Luis Miranda recebeu oferta de propina para não atrapalhar compra da Covaxin, diz revista
Um lobista teria prometido um ganho de seis centavos de dólar a Miranda por dose da vacina vendida ao Ministério da Saúde. O cálculo é de que ele poderia ganhar R$ 6 milhões, caso aceitasse o acordo
O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) - que denunciou supostas irregularidades na compra da vacina contra a covid-19 Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biontech, pelo governo Bolsonaro - teria recebido uma oferta de propina para parar de atrapalhar a comprar do imunizante, afirmou a Revista Crusoé. A revista diz ter tido acesso às conversas de Luis Miranda com interlocutores relatando as reuniões em que a propina foi oferecida.
As ofertas de propina teriam sido feitas em duas reuniões ocorridas após a conversa com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em que, segundo Miranda, ele atribuiu ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP), a responsabilidade por eventuais irregularidades no processo de compra da Covaxin.
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A conversa com o presidente foi em 20 de março, com a presença do irmão do deputado, Luis Ricardo Miranda, servidor da Saúde responsável por liberar a importação dos insumos da vacina. Eles foram recebidos por Bolsonaro para narrar ao chefe do Executivo o que detectaram como suspeito nas tratativas para importação da Covaxin.
Já no dia 31 de março, de acordo com a Crusoé, Miranda foi convidado para participar de uma reunião em uma residência no Lago Sul, em Brasília, por Silvio Assis, um renomado lobista de Brasília e pessoa próxima de Ricardo Barros.
Segundo informou a Crusoé, nesta reunião Silvio Assis demonstrou a sua preocupação para que a compra da Covaxin tivesse êxito. O lobista tentou na conversa tornar ele e seu irmão aliados, para que o servidor deixasse de impor dificuldades para o negócio. Assis prometeu que o próprio deputado também seria recompensado caso aceitasse o acordo, sendo garantida a sua reeleição.
No mês de maio, foi marcado um novo encontro por mensagens de WhatApp, na mesma residência da reunião anterior. O próprio Ricardo Barros estava presente desta vez. De acordo com a Crusoé, o tom inicial da conversa foi semelhante ao da anterior, o que teria deixado mais evidente o papel do lobista nessas tratativas: conseguir a conclusão da venda das vacinas, atuando como representante da Precisa Medicamentos, intermediária entre o governo brasileiro a indiana Bharat Biotech.
Ainda de acordo com a revista, em determinado momento da conversa, Assis reafirmou que Miranda poderia ser recompensado caso passasse a integrar o acordo. Ele então começou a tratar mais abertamente sobre valores e prometeu um ganho de seis centavos de dólar a Miranda por dose da vacina vendida ao Ministério da Saúde. O cálculo é de que ele poderia ganhar US$ 1,2 milhão, o equivalente a R$ 6 milhões, caso aceitasse.
Nas conversas às quais a Crusoé teve acesso, o deputado garante que recusou a oferta de Silvio Assis. Em uma dessas conversas, ocorrida nessa terça-feira (29), ele afirma que chegou a ameaçar dar voz de prisão para ele. Miranda também teria dito que não acredita em uma relação entre a conversa com o presidente e a com o lobista.
A residência onde houve as reuniões possui um detector de metal na entrada, que serve para impedir gravadores ou algum outro equipamento. Este local seria utilizado apenas para reuniões, segundo relataram vizinhos da área.
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O que dizem os envolvidos
O deputado Luis Miranda afirmou que não se pronunciaria sobre as conversas com Silvio Assis e Ricardo Barros, pois preferia tratar sobre isso com a Polícia Federal, caso seja chamado para depor.
Já Silvio Assis confirmou que recebeu Luis Miranda em algumas ocasiões, porém negou que nelas tenha tratado sobre a compra de vacinas. “Se tratou de vacina (nos encontros), não foi comigo, não. Nem conversei isso. Nada", afirmou à Crusoé.
Ele admitiu que Ricardo Barros esteve presente em um dos dias. "Com o Luis eu tenho uma relação nova. Ele esteve no meu escritório três vezes, ou quatro, não me recordo precisamente. Não tem nada de anormal, não”, disse. "O Ricardo é amigo, tem mais de dez anos que eu conheço", completou.
O líder Ricardo Barros não se manifestou sobre o caso até então.