Mesmo com a pandemia do coronavírus, o jogo eleitoral de 2020 começou. E o número de pré-candidatos à prefeitura do Recife chamou a atenção. São nove pré-candidaturas - cinco consideradas de direita e quatro, de esquerda - interessadas em ocupar a chefia do Executivo na capital. E tem até um único partido, com duas pré-candidaturas, como é o caso do PDT que, lançou dois pré-candidatos na semana passada: o deputado federal Túlio Gadelha e a ex-secretária de Habitação da atual gestão da prefeitura do Recife, Isabella Roldão. Mas o que significa este cenário com tantos pré-candidatos ?
São várias as respostas, segundo pelo menos três cientistas políticos entrevistados pelo JC. A primeira delas está relacionada à fragmentação da Frente Popular que chegou, em muitas eleições, com o PT e o PDT no mesmo grupo, embora em 2016 isso já não tenha ocorrido na disputa municipal. No segundo turno daquele ano, os recifenses escolheram entre Geraldo Júlio (PSB) e o deputado estadual João Paulo, que na época era do PT. "Nas eleições municipais mais recentes, não ocorreram tantas pré-candidaturas, porque a Aliança da Frente Popular estava mais coesa. É um jogo. Os partidos começam a se movimentar para aumentar o preço da barganha dentro do grupo. E os que não forem contemplados, vão achar mais viável uma disputa. Também estamos vendo surgirem candidatos que serão lideranças futuras", resumiu o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho.
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Ernani argumentou que a eleição do Recife passa também pelo xadrez político do cenário nacional. "Também existe uma confluência de forças dos interesses nacionais e regionais dentro dos próprios partidos, como ocorre no PT e PDT. Os acordos nacionais podem ajudar a definir esse jogo com relação a algumas pré-candidaturas e vão surgir as moedas de troca", comentou. Ele estava se referindo também ao fato de que o PDT e o PT estão de olho no cenário político de 2022, quando essas legendas devem lançar candidatura própria à presidência da República.
A quantidade de pré-candidatos à prefeitura do Recife reflete o "desgaste temporal da Frente Popular, que era uma grande coalizão com o ex-governador Eduardo Campos e também na primeira eleição de Paulo Câmara", segundo a professora da Facho e cientista política Priscila Lapa. Para ela, há também outro fator que pode explicar o grande número de pré-candidatos: "As mudanças nas regras eleitorais vão ter consequências na eleição das casas legislativas dos municípios. E o voto de legenda vai contar muito para eleger mais vereadores", explicou. Eleger os vereadores é importante para o governante conseguir aprovar os seus projetos no Legislativo.
Priscila também revelou que chama a atenção "a quantidade de pré-candidatos jovens e com perfil parecido", citando os deputados federais Marília Arraes (PT), Túlio Gadelha (PDT) e João Campos (PSB). "Eles têm um discurso de renovação parecido. Têm destaques nas redes sociais. Os dois últimos apareceram em grandes projetos na Câmara. Isso tudo é muito provisório e eles podem acabar saindo juntos na Frente Popular. A pandemia trouxe um cenário de muita incerteza", avaliou.
Muitas das atuais pré-candidaturas vão se estender até o próximo 16 de setembro, último dia previsto para a realização das convenções partidárias que vão escolher os candidatos a prefeito. "A profusão de pré-candidaturas surge quando a disputa eleitoral não está ancorada em polos políticos estabelecidos. Quando há uma fragmentação, a resposta do sistema democrático é a pulverização", defendeu o cientista político e professor da UFPE Arthur Leandro. Na argumentação dele, essas pré-candidaturas são colocadas como "balão de ensaio para perceber a tendência do eleitorado, podendo também ser o resultado do empreendedorismo político de alguns atores ou dos segmentos políticos que eles representam".
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