ELEIÇÕES 2022

'O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar em Bolsonaro', diz Lula sobre a PEC Kamikaze

Em entrevista exclusiva ao JC, Lula afirmou que os favorecidos pela PEC Kamikaze, que amplia o pagamento de benefícios sociais pelo governo às vésperas da eleição, vão pegar o dinheiro e não votar no presidente

Amanda Azevedo
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Amanda Azevedo
Publicado em 19/07/2022 às 21:31 | Atualizado em 19/07/2022 às 21:59
RICARDO STUCKERT
Lula concedeu entrevista exclusiva ao JC antes de voltar a Pernambuco, nesta quarta (20) - FOTO: RICARDO STUCKERT
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Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que os favorecidos pela Proposta de Emenda à Constituição Kamikaze, que amplia o pagamento de benefícios sociais pelo governo às vésperas da eleição, vão pegar o dinheiro e não votar no presidente Jair Bolsonaro (PL) em outubro.

"Se Bolsonaro pensa que vai ganhar o voto do povo dando isso por três meses, terá uma grande lição. O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar nele", disse Lula.

Questionado sobre os votos favoráveis de petistas à PEC Kamikaze, Lula disse que trata-se de um "ato de humanidade".

"Há dois anos, Bolsonaro propôs R$ 200 de auxílio, o PT propôs R$ 600 de auxílio emergencial. O Congresso colocou em R$ 500, Bolsonaro baixou para R$ 400, agora propõe R$ 600 de novo. Votamos a favor dos R$ 600 e votaríamos de novo porque é um ato de humanidade, o povo precisa disso diante dos preços que disparam no supermercado", afirmou o ex-presidente.

Leia a íntegra da entrevista concedida por Lula ao JC

Liderando as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto nas eleições 2022, Lula vem a Pernambuco para atos em Serra Talhada, no Sertão, Garanhuns, no Agreste, e Recife nesta quarta (20) e quinta-feira (21).

Antes de chegar ao Estado, o petista concedeu entrevista exclusiva, por e-mail, ao Jornal do Commercio. Além da PEC Kamikaze, ele respondeu perguntas a respeito de temas como a corrida eleitoral em Pernambuco, a situação econômica do Brasil, a escalada da violência política e um eventual apoio dos partidos do 'centrão' caso seja eleito.

JORNAL DO COMMERCIO - Em Pernambuco o senhor já chegou a fazer menções a um palanque duplo, com Marília Arraes (SD) e Danilo Cabral (PSB). O senhor tem votos entre aqueles que apoiam Marília e entre os que apoiam Danilo. Para ficar claro, o seu conselho, seu pedido, é para que esses eleitores, hoje com Marília, votem no candidato do PSB?

LULA  - O PT tem uma aliança nacional com o PSB e uma aliança com o PSB em Pernambuco. Meu candidato em Pernambuco é Danilo Cabral e estou indo para agendas com ele em Serra Talhada, Garanhuns e Recife.

JC - O Brasil está em uma situação econômica difícil, mas o panorama é ainda mais crítico em países como o Chile e a Argentina, cujos governos o senhor apoia. O que foi feito lá e que não pode ser repetido aqui, caso o senhor vença a eleição?

LULA - Os problemas do Brasil não têm nada a ver com Chile ou Argentina. Os graves problemas do nosso País têm a ver com o atual desgoverno. Se eles se preocupassem com o povo brasileiro, conversassem com empresários e trabalhadores, tivessem uma boa imagem internacional, o País estaria muito melhor.

O Brasil hoje está pior do que eu peguei em 2003. Mas eu estou melhor que em 2003. Mais experiente, com mais vontade, sabendo o que tem que ser feito e vou montar a melhor equipe de governo que esse país já viu para montar o melhor governo que esse País já teve.

Garantir três refeições ao dia, emprego para o povo, que os trabalhadores voltem a ter direitos e as pessoas possam pagar suas contas, fazer seu mercado, até o fim do mês e ainda, se quiserem, um churrasquinho no fim de semana.

JC - A oposição, incluindo o PT, votou a favor da PEC Kamikaze, principal aposta de Bolsonaro para recuperar popularidade e voltar ao páreo na corrida eleitoral. Como conter esse crescimento que pode ser provocado pelos benefícios sociais resultantes dessa proposta? O senhor teria votado a favor se fosse parlamentar?

LULA - Há dois anos, o Bolsonaro propôs R$ 200 de auxílio, o PT propôs R$ 600 de auxílio emergencial. O Congresso colocou em R$ 500, Bolsonaro baixou para R$ 400, agora propõe R$ 600 de novo. Votamos a favor dos R$ 600 e votaríamos de novo porque é um ato de humanidade, o povo precisa disso diante dos preços que disparam no supermercado.

Se o Bolsonaro pensa que vai ganhar o voto do povo dando isso por três meses, terá uma grande lição. O povo vai pegar o dinheiro e não vai votar nele.

JC - Qual o papel de Alckmin na sua campanha? Há quem aponte papel importante de interlocutor com o mercado e com setores de centro e centro-direita. Se resume a isso? Como apresentá-lo como seu vice, principalmente no Nordeste, onde o ex-tucano apresentou dificuldades nas últimas eleições?

LULA - O Alckmin não é vice só para participar da campanha, não. Ele será participante integral do governo, ajudando-nos a governar com a experiência que ele tem. Se eleitos, faremos um governo amplo, de diálogo e muito trabalho porque precisaremos de todos para consertar o desastre e destruição desses últimos anos.

Alckmin vai participar de todas as reuniões, irá nos representar onde for necessário. E tenho certeza que a experiência de quem governou São Paulo por 14 anos irá ajudar muito o Brasil.

JC - Recentemente, percebe-se uma escalada na violência política no País. A morte de Marcelo Arruda foi o ápice. O senhor considera que de alguma forma seu discurso ou o do PT pode ser parte dessa conflagração. Há solução?

LULA - O PT existe desde 1980. Disputa eleições desde 1982, presidenciais desde 1989. E nunca tivemos essa briga e violência que tem agora. Porque política para nós é uma oportunidade de conscientização, não promover barbárie, como esse governo golpista. Nós sabemos e faremos campanha com paz e muito amor.

JC - A LDO de 2023 foi aprovada sem obrigatoriedade do pagamento de emendas do ‘orçamento secreto’. Há chances desse mecanismo voltar num eventual Governo Lula? O senhor vai tentar de alguma forma combater o orçamento secreto?

LULA - Vou fazer todos os esforços para que a gente não tenha orçamento secreto em 2023. Vamos ter é orçamento transparente. E participativo, com sugestões de toda a sociedade brasileira, a partir de 2023.

JC - Em nome da governabilidade e aprovação de mudanças que o PT considera importantes para a população, o senhor aceitaria o apoio do chamado 'centrão', que hoje está com Bolsonaro e, no passado, apoiou a queda de Dilma Rousseff? Já há conversas com líderes desse setor?

LULA - O centrão é uma realidade da política brasileira, mas não é um partido político. É um conjunto de parlamentares de vários espectros ideológicos, que tentam construir uma maioria para governar como eles querem.

E eu pretendo governar com os parlamentares eleitos, não preocupado com seus preceitos ideológicos ou interesses, mas convencê-los que os interesses do Brasil são maiores do que qualquer grupo.

Veja ao vivo a visita de Lula a Pernambuco

Nesta quarta-feira (20), Lula participa de ato público em Garanhuns, no Agreste, às 9h, e em Serra Talhada, no Sertão, às 16h. A TV JC fará a transmissão ao vivo.

Acompanhe ao vivo ato de Lula em Garanhuns

Acompanhe ao vivo ato de Lula em Serra Talhada

Na quinta-feira (21), Lula estará no Recife. A agenda inclui encontro com representantes do setor cultural, previsto para acontecer no Teatro do Parque, almoço na casa de Danilo Cabral (PSB), e ato público no final da tarde, no Classic Hall.

Confira a agenda de Lula em Pernambuco

Quarta-feira (20)

  • 9h: Ato público em Garanhuns, na Arena 177
  • 14h: Visita a casa de Dona Lindu
  • 16h: Ato público em Serra Talhada, na Antiga Estação Ferroviária

Quinta-feira (21)

  • 10h30: Evento com representantes do setor cultural
  • Almoço na casa de Danilo Cabral
  • 17h: Ato público no Recife, no Classic Hall

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