Ministro da Defesa ameaça democracia e afirma que não haverá eleições em 2022 sem voto impresso, diz jornal
Braga Netto, porém, nega ter flertado com uma ruptura institucional e chamou de invenção a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo
O ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, teria ameaçado a democracia e afirmado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que as eleições gerais não serão realizadas em 2022 se não houver voto impresso e auditável até lá no Brasil. O duro recado foi dado no dia 8 de julho, na companhia dos chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
Após a suposta ameaça de ruptura institucional, o pepista teria se reunido com um grupo de parlamentares e juristas mais próximos e disse que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. Diante da possibilidade de o Congresso rejeitar a proposta de emenda à Constituição que prevê o voto impresso, que tramita em uma Comissão Especial da Câmara, Bolsonaro subia cada vez mais o tom.
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No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repetiu a mensagem publicamente: "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", disparou o mandatário para apoiadores que diariamente se reúnem no cercadinho do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.
Lira teria considerado o recado de Braga Netto uma ameaça de golpe de Estado e, por isso, teria procurado Bolsonaro para falar sobre a questão. Em uma longa conversa, o presidente da Câmara, que também é líder do Centrão na Casa, teria dito para não contar com ele para qualquer ato de ruptura institucional, de golpe ou quebra da Democracia.
Na conversa, Lira teria garantido a Bolsonaro que iria com ele até o fim, com ou sem crise política, mesmo que lhe custasse a reeleição em 2022. No entanto, foi enfático ao afirmar que não admitiria um golpe. E o presidente teria respondido que nunca havia defendido um golpe, por respeitar “as quatro linhas da Constituição”, como costuma dizer em público.
Foi nesse contexto que o tema semipresidencialismo entrou de vez na agenda da Câmara. Lira conversou com o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) e pediu que ele acelerasse a coleta de assinaturas para a emenda que pode instituir o novo sistema de governo no País. Para tramitar, a proposta precisa de 171 assinaturas. Adotado em países como França e Portugal, o modelo tira poderes do presidente.
Episódio anterior
Um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) a par dos diálogos avaliou que o comando militar procurou repetir agora o episódio protagonizado pelo então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que, em post com 239 caracteres publicado no Twitter no dia 3 de abril de 2018, tentou constranger a Corte para que não fosse concedido um habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No dia do julgamento que poderia pôr o petista em liberdade, Villas Bôas escreveu nas redes sociais que o Exército brasileiro julgava compartilhar “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade” e se mantinha “atento às suas missões institucionais”. O Supremo manteve Lula preso. De volta à arena política, o petista é hoje o principal adversário de Bolsonaro para as eleições de 2022.
Envolvidos negam
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, nesta quinta-feira (22), ao blog da jornalista Ana Flor, no portal G1, que é "mentira" a informação do jornal "O Estado de S. Paulo" de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, teria enviado um recado a ele avisando que, se não houver a aprovação do voto impresso e "auditável", não haveria eleições em 2022.
Lira disse que irá soltar uma nota sobre o tema, negando a informação trazida pelo jornal.
O Ministério da Defesa não se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Mas, na manhã desta quinta, ao chegar ao Ministério da Defesa, Braga Netto foi questionado por jornalistas sobre a reportagem. Ele disse que é "invenção".