Eleições 2022

Polarização entre Lula e Bolsonaro se mantém no primeiro debate presidencial de 2022, na Band

Lula e Bolsonaro trocaram acusações e foram o principal alvo dos outros candidatos

Cássio Oliveira
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Cássio Oliveira
Publicado em 29/08/2022 às 0:36 | Atualizado em 29/08/2022 às 0:47
Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo
Debate da Band para presidente do Brasil 2022 - FOTO: Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo
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Com Estadão Conteúdo

O primeiro debate das eleições de 2022, realizado pela TV Band, nesse domingo (28), foi marcado pela troca de acusações entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

À frente nas pesquisas recentes de intenção de voto, Lula e Bolsonaro também acabaram sendo os principais alvos de ataques dos adversários Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe d'Avila(Novo) e Soraya Thronicke (União), que também participaram do debate.

Corrupção

O debate começou com Bolsonaro fazendo uma pergunta a Lula sobre corrupção. O presidente afirmou que o governo do petista foi o mais corrupto da história do Brasil.

A estratégia da campanha do chefe do Executivo é tentar aumentar a rejeição a Lula no eleitorado ao relembrar escândalos de desvio de dinheiro.

"O seu governo foi o governo mais corrupto da história do Brasil", declarou Bolsonaro. O presidente também disse que as administrações petistas foram caracterizadas pela "cleptocracia", ou seja, "à base do roubo".

Lula rebateu e disse que Bolsonaro está destruindo o Brasil. "As pessoas precisam saber que inverdades não valem a pena na televisão. Citar números mentirosos não vale a pena. Não tem nenhum presidente da República que mais fez (no combate à corrupção). Lei Anticorrupção, AGU, fizemos Coaf funcionar", citou Lula, durante participação no debate presidencial.

Auxílio Brasil

Outro embate entre Lula e Bolsonaro ocorreu em uma pergunta feita pela organização do debate, sobre o Auxílio Brasil no valor de R$ 600.

Bolsonaro foi questionado se o governo conseguiria manter o teto de gastos para continuar com o valor de R$ 600, que, pela lei, só está garantido até dezembro deste ano.

O presidente evitou dizer como bancar a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 a partir de 2023, mas disse que a medida será feita com responsabilidade fiscal.

"De onde retirar dinheiro? Tenho conversado com a equipe econômica, acertado com eles, com responsabilidade fiscal", disse o presidente. "Como conseguir recursos? Não roubando, não metendo a mão no bolso do povo", emendou.

Lula, por sua vez, acusou o adversário de mentir sobre a promessa. "Importante lembrar que a manutenção dos R$ 600 não está na LDO (Lei das Diretrizes Orçamentárias) mandada para o Congresso Nacional. Existe uma mentira no ar", retrucou o petista no segundo bloco do debate.

Lula ainda rebateu Bolsonaro, ao dizer que o PT reivindica há dois anos o valor pago atualmente pelo auxílio. "Bancada do PT votou favorável ao auxílio de R$ 600, mas é preciso que a gente faça essa política concomitante à política de crescimento. Candidato adora citar números absurdos", provocou ao terminar a resposta dizendo que Bolsonaro "vendeu Eletrobras, privatizou a BR e está loteando a Petrobras".

Polarização

A candidata a presidente da República Simone Tebet (MDB) lamentou, em suas considerações finais no debate presidencial, a polarização entre Bolsonaro e Lula. "Falando do passado, alimentando o ódio, dividindo as famílias e polarizando o Brasil", afirmou. "Triste o Brasil que tem que escolher entre o petrolão e mensalão do PT e o escândalo de corrupção da educação e do orçamento secreto do atual governo", disse. Segundo ela, seu governo irá acabar com a fome, miséria e discriminação.

Ciro Gomes também disse ser "deprimente um País como o nosso ficar discutindo quem é mais corrupto, quem é menos corrupto". "Minha luta é contra modelo econômico que é o mesmo rigorosamente há 25, 30 anos, que montou uma máquina perversa de transferir renda", declarou Ciro.

Contra o atual modelo de governança, o candidato disse que é preciso banir a corrupção, mas afirmou que ela não se trata de uma "maldade da alma" de nenhum dos adversários. Segundo ele, corrupção é uma "prostração moral que todos eles fizeram um modelo de governança política com a ideia de que você só vai governar se tiver sustentação no Congresso se transformar a Presidência da República em testa de ferro de roubalheira".

Lula e Ciro Gomes

Antigos aliados, Lula e Ciro Gomes, hoje, estão em lados opostos e no debate esse racha ficou visível. Principalmente pelas falas de Ciro.

Lula havia sido questionado se conversaria com Ciro para apoio em eventual segundo turno e elogiou o ex-ministro. Mas Ciro rebateu dizendo que o petista se deixou corromper.

Ciro classificou Lula como "encantador de serpentes": "quer sempre trazer as coisas para o lado pessoal". O candidato, então, atribuiu ao petista a ascensão do presidente Bolsonaro. "Não acho que Bolsonaro desceu de Marte. Bolsonaro foi um protesto absolutamente reconhecido contra a devastadora crise econômica que o Lula e o PT produziram", declarou.

Lula acenou a Ciro Gomes com uma possível aliança caso vença as eleições deste ano, mas provocou o pedetista ao pedir que "fiquei no Brasil, e não fui para Paris".

"O Ciro resolveu não estar conosco, não ter candidatura própria. É um direito dele. Se ganhar as eleições, vamos ver se conseguimos atrair o PDT para participar do nosso governo", afirmou ao dizer também ter "profunda deferência" pelo ex-aliado

"Tem três pessoas que eu tenho profunda deferência no Brasil. Mário Covas, Requião e Ciro Gomes. Eles podem falar mal de mim, mas eles têm o coração mais mole que a língua. São muito mais compreensíveis aos problemas sociais", destacou.

Lula disse, no entanto, que o pedetista vai pedir desculpas a ele por chamá-lo de corrupto e relembrou o episódio em que Ciro foi para Paris no segundo turno das eleições de 2018.

Ataque à jornalista

Por não gostar da formulação de uma pergunta, o presidente Jair Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães no debate da Band. Bolsonaro alterou o tom de voz ao responder pergunta de Vera e disse que a jornalista era mentirosa.

A candidata do União Brasil ao Palácio do Planalto, Soraya Thronicke, criticou o ataque que o presidente Jair Bolsonaro fez à jornalista. Recentemente, o chefe do Executivo foi chamado de "tchutchuca do Centrão" por um youtuber e Soraya usou isso em sua fala.

"Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico incomodada", declarou a candidata. "Lá no meu Estado tem mulher que vira onça e eu sou uma delas", emendou.

A candidata à Presidência Simone Tebet (MDB) reforçou críticas a Bolsonaro ao afirmar que não tem medo dele nem de seus ministros Segundo a candidata, ela sofreu violência política na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em 2021, a qual integrou.

"Recebi violência política na CPI, fui chamada de descontrolada. um outro me ameaçando porque queria me impedir de falar e de participar da 'CPI da Vida'. E pior que isso, um ministro seu de Bolsonaro tentou me intimidar entrando no Supremo Tribunal Federal porque eu denunciei o esquema de corrupção da vacina que vossa excelência não quis comprar", declarou.

Meio ambiente

Ao abordar o tema preservação do meio ambiente, o candidato Felipe d'Avila, sem citar diretamente Bolsonaro, disse que o país precisa voltar a ter credibilidade no exterior. 

"Eu tenho certeza absoluta que o Brasil vai ser um exemplo em ser esse país que vai capturar 50% do carbono do mundo, da uma lição para o mundo. E isso vai ser fundamental para recuperar a credibilidade internacional do Brasil. O Brasil jamais vai voltar a ser um país confiável nas relações internacionais se continuar tratando o meio ambiente com o descaso que vem tratando nos últimos anos", afirmou.

A inserção internacional do Brasil foi um dos temas que o candidato Lula destacou no debate para diferenciar seu governo da administração Jair Bolsonaro. "O País era respeitado pelo mundo, pelos EUA, Chile, China, Índia, Rússia, União Europeia", apontou Lula. 

O contexto global levantado por Lula para ressaltar um dos principais problemas do governo de Jair Bolsonaro com a preservação ambiental, onde inclusive houve um grande avanço do desmatamento em florestas nos últimos três anos. O atual presidente e candidato do PL não respondeu a Lula e preferiu bater na tecla de que o governo do PT "foi o mais corrupto da história do Brasil."

Lula atacou o governo Bolsonaro na questão ambiental e acusou a gestão de incentivar o desmatamento dos biomas. O petista disse ainda que o Brasil é visto internacionalmente como País que "não respeita o meio ambiente".

"O Brasil rompeu acordo com Alemanha e Noruega (sobre redução do desmatamento). Não há nenhum cuidado com a questão ambiental. Temos gente do governo que incentiva (o desmatamento). Tivemos ministro que dizia deixa a boiada passar", afirmou o petista.

Em contraponto à agenda ambiental de Bolsonaro, o ex-presidente destacou ter feito em seus governos acordos internacionais para redução do desmatamento e de emissão de gases do efeito estufa. Ele ainda voltou a fazer acenos ao agronegócio "sério". "Nenhum empresário sério que conhece a relação da questão ambiental do mundo vai fazer queimada ou destruir os biomas".

STF

Bolsonaro fez críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu os empresários que falaram em golpe de Estado caso o ex-presidente Lula vença as eleições.

"Um ministro agora há pouco interferiu, mandando investigar, fazendo busca e apreensão, entre outras barbaridades", declarou Bolsonaro, em referência a Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

"Não tenho problemas com poder nenhum. Alguns ministros do Supremo querem interferir no Poder Executivo de qualquer jeito", emendou

O presidente também atacou o MDB, da candidata Simone Tebet, ao dizer que "abalou a harmonia onde todos eram amiguinhos". Bolsonaro disse que alguns partidos se incomodaram por ele ter escolhido ministros por critérios técnicos, apesar de ter, durante seu mandato, se aliado ao Centrão.

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