Agenda de Lula em Pernambuco vira centro do debate na Câmara do Recife
Vereadores da oposição criticaram reaproximação entre PT e PSB e governistas saíram em defesa do ex-presidente
A recente viagem de Lula ao Recife - primeira cidade de uma caravana que o petista está fazendo no Nordeste - continua repercutindo em Pernambuco. O jantar que o petista participou no Palácio do Campo das Princesas com o governador Paulo Câmara e outros nomes do PT e do PSB foi alvo de debate na sessão desta terça-feira (17) na Câmara Municipal do Recife.
O vereador Alcides Cardoso (DEM) introduziu o assunto no seu discurso. Ele lembrou que o encontro se deu um ano e meio após as eleições do Recife, que teve o prefeito João Campos (PSB) e a deputada federal Marília Arraes (PT) no segundo turno. Os dois partidos romperam no ano passado e o PT entregou os cargos no governo estadual e na Prefeitura do Recife.
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“Foi uma vergonha Pernambuco receber a visita de um ex-presidiário, no Palácio do Campo das Princesas, com toda a pompa. O objetivo era para costurar uma nova aliança de olho nas eleições de 2022 e se perpetuar no poder do Recife e de Pernambuco. Lula foi julgado, condenado, preso e solto monocraticamente”, afirmou o democrata.
O encontro foi visto como um sinal de reaproximação entre as duas siglas para as eleições de 2022. O ex-presidente Lula é pré-candidato à Presidência da República e busca um palanque em Pernambuco.
“O Brasil livrou-se do PT. Pernambucanos e recifenses abram os olhos. São 20 anos de Prefeitura e 16 anos do governo do Estado com PT e PSB. Recebi telefonemas e mensagens com a revolta de várias pessoas. Ano que vem teremos eleições. Vamos tomar curso e não vamos deixar que recebam uma pessoa que foi líder do petrolão”, completou Alcides.
Vereadores da base do prefeito João Campos responderam às críticas de Alcides Cardoso. O vice-líder do governo Rinaldo Junior (PSB) acusou o democrata de tentar “criar um fato” para ocupar espaços.
“Eu não poderia esperar outra fala dele, que quer fazer desta tribuna um palanque do seu partido. O DEM está ligado ao seu verdadeiro líder, que é aquele que ocupa o posto máximo do Poder Executivo em Brasília”, disse Rinaldo, referindo-se ao apoio do DEM ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O socialista também se mostrou contrário a afirmação do democrata de que a população não aprova o PT e o PSB juntos. “Lula vem ao Recife porque pode vir, para fazer articulações políticas e apresentar os seus projetos. Ele é o maior líder popular deste país. Quem não pode vir aqui é Bolsonaro, que é machista e racista. E a população do Recife vai continuar dando resposta negativa ao partido do vereador, o DEM, que passou 500 anos no poder, sem olhar para o povo e para a classe trabalhadora”, disse.
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Repercussão
A vereadora Dani Portela (PSOL) foi um dos nomes do PSOL que se encontrou com Lula no domingo (15) em um hotel na Zona Sul do Recife, assim como outros políticos de partidos de esquerda.
Ela classificou a visita de Lula como parte da construção de um “projeto político popular”.
“Agora, mais do que nunca, é o momento de derrotarmos não apenas a figura de Bolsonaro, mas dos princípios bolsonaristas do desprezo pelos pobres, da misoginia, do racismo, da LGBTQIA+fobia, da intolerância religiosa, do neoliberalismo, que tem feito com que as nossas riquezas sejam entregues ao capital estrangeiro”.
Cida Pedrosa (PCdoB) também saiu em defesa do presidente. Na avaliação da parlamentar, o encontro entre Lula, Paulo e João foi uma conversa de democratas.
"O nosso governador e o nosso prefeito receberam um ex-chefe de Estado porque são democratas, e democratas conversam, recebem. Gostaria de colocar que é calúnia, injúria e difamação, o ex-presidente Lula não foi condenado. A decisão não foi monocrática"
Ela citou ainda a ida do ex-presidente ao assentamento Che Guevara no município de Moreno, Região Metropolitana do Recife (RMR), nessa segunda-feira (16), como parte da sua agenda no estado.
"A gente tem postada a foto do presidente Lula no meio de um assentamento cheio de verduras, cercado por farturas promovidas pelo MST. Quando a direita sobe ao poder, persegue aqueles que são capazes de botar comida na nossa mesa, diariamente, com a agricultura familiar, que foi extremamente apoiada pelo governo Lula e morre à míngua do governo Bolsonaro, que apoia o agronegócio e grandes empresários".
Já o líder da oposição, Renato Antunes (PSC) criticou a gestão de Lula na Presidência da República, e falou das irregularidades investigadas na Operação Lava Jato.
“Eu não concordo com a frase de que os fins justificam os meios. O presidente Lula fez muita coisa, é verdade. Distribuiu renda. Mas a que custo? Não posso concordar com o retorno, dentro das várias opções que nós temos”.
Renato considerou natural o movimento do petista em buscar alianças para fortalecer a sua candidatura a presidente, mas questionou a aproximação de João Campos depois do confronto na eleição da capital pernambucana.
“O que me incomodou foi a postura do prefeito desta cidade, que quando estava em eleição foi muito duro com uma ex-colega nossa, a deputada federal Marília Arraes. João Campos utilizou o antipetismo para vencê-la no segundo turno, para buscar o voto daqueles que estavam na centro-direita. É uma brincadeira com a inteligência do povo pernambucano”, disse.