Segundo turno

A disputa de João Campos e Marília Arraes pelos votos da centro-direita do Recife

Somando-se os votos apenas dos dois principais candidatos desse campo no Recife, Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos), são cerca de 300 mil eleitores que não terão um representante nas urnas no segundo turno

Renata Monteiro
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Publicado em 22/11/2020 às 7:30 | Atualizado em 22/11/2020 às 8:08
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João Campos e Marília Arraes disputaram o segundo turno das eleições no Recife - FOTO: JC Imagem

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Eleições 2020 - .

A chegada de dois candidatos de esquerda ao segundo turno no Recife levanta uma série de dúvidas sobre o modo como o eleitor da capital pernambucana vai encarar as urnas no dia 29 de novembro. Os candidatos que passaram para a segunda fase da campanha na cidade, João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), conquistaram, respectivamente, 29,17% e 27,95% dos votos válidos no último domingo (15). Para chegar ao comando da prefeitura, contudo, eles terão que elaborar estratégias que tragam ainda mais eleitores para o seu lado, inclusive votantes alinhados com a centro-direita local.

Somando-se os votos apenas dos dois principais candidatos desse campo no Recife, Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos), são cerca de 300 mil eleitores que não terão um representante nas urnas no segundo turno. Há, ainda, potencial de conquista de apoiamentos entre os 230.157 eleitores da cidade que se abstiveram de votar no primeiro turno e entre os 128.376 que votaram em branco ou anularam a sua escolha.

A primeira pesquisa Ibope/JC/Rede Globo divulgada após a votação do dia 15 de novembro mostra João e Marília tecnicamente empatados quanto à intenção de votos na cidade, mas a petista apresenta vantagem numérica, sendo mencionada por 45% dos entrevistados, enquanto o socialista foi lembrado por 39% dos pesquisados. Segundo Adriano Oliveira, professor do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tanto o resultado das urnas quanto os dados publicados pelo Ibope explicitam que o eleitor recifense, seja ele de esquerda ou de direita, tem valorizado muito mais o desejo por mudança do que a ideologia política.

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“Parcelas do eleitorado recifense aprovam o governo de Geraldo Julio (PSB), reconhecem os avanços dos últimos anos da gestão do prefeito, entretanto querem mais. Por isso, querem uma novidade, por isso votaram em Marília, em Mendonça. E eu digo que o componente ideológico não está fortemente presente na eleição porque, se estivesse, provavelmente João Campos estaria liderando a pesquisa, em virtude da rejeição ao PT. Mas o que nós estamos vendo é a liderança de Marília. Isso significa que o que está presente é esse desejo de querer mais, de querer mudança, de querer romper com esses oito anos do governo que atualmente está no poder no Recife”, explicou Oliveira.

Na visão do cientista político Elton Gomes, professor da Faculdade Damas, é grande a possibilidade de a abstenção no segundo turno ser ainda maior no Recife, justamente pela rejeição do eleitor de centro-direita tanto com relação ao PT quanto ao PSB. O docente observa, no entanto, que parte deste eleitorado não deixará de ir às urnas nesta segunda fase da campanha, portanto, será beneficiado o candidato “menos odiado” e não o “mais amado” da cidade.

“Como diz Roger Stone, que foi assessor político de cinco presidentes americanos, 'people love to hate (as pessoas amam odiar)'. Como as pessoas amam odiar e agora podem se unir pelo ódio muito mais facilmente do que já se uniram por causas comuns, o fenômeno da rejeição é determinante. Por exemplo, (Donald) Trump perdeu as eleições nos Estados Unidos não pela alta popularidade de Joe Biden, mas pela forte rejeição ao seu nome. No Recife, a rejeição também é instrumentalizada pelos grupos políticos para que cheguem ao poder e permaneçam lá. Por isso, será bem-sucedido nessa campanha o último candidato que permanecer de pé no tabuleiro político em um contexto de grande abstenção em que a rejeição conta muito e que uma parte dos eleitores simplesmente não se sente representado”, pontuou Gomes.

Arthur Leandro, cientista político da UFPE, pensa de maneira semelhante. Segundo o docente, a tendência no segundo turno é que os os eleitores que votaram em João e Marília mantenham seus votos nesta fase do pleito e que aqueles que votaram em candidatos da centro-direita ou se abstenham ou escolham a opção “menos pior”, na visão deles, entre as que estão postas. “Em um segundo turno se procura evitar o pior, aquele candidato que você não quer que vença de modo algum. Sendo assim, a tendência é que a população vote em um candidato para evitar que o outro ganhe. Como o que há em comum entre os eleitores que não foram contemplados nesta parte da campanha é um grande apego antipetista, é possível que quanto mais ênfase for dada ao projeto do PT, mais o eleitor da centro-direita evite o voto em Marília”, detalhou.

APOIO

Ex-governador de Pernambuco e ex-prefeito do Recife, Gustavo Krause evita cravar considerações sobre movimentos da direita após o primeiro turno no Recife. À reportagem, ele ressaltou a importância do voto para a democracia, mas também disse que não considera uma “heresia” o voto branco, nulo ou a abstenção em um cenário como o que se coloca na capital pernambucana.

A respeito dos partidos que antes encabeçaram ou apoiaram candidaturas de centro-direita no primeiro turno e que agora optaram por ficar ao lado de Marília, Krause chama atenção para o cálculo político que essas legendas estão fazendo, certamente de olho em 2022. “Os líderes partidários e políticos estão observando a sua aldeia. Ou seja, nas próximas eleições, o PT será hegemônico? Não sei. O PSB será hegemônico? Será. A decisão dos líderes pode ter essa conotação. O menos pior para eles vai ser o enfraquecimento do PSB para a eleição de governador em 2022, pois a manutenção do status quo favorece o partido”, argumentou Krause.

Durante debate na Rádio Jornal na última semana, Marília afirmou que, apesar de estar recebendo o apoio de partidos alinhados com esse espectro político, como o PL e o Podemos, por exemplo, não iria “flexibilizar” o seu compromisso ideológico. Ao JC, a candidata afirmou, por nota, que a aproximação com os leitores deste campo “se dará de forma orgânica e natural”, pois as eleições teriam mostrado que a sua campanha e os eleitores de centro-direita teriam em comum o desejo de “virar a página dessa gestão do PSB que está aí, de Geraldo Julio e João Campos”.

“Não existe estratégia específica para quem quer apenas mudar. Este será um caminho natural, de quem carrega um desejo de mudança. Tenho dito que estou muito motivada, me sinto preparada, e tenho maturidade suficiente para governar o Recife”, declarou a postulante. A assessoria de imprensa do candidato João Campos foi procurada para que ele pudesse se posicionar sobre o tema, mas não encaminhou resposta do socialista até o fechamento desta matéria.

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