Eleições 2020

No debate da TV Jornal, Marília Arraes centra ataques em João Campos e ressalta papel de oposição

Candidata a prefeita do Recife, Marília Arraes também aproveitou sua participação no debate para defender as gestões do PT na capital pernambucana, o legado do ex-presidente Lula e do ex-governador Miguel Arraes, seu avô, apesar de reafirmar sua a trajetória própria

Luisa Farias
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Publicado em 10/11/2020 às 11:37 | Atualizado em 10/11/2020 às 20:18
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
O PSB é um partido que não tem posição política. Ontem estava lá fazendo Lula livre, indo bajular o ex-presidente Lula", disse Marília - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Arte: JC
Eleições 2020 - Arte: JC

Durante sua participação no Debate da TV Jornal, transmitido na manhã desta terça-feira (10), a candidata a prefeita do Recife Marília Arraes (PT) buscou evidenciar sua posição política em um campo oposto ao do PSB, como vem fazendo ao longo da sua campanha. Ela também saiu em defesa das gestões do PT na capital pernambucana, do legado do ex-presidente Lula e do ex-governador Miguel Arraes, seu avô, apesar de reafirmar sua trajetória própria que trilhou ao longo dos seus 12 anos de vida pública, de vereadora por três mandatos e atualmente como deputada federal. 

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Quando a candidata respondia a uma pergunta do seu adversário Carlos (PSL) no primeiro bloco do debate sobre a efetividade do modelo de gestão dos partidos do campo da esquerda no Recife, ela acusou o PSB de desmontar políticas públicas executada pelos petistas. O PT governou o Recife por 12 anos, sendo dois mandatos de João Paulo (atualmente no PCdoB) e um mandato de João da Costa (PT), sucedido pelo atual prefeito Geraldo Julio (PSB).

"Esse modelo de gestão da esquerda, comunista, socialista, como queira chamar, já se provou falho no mundo todo, inclusive aqui em Recife onde há 20 anos vem dando errado, 12 dos quais administrado pelo PT, o seu partido. Como o recifense pode esperar que os mesmos atos agora gerem resultados diferentes?", questionou Carlos. 

"Aqui no Recife tiveram grandes mudanças, como por exemplo obras estruturais nos morros, que nunca tinha se ouvido falar e que agora estão abandonadas, na época que governamos a cidade existia. As equipes de saúde da família se multiplicaram por 10. Hoje essa situação está estagnada, não se prioriza a atenção básica, se investe menos de metade do orçamento na saúde em atenção básica. Então, quem vem desmontando várias conquistas sociais é o PSB de Geraldo Julio e João Campos", respondeu Marília Arraes. 

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Marília ressaltou algumas propostas apresentadas ao longo da campanha, como a de zerar a fila de creches, através do Programa Florescer, e acabar com as palafitas do Recife, por meio do Programa Palafita Zero. "Nós temos uma forma de fazer totalmente diferente e vamos fazer muito mais, vamos retomar todas as conquistas", disse. 

"Carrego as duas histórias, de Lula e Arraes mas sobretudo tenho minha própria trajetória, meu próprio caminho, minha própria responsabilidade. O Recife sabe disso, Pernambuco sabe disso, acompanha todos os posicionamentos que tenho tomado. Tenho total segurança de que esse lado de cá é realmente o melhor para governar o Recife", completou a candidata. 

Ibope

A quarta rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada nessa segunda-feira (9), mostrou que Marília Arraes oscilou positivamente - dentro da margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos - de 18% para 21%. Ela está empatada tecnicamente no segundo lugar com Mendonça Filho (DEM), que cresceu de 13% para 17% nesta rodada. 

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Um dos grupos em que a Marília cresceu, foi justamente entre os entrevistados que avaliam a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB) como negativa. Nesse caso, ela cresceu de 15% para 25%. Em um cenário de segundo turno, ela só perderia para João Campos (PSB), ela com 34% das intenções de voto e o socialista com 42%. 

Iniciativa pública e privada

Na tréplica, o candidato Carlos trouxe a questão da participação da iniciativa privada na gestão, o que segundo ele, é o oposto do modelo de gestão da esquerda e especialmente do PT. "A gente precisa unir a iniciativa privada, o poder público e a comunidade, essa é a única maneira. O modelo de gestão de esquerda, do PT, afasta o ente privado, nós precisamos trazer ele junto", disse Carlos. 

Marília rebateu afirmando que esse modelo foi rejeitado pelo povo nas urnas. "Nós temos uma visão diferente. Nós queremos que o estado seja forte, que a prefeitura possa atuar diretamente na vida das pessoas como não está fazendo. A gente quer que o programa de saúde da família funcione de verdade, que tenha médicos contratados e não entregues à OSS como está hoje em dia a saúde do Recife entregue a iniciativa privada e não está funcionando. Termina que não funciona nem o público nem o privado", afirmou Marília. 

João Campos

Seguindo a estratégia de polarização, Marília Arraes escolheu João Campos para fazer a sua pergunta no primeiro bloco. Na ocasião, ela buscou ressaltar a ligação do seu adversário com o prefeito Geraldo Julio e o fato da atual gestão ser investigada em seis operações da Polícia Federal sobre supostas irregularidades em compras emergenciais para combate à covid-19. "Eu escuto sempre você falar que ninguém governa sozinho, mas também ouvi na Rádio Jornal você dizer que confia na equipe de Geraldo Julio mesmo com a altíssima rejeição do prefeito, seis operações da PF. Se você fosse prefeito, você levaria essa equipe para governar o Recife junto com você?", questionou Marília. 

"É inegável que o Recife avançou nos últimos oito anos, Não existia Compaz, Faixa Azul, Upinha, Academia Recife, Hospital do Idoso e tantas conquistas importantes. Eu confio em Geraldo Julio, conheço sua história, conheço sua dignidade. Uma pessoa que tem o mesmo padrão de vida há 30 anos, uma pessoa decente. Mas, eu estou aqui para poder construir minha história, para fazer do meu jeito, como eu acredito", respondeu João. 

Na tréplica, Marília ressaltou a defesa que João Campos faz da atual gestão, "que ao invés de usar o dinheiro para efetivamente salvar vidas numa pandemia como a gente está vivendo, comprou respirador de porco, fez contrato milionário com empresas MEI e está abandonando a cidade", disse Marília. O termo "respirador de porco" faz referência ao fato de uma das compras investigadas ter sido de respiradores, testados apenas em porcos, que não tinham aprovação da Anvisa para uso em humanos. 

Ela voltou a criticar as propostas da candidatura de João Campos, como a de oferecimento de um crédito popular a juros de 0,99% e a acusá-lo de reciclar promessas feitas anteriormente por Geraldo Julio. Na semana passada, esse foi o tema de um dos seus guias eleitorais, em que critica a promessa de João de construir um Centro Comunitário da Paz (Compaz) no Centro Social Urbano (CSU) Bido Krause, feita por Geraldo na eleição de 2016. 

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"A atenção básica a saúde não funciona, não funciona o apoio ao microempresário e agora vem propor emprestar dinheiro a juros, prefeitura não é agiota. Abandona o povo a oito anos, recicla promessas e vem tentar enganar o povo do Recife de novo. Não é assim que funciona, não vai dar certo eternamente esse modelo que o PSB tem de montar um candidato formado pelo marketing e de repente jogar as pessoas para votar nele", completou a candidata. 

"É de causar estranheza uma candidata do PT falando de corrupção", disparou João Campos na tréplica. Sobre a proposta de crédito, ele citou uma resolução do Banco Central que proíbe os municípios de emprestar dinheiro sem juros. "É impossível fazer isso sem juros. É preciso fazer isso via uma agência estadual, com algum banco. Você não pode prometer o que não dá para cumprir", disse. 

Emprego

No segundo bloco, Marília foi questionada pela Delegada Patrícia (Podemos) sobre a sua proposta para promover a geração de emprego. Patrícia aproveitou para alfinetar a petista ao dizer que as gestões do PT e PSB, que governaram o Recife nos "últimos 20 anos de gestão casada", "vivem de cabide de emprego". "O que vocês do PT fariam para gerar emprego já que vocês acreditam que todo emprego tem que vir do setor público?", perguntou Patrícia. 

Marília rechaçou a afirmação de Patrícia, lembrando da política econômica do PT no governo federal. "O Brasil tinha taxa de pleno emprego, Pernambuco tinha taxa de 4% de desemprego, enquanto a Espanha tinha 25% de desemprego. Agora hoje o Recife é a capital do desemprego no País", respondeu Marília. 

A petista voltou a centrar os ataques ao PSB quando citou os números do desemprego na capital pernambucana. "Nós temos 150 mil desempregados, 18 mil postos de trabalho foram fechados de janeiro até agosto e isso mostra a incompetência da gestão do PSB. É importante separar bem quem são eles e quem somos nós", disse. 

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Segundo Marilia, caso seja eleita, a sua gestão deve melhorar o ambiente das micro e pequenas empresas no Recife. "Você que tem seu MEI que paga IPTU comercial, na nossa gestão isso não vai acontecer. Nós vamos também ligar a capacitação profissional a demanda do mercado de trabalho. Vamos sem dúvida alguma fazer a maior retomada econômica, vamos dar auxílio ao pequeno empresário, ao ambulante, ao comerciante informal. Nós vamos sim lutar contra o desemprego, vamos gerar renda, fazer com que o Recife volte a crescer. Um povo bonito, forte, trabalhador", explicou a petista.

Segurança

Ainda no segundo bloco, Marília escolheu o candidato Coronel Feitosa (PSC) para fazer a sua pergunta, cujo tema foi segurança pública, por sorteio. Antes de fazer a pergunta, ela introduziu o tema criticando a falta de convergência, segundo ela, entre o governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito Geraldo Julio no quesito segurança.

"O governo do estado junto com a prefeitura do Recife, apesar de serem comandados pelo mesmo grupo, parecem não se entenderem. A violência cresce cada dia mais, o número de assaltos, de estupros e tudo isso reflete uma falta de diálogo e também inoperância da gestão municipal de fazer sua parte", disse Marília. 

Na réplica, Marília falou sobre as suas propostas na área da segurança, que envolve a criação de um gabinete de gestão integrada da segurança. "Não dá para o governo do município ficar se omitindo de cobrar a segurança, de fazer sua parte em relação a inteligência, de usar as câmeras da cidade para que essas identificações de criminosos, de delitos que aconteçam na cidade auxiliem o governo do estado. Nós temos também a grande função de mobilizar a sociedade, de integrar todas as pessoas, empresas, câmeras de condomínio com as câmeras da prefeitura e da Secretaria de Segurança", argumentou a candidata. 

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Outra proposta é a criação da Ronda Maria da Penha "para proteger as mulheres da violência doméstica". Marília também promete valorizar a guarda municipal, "treinar e equipar a guarda para que tenham condições de auxiliar na segurança pública", disse, sem falar diretamente sobre armamento da guarda, ato que ela diz não ser a resolução do problema da segurança do Recife. 

Considerações finais

No terceiro bloco, reservado para as considerações finais, Marília disse que o debate evidenciou "que não é com inexperiência, com imaturidade que a gente vai mudar a situação que está aí, muito menos com algo que representa a continuidade de uma gestão que não está dando certo", disse. 

"Eu tenho minha própria trajetória, tenho combatido fortemente diversas injustiças ao longo da minha vida, conheço bem a cidade e tenho certeza que nós vamos fazer o Recife sorrir de novo, cuidar das pessoas novamente. Vamos lá continuar engajados, o dia da eleição está chegando e sem dúvida alguma nós vamos virar a página dessa história triste que o Recife está vivendo", encerrou Marília. 

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Marília Arraes, candidata a prefeita do Recife, no debate da TV Jornal - FOTO:Bobby Fabisak/JC Imagem

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