do início deste mês, “não haver, nos modelos políticos que consagram a democracia, espaço possível reservado ao mistério”.

A gravação é citada pelo ex-ministro como prova de suas acusações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de uma possível tentativa de interferência política do chefe do Executivo na Polícia Federal (PF). A Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) haviam pedido que o vídeo, caso fosse divulgado, constasse apenas com os trechos que contém as falas do presidente. 

Até o momento, apenas dois trechos do conteúdo da reunião foram divulgados pela AGU. As falas foram transcritas e entregues à PF. No texto, Bolsonaro fala sobre trocas no comando da polícia do Rio de Janeiro e afirma que não pode ser "surpreendido com notícias". Os textos também mostram uma suposta intenção do mandatário de proteger familiares e aliados de investigações.

"Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o Ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira", diz Bolsonaro numa primeira parte.

"Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a ABIN tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação", continua o presidente.

"Quem é que nunca “ficou atrás da… da… da… porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Tem que ver pra depois… depois que ela engravida não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. [referências a Nações amigas] Então essa é a preocupação que temos que ter: “a questão estratégia”. E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso — todos -— é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não e’ extrapolação da minha parte. É uma verdade", justificou Bolsonaro no trecho final.

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