A primeira rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo para o segundo turno aponta a liderança numérica nas intenções de voto para a candidata Marília Arraes (PT). Disputando a Prefeitura do Recife com seu primo João Campos (PSB), a candidata petista tem 45% das intenções de voto, contra 39% do candidato socialista. Levando-se em conta a margem de erro de três pontos percentuais, ambos estão, no limite, tecnicamente empatados. Campos havia liderado as intenções de voto em todo o primeiro turno, sagrando-se na votação do último domingo como o candidato com maior número de votos (29,13%). A candidata petista cresceu ao longo da campanha, chegando a, no segundo lugar, totalizar 27,90% dos votos. Agora, a corrida do segundo turno começa com cenário invertido. Cientistas políticos já dão como certa a mudança de postura das campanhas, analisando que os candidatos terão que se mover em busca dos possíveis votos brancos, nulos e dos eleitores ainda indecisos, com o mote da polarização entre a rejeição petista e a insatisfação com as gestões do PSB.
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A pesquisa foi realizada de forma presencial entre os dias 16 e 18 de novembro de 2020. Foram entrevistados 1.001 votantes do Recife. A margem de erro máxima estimada é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com o nível de confiança de 95%. O levantamento, contratado pelo Jornal do Commercio e Rede Globo, está registrado no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco sob o protocolo Nº PE 06514/2020.
Marília Arraes lidera entre o extrato de eleitores que recebem mais de cinco salários mínimos e também está à frente quando levado em conta apenas os votos válidos. Excluindo-se os votos brancos e nulos, que somam 15%, a candidata do PT tem 53% das intenções de voto. João Campos, 47%.
“No eleitorado do recife havia um sentimento de mudança da gestão no primeiro turno, mas muito difuso. Se o candidato governista passou todo o primeiro turno à frente das pesquisas, significa que tinha uma parte do eleitorado que não tinha muita clareza desse sentimento de mudança. O restante do eleitorado distribuiu a percepção de mudança nos vários candidatos. Nenhum deles conseguiu no primeiro turno dar essa arrancada, capitalizar esse sentimento e disparar nas pesquisas. No primeiro turno, em relação à Marília, a aposta dos adversários era o desgaste do PT. Bastava isso para tirar ela do segundo turno. Foi passando o tempo e, quanto mais ela tirava da toca os símbolos do partido, mais trazia Lula e se posicionava como do partido, mais ela cresceu”, resume a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda Priscila Lapa.
A avaliação é de que na capital pernambucana, o sentimento antipetista não é mais tão arraigado como chegou a se mostrar na polarização das eleições presidenciais de 2018, e toda a vivência da Marília, inclusive dentro do próprio partido, pode ter contribuído para que ela passasse a ser vista como uma ala petista de renovação, conseguindo se distanciar do PSB e consequentemente se firmando como uma opção de descontinuidade da atual gestão.
“É preciso pontuar que, no finalzinho já do primeiro turno, João Campos vinha em uma curva de não crescimento, na verdade uma curva de estagnação de crescimento apontando para uma diminuição relativa dos seus votos. Isso se concretizou com o resultado final. Agora, o segundo turno é uma nova eleição. O candidato que ficou em terceiro lugar muito próximo de Marília e a candidata que ficou em quarto lugar somam ai 40% dos votos válidos, então nós vamos ter uma disputa por esse espectro. Essa é uma primeira pesquisa, mas que confirma de certa forma a tendência de queda de João, por acumular o custo de defender uma gestão já de oito anos”, observa o professor associado do departamento de Ciência Política da UFPE Ernani Carvalho.
Na disputa por esse eleitor que não se identifica com os candidatos de esquerda, os postulantes deverão começar a repensar suas estratégias de campanha. Para Priscila Lapa, toda a estratégia que João usou no primeiro turno, “de administrar a vantagem”, precisa agora ser alterada. “Ele precisa mudar para uma estratégia de guerra, de ganhar a guerra. E ela (Marília) agora vai passar a tentar administrar uma vantagem”. A cientista política continua. “As candidaturas vão ter de se mover e convencer o eleitorado indeciso de que elas são a melhor opção por qualquer outro atributo que não seja partidário e ideológico, em se tratando de parte da população que não se identifica com a esquerda. No Recife, a questão que tem se mostrado mais forte é mudar o projeto político que hoje domina a cidade, acima dessa questão do antipetismo”.
Mesmo concorrendo pelo PT, Marília tem conseguido apoio de legendas mais voltadas ao centro-direita, ampliando sua base de apoio, ao mesmo tempo em que João Campos fortalece a mobilização dos seus correligionários da Frente Popular. Os apoios à candidata do PT podem estar surtindo efeito sobre o convencimento do voto - em muitos casos considerado útil - da parte mais abastada e escolarizada da população.
“Historicamente o eleitorado de maior renda no Recife tem como preferência os candidatos conservadores. Isso comprova que este segmento abraça a ideia de mudança propagada pelos postulantes da direita ainda no primeiro turno. Não é a toa que os atores políticos deste segmento sinalizaram um apoio para Marília Arraes. Eles perceberam que a rejeição ao governo do PSB na capital é significativa. Já os eleitores de menor renda, tradicionalmente dividem os votos entre os postulantes da situação e de candidatos competitivos da esquerda, como é o caso do PT”, avalia o historiador e cientista político Alex Ribeiro.
Lula
O apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma candidatura no Recife também foi avaliado pela pesquisa Ibope/JC/Rede Globo. Questionados se este apoio aumentaria, diminuiria ou não afetaria a vontade de votar, 42% dos entrevistados afirmaram que não afetaria o desejo de votar em alguém. Hoje, Lula apoia a candidatura de Marília Arraes no Recife, ambos são do Partido dos Trabalhadores (PT). A candidata, inclusive, utiliza a imagem do ex-presidente em propagandas, além de haver a especulação sobre uma possível vinda dele ao Recife para algum ato com sua aliada.
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