Influência

Pabllo Vittar, Fabio Porchat e Regina Duarte podem conseguir votos para Lula, Ciro e Bolsonaro?

O uso da influência da classe artística como mecanismo de atração para possíveis votos, não é um fenômeno novo, mas acaba sendo ainda mais impulsionado com as redes sociais

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Mirella Araújo

Publicado em 18/12/2021 às 8:00
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Depois de ver viralizar uma publicação dizendo que seu voto seria no ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro (Podemos), o apresentador e humorista Fábio Porchat correu às redes sociais para declarar seu voto no pré-candidato do PDT, Ciro Gomes. "Sinto decepcioná-los, mas em 2022 eu vou de Ciro Gomes mesmo", publicou. A fala repercutiu de imediato e várias lideranças pedetistas, incluindo o próprio presidenciável, fizeram questão de agradecer Porchat pelo apoio. "Vou fazer ao máximo para não decepcionar a você e a quem mais confia neste projeto", disse Ciro.

Na mesma semana, a cantora Pabllo Vittar não escondeu o desejo de receber o convite do ex-presidente Lula (PT) para se apresentar em sua posse, caso seja eleito presidente da República. "Estou só esperando o ano que vem para poder votar. Vai ser Lula em 2022. Sou a primeira a levantar essa bandeira porque passei por muita coisa nessa vida. Eu lembro quando o Bolsa Família foi criado e eu pude ir ao mercado fazer compras para a minha mãe. Quem não teve que passar por isso fala o que quer", declarou a artista, também por meio das redes sociais.

A pressão por um posicionamento político nas redes sociais, têm feito artistas se anteciparem à corrida eleitoral, seja para declararem abertamente sobre quem irão apoiar nas eleições presidenciais em 2022 ou tecer críticas sobre o atual cenário do Brasil. Esse apelo midiático inevitavelmente gera um impacto orgânico na campanha dos postulantes, nos debates pertinentes às eleições e, consequentemente, na intenção de voto, No entanto, isso não se trata de um fenômeno novo.

“O tempo passa e surgem novos meios e novas mídias, mas o formato, contexto e resultado são os mesmos. As redes exponenciam isso de uma forma imediatista e reincidente, diferentemente da televisão atualmente, só que agora o controle desse fluxo não é definido por um grupo de emissoras ou empresários, mas por um grupo de algoritmos em escala global controlados por uma única empresa, o Facebook, que não é auditado por nenhum órgão ou instituição independente”, explica Paulo Rebêlo, diretor da Paradox Zero, e mestre em Gestão de Mídias.

A presença de atores, cantores e outras celebridades nas campanhas e manifestações políticas pode ser utilizada como uma ferramenta para dar credibilidade ao projeto que recebe esse apoio. Mas, a transformação dessa rede de influência em votos, é algo difícil de medir. Por conta da polarização do cenário para 2022, entre Lula e Bolsonaro, e a aproximação direta com os eleitores através das redes sociais, acaba se criando uma imagem de que há maior pressão para o posicionamento destas figuras públicas.

“Cada vez mais essa ideia de uma neutralidade política, ela não combina com o momento que a gente vive de ativismo digital. As celebridades emprestam a sua popularidade, emprestam seu apelo emocional junto aos seguidores e fãs, para políticos. Isso não é uma novidade da era digital, porque nós já tínhamos os showmícios, na utilização dos artistas nos grandes eventos da política e fazer esse alinhavo emocional nas questões políticas”, pontua a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda, Priscila Lapa.

“Diante de uma guerra de informações e posicionamentos, a influência dos artistas pode ajudar sim a formar simpatizantes angariar pessoas que estavam indecisas e podem passar a ter a partir dessa publicização”, complementa a docente.

Apoios históricos

O cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel, rememora exemplos clássicos da utilização desse “poder de credibilidade” dos artistas para impulsionar projetos políticos. Na campanha presidencial de 1989, um vídeo com o  jingle "Lula lá", reuniu diversos artistas como Chico Buarque, Marieta Severo, Gal Costa e Djavan, entre outros.

Outro vídeo que também repercutiu muito durante a campanha presidencial, foi o da atriz Regina Duarte, que em 2002 apoiou a candidatura de  José Serra (PSDB). Na peça ela afirma: “Estou com medo”, referindo-se a possibilidade de eleição do então candidato Lula, o que acabou ocorrendo naquele ano. Nas eleições de 2018, a atriz voltou à cena ao declarar apoio à candidatura de Jair Bolsonaro, na época filiado ao PL. Ela se tornou uma defensora ferrenha do governo bolsonarista e chegou a assumir a Secretaria de Cultura, mas logo deixou o cargo, sendo substituída pelo também ator, Mário Frias.

Após sua eleição, Bolsonaro viu o crescimento do apoio da classe artística crescer. Muitos artistas saíram as ruas nas manifestações pró-governo mostrando que estão alinhados com a pautas bolsonaristas. Cantores do meio sertanejo, por exemplo, como os cantores Zezé Di Camargo, Gusttavo Lima e Sergio Reis, não escondem seu apoio pelo capitão da reserva. 

REPRODUÇÃO
Regina Duarte defendeu a eleição de Bolsonaro - REPRODUÇÃO

“Você viu um movimento migrando da TV para as mídias sociais. São pessoas que geram credibilidade para os seus públicos e tentam transferir essa credibilidade para a arena política. É muito difícil saber quando isso gera votos, mas agrega credibilidade ao político que recebe destes artistas”, afirmou Vanuccio Pimentel.

“O uso das redes sociais como maneira de relacionar com o eleitor, de forma clara e direta, com produção bem organizada, não tem mais volta. Nós vamos continuar tendo os espaços tradicionais de TV e Rádio, porque eles ainda atingem um público muito grande, mas as redes sociais continuarão com um peso importante. A diferença das últimas eleições, é que houve modificações jurídicas e vai haver uma atenção maior sobre as fake news”, complementa Pimentel.

Ainda que não expressem abertamente quem será o seu candidato, muitos artistas não deixam de expressar suas impressões e críticas com relação à política. Eleita pela Academia Brasileira de Letras (ABL) para ocupar a cadeira 17, a atriz e escritora Fernanda Montenegro, em entrevista à Folha de S. Paulo, mostrou sua desaprovação tanto por Bolsonaro (PL) quanto por Lula. "Estamos vivendo um momento complicadíssimo, porque esse horror [Bolsonaro] quer continuar, e o outro [Lula], apesar de ter sido bastante interessante, quer voltar. Mas com quem? Com o quê? Com qual atendimento político honesto e sadio, sem ter que comprar votos para continuar, por exemplo?", disse. "[Se o Lula voltar], seria como uma reeleição."

LEILA FUGI/DIVULGAÇÃO
Fernanda Montenegro foi eleita para a Academia Brasileira de Letras - LEILA FUGI/DIVULGAÇÃO

 

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