A TV Jornal promoveu, na manhã desta terça-feira (10), o único debate televiso entre os candidatos à Prefeitura do Recife nas eleições deste ano. O encontro foi dividido em três blocos, dos quais dois contavam com perguntas diretas entre os candidatos. Nesses momentos, os postulantes responderam questionamentos sobre temas como gestão metropolitana, saneamento básico, segurança, mobilidade, geração de emprego e pandemia do novo coronavírus.
Mediado por Leandro Oliveira, jornalista que apresenta o TV Jornal Meio Dia, o debate foi exibido ao vivo, na TV Jornal, no nosso site e redes sociais, além das páginas do NE10, Jornal do Commercio e Rádio Jornal.
Para a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) Priscila Lapa, esse encontro foi importante para ajudar o eleitor a decidir seu voto nas eleições do próximo domingo (15). “O debate foi um momento importantíssimo, porque até então, não havia tido esse confronto na TV, em tempo real. Com isso, o eleitor poderá julgar melhor quem merece receber sua confiança nas urnas”, afirmou a especialista.
Assista à íntegra do debate:
Como era de se esperar, o debate teve a gestão de Geraldo Julio (PSB) como alvo preferencial da maior parte dos postulantes presentes ao evento. Correligionário do prefeito, João Campos (PSB) foi o único a sair em defesa da administração do socialista na capital pernambucana. As gestões petistas também foram postas na berlinda pelos postulantes. “Ficou clara a tentativa dos candidatos mais à direita buscarem exaustivamente por apontar o PT e o PSB, para pegar carona no desgaste da esquerda para chegar ao segundo turno”, pontua Priscila Lapa.
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Pelo sorteio, Carlos (PSL) foi o primeiro candidato que teve oportunidade de perguntar e escolheu Marília Arraes (PT). O pesselista quis saber sobre a efetividade do modelo de gestão dos partidos do campo da esquerda no Recife. "Esse modelo de gestão da esquerda já se provou falho no mundo todo, inclusive aqui no Recife onde há 20 anos vem dando errado, 12 dos quais administrado pelo PT, o seu partido. Como o recifense pode esperar que os mesmos atos agora gerem resultados diferentes?", questionou Carlos.
Ao responder, Marília acusou o PSB de desmontar políticas públicas executada pelos petistas. O PT governou o Recife por 12 anos, sendo dois mandatos de João Paulo (atualmente no PCdoB) e um mandato de João da Costa (PT), sucedido pelo atual prefeito. "Aqui no Recife tiveram grandes mudanças, como por exemplo obras estruturais nos morros, que nunca tinha se ouvido falar e que agora estão abandonadas. Então, quem vem desmontando várias conquistas sociais é o PSB de Geraldo Julio e João Campos", respondeu Marília Arraes.
Polarização
Em sua primeira chance de questionar um oponente, Marília escolheu João Campos para fazer a sua pergunta no primeiro bloco, seguindo a estratégia de polarização. Na ocasião, ela buscou ressaltar a ligação do seu adversário com Geraldo Julio e o fato da atual gestão ser investigada em operações da Polícia Federal sobre supostas irregularidades em compras emergenciais para combate à covid-19. "Ouvi na Rádio Jornal você dizer que confia na equipe de Geraldo Julio mesmo com a altíssima rejeição do prefeito, seis operações da PF. Se você fosse prefeito, você levaria essa equipe para governar o Recife junto com você?", questionou Marília.
Na resposta, João defendeu a gestão Geraldo, afirmando que a cidade conquistou muitos avanços como a implantação da Faixa Azul, Upinhas, Academia Recife, Hospital da Mulher. "Eu confio em Geraldo Julio, conheço sua história, conheço sua dignidade. Uma pessoa que tem o mesmo padrão de vida há 30 anos, uma pessoa decente. Mas, eu estou aqui para poder construir minha história, para fazer do meu jeito, como eu acredito. Ouvindo sempre, sempre temos que ter humildade para ouvir, de construir uma frente como construímos, uma das três maiores frentes do Brasil", declarou. "É de causar estranheza uma candidata do PT falando de corrupção", disse ainda.
Na sua vez de perguntar, o socialista questionou Mendonça Filho (DEM) sobre as suas propostas para reduzir a taxa de desemprego no Recife. Na resposta, o democrata também teceu críticas à atual gestão da Prefeitura. "Primeiro eu vou fazer tudo diferente do que foi feito por Geraldo Julio, que na pandemia abandonou o micro e pequeno empreendedor, perseguiu empresários, não ofereceu assistência para quem vive do próprio negócio. Aqui não teve nenhuma assistência do governo do Estado e da prefeitura, pois a marca do PSB é perseguir o cidadão, a cidade tem a maior carga tributária do Norte e Nordeste", disparou o democrata.
Mendonça e João voltaram a se enfrentar no segundo bloco. O democrata quis saber do socialista qual a proposta dele para a gestão metropolitana. Campos afirmou que é importante que seja feito um diálogo com os municípios vizinhos e que compõe a Região Metropolitana do Recife, a respeito de temas como saneamento básico e saúde. Mendonça replicou dizendo que “o partido de João Campos do PSB não representa responsabilidade, seriedade e compromisso com o tema metropolitano.”
Ainda no primeiro bloco, o democrata teve seu segundo confronto com a candidata Delegada Patrícia (Podemos). O ex-ministro perguntou a proposta da adversária para o Canal do Ibiporã, no Coque, área central do Recife, e ela disse que a pergunta deu "tom infantil" ao debate. "Não adianta, Mendonça, por você ser do Recife, querer me dizer um local específico aqui ou ali. Ninguém aqui conhece todos os canais pelo nome, isso é trazer o debate para um tom infantil. A gente está falando de soluções de saneamento. Não vamos estruturar um canal, vamos reestruturar todos", disse Patrícia.
Delegada troca farpas com Coronel
A delegada também protagonizou um dos momentos mais quentes do debate. Ao escolher o Coronel Feitosa (PSC) para responder sua primeira pergunta, Patrícia questionou ao social-cristão a importância do apoio do presidente Jair Bolsonaro no Recife. Feitosa esperava que o chefe do Executivo nacional o apoiasse, no entanto Bolsonaro preferiu a candidata do Podemos. “Todo apoio é muito importante. Votei no presidente Bolsonaro e fui o único candidato que pautou a campanha com as pautas do governo federal. Defendendo a pátria, Deus e família. Defendendo o não fique em casa, como a senhora não defendeu. Você não assumiu em hora nenhuma que não defendeu as pautas dele", disse Feitosa.
Delegada Patrícia aproveitou sua réplica para criticar o candidato do PSC, acusando-o de votar pela extinção da delegacia que ela comandava. "O senhor [Feitosa] tem 25 anos como policial militar, mas será lembrado por ter votado a favor de fechar a delegacia que combatia a corrupção, isso ficará na sua história, a delegacia foi fechada com apoio dos deputados e Feitosa foi um deles", alfinetou ela.
O coronel, por sua vez, rebateu. Segundo ele, a delegada se faz de "vítima" sempre que fala da extinção da antiga Decasp. "Você sempre se aproveita e se coloca na posição de vítima. Não é verdade acabamos com a Decasp. Você foi uma gestora incompetente na Decasp. Lá quando o Ministério Público pegou toda a documentação tinham 249 processos que você deixou prescrever. A prescrição de um processo de corrupção, se você não sabe, leva 11 anos. Você não fez nada com essas pessoas. Quem você queria proteger?", questionou.
A troca de farpas de Patrícia e Feitosa gerou dois direitos de resposta um para a candidata do Podemos, que foi chamada de mentirosa e outro ao candidato do PSC, que também foi taxado de mentiroso. “Este foi um dos pontos altos do debate na TV Jornal. Ambos os candidatos tinham tudo para falar sobre segurança, mas ficaram na discussão motivadas pelo apoio de Bolsonaro a Patrícia, quando Feitosa que gostaria de recebê-lo”, aponta a cientista política Priscila Lapa.
A troca de farpas de Patrícia e Feitosa gerou dois direitos de resposta um para a candidata do Podemos, que foi chamada de mentirosa e outro ao candidato do PSC, que também foi taxado de mentiroso.
Após o embate com Patrícia, Alberto Feitosa escolheu Charbel (Novo) para fazer sua pergunta sobre a questão da violência na capital pernambucana. Ao responder, o candidato do Novo defendeu o armamento da Guarda Municipal e criticou, mais uma vez a gestão socialista. "A gente pode ver que o atual governo foi o que desarmou a Guarda Municipal. A Guarda era uma das mais antigas do Brasil e estava armada até 2012. Depois disso a nossa insegurança aumentou", explicou. Charbel defendeu ainda a manutenção da iluminação pública pela iniciativa privada e o investimento no comércio de rua.
No segundo bloco, o coronel e Charbel se enfrentaram de novo. Num “bate bola” os candidatos criticaram as medidas adotadas pelo governo estadual e pela prefeitura durante a pandemia de covid-19. Ambos disseram enfaticamente que não aplicariam o lockdown por não considerarem efetivo.
"Nós vimos que o enfrentamento da pandemia foi todo errado pelo governo PSB. Implantaram o lockdown, deixaram todo mundo dentro de casa. Tem candidato aqui que ainda defende isso. Inclusive, o risco de um novo lockdown é grande a depender de quem ganhar essas eleições. Eu já digo que, se eleito, não vou fazer lockdown", destacou Charbel. “Eu também não”, disse Feitosa na tréplica.
Considerações finais
Já nas considerações finais, a delegada Patrícia se colocou como alternativa à “velha política”. João Campos destacou que é fundamental que o recifense vá às urnas no próximo domingo (15). Marília Arraes, por sua vez, disse que irá virar “a página dessa história triste que o Recife vive”.
Coronel Feitosa afirmou que não são as pesquisas que elegerão o próximo prefeito da capital pernambucana. Já Mendonça Filho se disse o caminho da mudança contra as candidaturas do PT e PSB. Charbel reforçou que seu partido abriu mão do fundo partidário, afirmando que “a verdadeira mudança começa com exemplos”. Por fim, Carlos disse que “pesquisas não ganham eleição” e pediu um voto de confiança.
"Foi um debate quente, não ficou num tom morno, como muita gente até então dizia que a campanha no Recife este ano, apesar de competitividade, seria. Mesmo sendo um debate propositivo, em muitos momentos foram usadas expressões de força para diferenciar um candidato do outro. A composição da decisão do voto não é só racional, tem aquele componente da performance. O debate tem o aspecto de influenciar na formação do voto, mesmo na reta final da campanha", resume Priscila Lapa.
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