CPI no Recife

Oposição da Câmara do Recife precisa de apoio de governistas para criar CPI da Covid

Ainda que conseguissem garantir o apoio de todos os vereadores do PT e do Psol, os oposicionistas precisariam de ao menos duas assinaturas de governistas, o que é visto como algo difícil de ser alcançado pela própria oposição.

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Luisa Farias

Publicado em 25/05/2021 às 19:33
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O grupo de oposição à direita da Câmara do Recife segue se articulando para viabilizar o mínimo de 13 assinaturas para pedir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 na Casa. Eles trabalham para formalizar a pedido que deve ter como fato concreto o contrato para a compra dos respiradores alvo da Operação Apneia e as denúncias de estoque excessivo de insumos para o combate à pandemia no município. 

 "Vamos tentar sensibilizar a casa pra trazer uma comissão que de fato possam trazer respostas, o intuito é apontar se houve alguma improbidade", resumiu Renato Antunes, líder da bancada de oposição.

Os seis vereadores de partidos de direita irão protocolar, em conjunto, o pedido de abertura na próxima sexta-feira (25). São eles Renato Antunes (PSC), Felipe Alecrim (PSC), Fred Ferreira (PSC),Tadeu Calheiros (Podemos), Júnior Tércio (Podemos) e Alcides Cardoso (DEM).

Eles buscam o apoio dos vereadores do grupo de oposição à esquerda, do PT e do Psol, que não fechou questão sobre o assunto. Desses, apenas Ivan Moraes (Psol) confirmou que assinaria o requerimento de abertura da CPI. 

A bancada do PT - formada por Liana Cirne, Jairo Britto e Osmar Ricardo - deve se reunir na manhã desta quarta-feira (26) para discutir sobre a viabilidade do pedido.

Quando houve um pedido de abertura de CPI na legislatura passada, feito pelo então vereador Jayme Asfora, o diretório municipal do PT recomendou que os petistas se posicionassem de forma contrária. 

Mas na atual legislatura, a bancada petista adota uma posição independente em relação ao governo João Campos (PSB). Um dos fatores que influenciaram isso foi o embate entre Marília Arraes (PT) e João Campos na eleição do Recife em 2020. "Devemos provocar essa reunião com o diretório municipal para tomar uma decisão partidária, vereadores da bancada do PT junto com o partido", disse Osmar Ricardo. 

Ao JC, Osmar Ricardo disse ver o movimento da oposição como uma tentativa de "desgastar o nome do prefeito Geraldo Julio". "A ideia é pegar o mote dos respiradores, uma coisa que não teve prejuízo ao erário público, o dinheiro foi devolvido. Existiu a compra? Existiu. Tinha alguma coisa errada? Tinha. Mas tinha sido visto, corrigido", alegou o vereador. 

Ele falou da necessidade de se aprofundar sobre o caso. O movimento dos oposicionistas foi influenciado pela denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) à Polícia Federal contra seis alvos da Operação Apneia, entre eles o ex-secretário de Saúde do governo de Geraldo Julio (PSB), Jailson Correia. "Eu não tive ainda tempo para ver isso, inclusive de procurar a própria gestão para pedir informações de tudo, para pegar o máximo possível de dados", afirmou Osmar.

Na avaliação dele, o fato da CPI ser capitaneada pelo líder da oposição, Renato Antunes (PSC), cujo partido apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a nível nacional, acaba pesando na balança. "O PSC vai ter um palanque de direita em Pernambuco (em 2022). São apoiadores do governo Bolsonaro que esta matando mais de 450 mil pessoas no Brasil todo, um desgoverno desses", apontou o vereador petista. 

Governistas

Ainda que conseguissem garantir o apoio de todos os vereadores do PT e do Psol, os oposicionistas precisariam de ao menos duas assinaturas de governistas, o que é visto como algo difícil de ser alcançado pela própria oposição. A bancada de governo possui 28 parlamentares, sendo 12 do PSB, partido do prefeito João Campos. 

>> Ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio deverá ser convocado para depor na CPI da Covid sobre gastos com recursos do SUS

"O objetivo é desfigurar essa ideia de que é uma CPI da oposição. É para apurar questões referentes ao Recife e também não tem ligação nenhuma com a CPI da Covid no Senado. Querem caracterizar como se fosse uma contra ofensiva dos bolsonaristas em Pernambuco", complementou Renato Antunes. 

Dos seis vereadores que apoiaram o pedido de CPI em 2020, apenas a vereadora Michele Collins (PP) é governista e detentora de mandato. O seu partido, o PP, é a segunda maior bancada da Casa. "Eu não estou sabendo formalmente. A princípio eu sigo a orientação do partido", afirmou Michele.

O líder do PP na Câmara, vereador Chico Kiko, afirmou ao JC que orientou os vereadores pepistas a não assinarem o pedido de abertura da CPI. Além dele e de Michele, também são do partido os vereadores Eriberto Rafael (PP) e Andreza Romero (PP). 

"Não há provas (de irregularidades). Agora, se os órgãos competentes, o juiz condenar as pessoas, o PP é totalmente a favor da justiça. A justiça é competente para isso, tem tudo para descobrir se houve ou se não houve alguma fraude, mas o que a justiça definir, eu sou o primeiro a acatar. Eu não posso entrar em jogo político da oposição", disse Chico Kiko. 

As acusações de uma tentativa de "jogo político" por parte de oposição também foram feitas na segunda-feira (24) pelo líder da bancada de governo, Samuel Salazar (MDB).  

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