O processo de fragmentação que tem ocorrido no grupo de oposição que se articula para evitar que o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), eleja seu candidato à sucessão prejudicou sobremaneira o projeto do deputado federal Daniel Coelho (Cidadania) de se lançar como candidato a prefeito. Com o agendamento da convenção do PSC e o anúncio de apoio do PL à pré-candidatura de Mendonça Filho (DEM), Daniel passou a contar apenas com o seu próprio partido para enfrentar as urnas, fato que, ao menos por enquanto, acaba por isolá-lo no processo eleitoral.
Antes dos irmãos Ferreira tomarem posição nessa articulação (o deputado federal André Ferreira é presidente estadual do PSC e o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, comanda o PL em Pernambuco), o PSC e o PL acenavam para o apoio à pré-candidatura de Daniel em prol de um consenso no grupo. Mendonça, por sua vez, contava com a bênção do PSDB e do PTB para disputar a eleição deste ano. A movimentação das peças no jogo, portanto, acabou por beneficiar os anseios do democrata dentro da coligação.
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Mendonça foi procurado pela reportagem para comentar o cenário, mas não quis se pronunciar. Em nota encaminhada à imprensa para anunciar a aliança com o PL, o ex-governador mostrou-se animado com a possibilidade de disputar a eleição para prefeito do Recife. "Esse apoio do PL nos deixa ainda mais otimistas para concorrer à Prefeitura do Recife. Anderson é uma liderança política no Estado e vem realizando uma gestão inovadora em Jaboatão. Muitas das ações realizadas por ele deverão servir de exemplo no Recife", declarou, no documento.
O JC também tentou entrar em contato com Daniel Coelho para repercutir essas mudanças, mas o deputado não atendeu às ligações. Em suas redes sociais, porém, o parlamentar tem dado indícios de que não pretende desistir de concorrer este ano. "Momento decisivo na história da humanidade ocorreu quando os políticos britânicos queriam que o Reino Unido fizesse acordo com os nazistas. Churchill pressionado foi à rua e ouviu o povo. O povo gritava: 'nunca se renda. Vamos lutar'. O resto da história todos sabem", afirmou, no domingo, na sua conta do Twitter.
Na tarde desta segunda-feira (31) Daniel divulgou uma nota na qual ressalta que sempre fez oposição ao PT e ao PSB e que construiu "uma pré-candidatura sem impor soluções e sempre buscando a unidade da oposição". Ele lamenta, ainda, que o grupo de oposições esteja "fracionado", com várias candidaturas postas. "Desta maneira, diante desse contexto, o Cidadania decidiu que ao longo da semana realizará um debate interno para definir que caminho irá tomar no que se refere à disputa para a Prefeitura do Recife", cravou, no texto.
Anderson e André Ferreira também foram procurados, mas não responderam às tentativas de contato.
O deputado estadual Alberto Feitosa, que terá sua candidatura a prefeito confirmada pelo PSC no próximo dia 14, também disse acreditar que a melhor solução para o coletivo seria a união em torno de uma única candidatura, mas que o fato de várias postulações terem sido lançadas também não o assusta. "Na minha opinião, essa campanha será muito nacionalizada. Muitos analistas dizem que essa eleição será decidida entre um candidato de direita e um de esquerda, e como eu, diferentemente de outros candidatos, sempre demostrei ter uma identificação ideológica, de formação e de pautas com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é nesse caminho que eu vou apostar. Seria lógico que os partidos estivessem todos juntos, mas na política nem sempre a lógica prevalece", declarou o parlamentar.