Eleições 2022

Campanhas de Bolsonaro e Gilson Machado contrataram empresa pernambucana investigada por fraude em licitação e lavagem de dinheiro

Segundo apuração realizada pelo jornal O Globo, apesar de a Unipauta Formulários Ltda ter sido contratada pela campanha de Bolsonaro apenas no segundo turno, representa o quarto maior gasto do presidente na eleição

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 09/11/2022 às 12:07 | Atualizado em 09/11/2022 às 12:15
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Gilson Machado Neto (PL) é ex-ministro do Turismo do Governo e aliado próximo de Jair Bolsonaro (PL) - FOTO: Reprodução
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Reportagem publicada no blog Malu Gaspar, do site do jornal O Globo, aponta que a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou quase R$ 5 milhões este ano com os serviços da gráfica Unipauta Formulários Ltda. A proprietária da empresa é Sandra Figueroa da Silva, ex-mulher de Sebastião Figueroa Siqueira, empresário pernambucano investigado pela Polícia Federal e pela Justiça por seu suposto envolvimento com os crimes de lavagem de dinheiro e fraudes licitatórias no Estado.

A matéria explica que, apesar de a Unipauta ter sido contratada pela campanha de Bolsonaro apenas no segundo turno do pleito, representa o quarto maior gasto do presidente na eleição. A reportagem faz questão de frisar, contudo, que não há até o momento nenhuma evidência de irregularidades na contratação.

Em Pernambuco, a empresa também foi contratada pela campanha de Gilson Machado Neto (PL) ao Senado, por R$ 1,7 milhão. O montante representa quase 90% de todo o orçamento da campanha dele, que foi de R$ 2,4 milhões. A assessoria de imprensa do ex-ministro do Turismo foi procurada para que ele comentasse a contratação, mas não encaminhou resposta ao JC até a publicação deste texto. Entre os candidatos a governador, nenhum utilizou os serviços da gráfica em 2022.

Segundo dados disponíveis na plataforma Divulgacand do TSE, Bolsonaro gastou R$ 4,7 milhões com bandeiras, adesivos, santinhos, folders e outros materiais gráficos entre 14 e 21 de outubro. Não foram apresentadas notas fiscais do serviço para a Justiça Eleitoral até o momento, mas o prazo que as campanhas têm para fazer isso é até 19 de novembro.

Investigações

Conforme apuração d'O Globo, Sebastião Figueroa é apontado pela PF como o suposto líder de um grupo de companhias que teria sido beneficiadas por contratos de mais de R$ 100 milhões com o Governo de Pernambuco de 2013 a 2020, entre as gestões de Eduardo Campos e Paulo Câmara (PSB). A corporação policial e o Ministério Público Federal dizem que as empresas são suspeitas de fraudes e de servirem como firmas de fachada.

A Unipauta, especificamente, foi um dos alvos da Operação Casa de Papel, que executou 35 ordens de busca e apreensão em junho de 2020 para investigar "direcionamento de licitação, desvios de recursos e lavagem de dinheiro com contratos do governo estadual para o combate à pandemia de Covid-19", segundo a reportagem.

Neste suposto esquema, afirma a PF, a Unipauta agiria como "apresentadora de propostas" em concorrências direcionadas à vitória de outras companhias, ou seja, uma laranja para dar aparência legal às licitações.

No relatório de inteligência da PF em que constam essas informações, a delegada Andrea Pinho diz que "em períodos eleitorais a Unipauta parece apresentar preços mais atrativos, tendo sido contratada por diversos candidatos para fornecimento de variados serviços, sendo favorecida, em contrapartida, com valores vultosos". Além disso, o documento diz que Sebastião era filiado ao PL desde 2003.

De 2017 até agora, o empresário ou as companhias administradas por ele já foram alvo de seis operações da PF: Casa de Papel, Antídoto, Coffee Break, Articulata (as quatro ocorridas em 2020), Contrassenso (2021) e Payback (2022). Sebastião chegou até a ter a prisão preventiva soliciatada pelo MPF há cerca de dois anos, mas ela foi convertida em medidas cautelares porque ele integrava o grupo de risco da covid-19.

Outros políticos de Pernambuco já contrataram os serviços da gráfica?

Sim. De acordo com o material assinado por Malu Gaspar e Johanns Eller, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e seus filhos Miguel Coelho (União Brasil), ex-prefeito de Petrolina, e o deputado federal Fernando Filho (UB) já negociaram com a Unipauta. Candidato a governador de Pernambuco em 2022, não há registros de contratação da empresa por Miguel no pleito este ano.

As investigações da PF também miraram no governo Paulo Câmara. "No ano passado, seu então secretário do Gabinete de Projetos Estratégicos, Renato Thiebaut, foi um dos alvos da Operação Payback da Polícia Federal. Thiebaut vivia desde 2018 em um apartamento de luxo pertencente a Figueiroa, o que foi apontado pelas investigações da PF como uma troca de favores políticos ao empresário", afirma a reportagem.

O que dizem Sebastião Figueroa e a Unipauta?

Em entrevista por telefone ao jornal do Rio de Janeiro, o empresário Sebastião Figueroa disse que a Unipauta já havia sido procurada no primeiro turno pelo partido de Bolsonaro, mas que a negociação não avançou. No segundo turno, a contratação foi feita e os materiais contratados pela campanha foram destinados ao Nordeste.

A Unipauta, por sua vez, afirmou ser "uma empresa familiar com atuação no ramo gráfico há mais de trinta anos" com "irrestrito apreço à ética e legalidade". A firma diz, ainda, que os serviços contratados pela campanha presidencial de Bolsonaro foram atendidos "de acordo com a legislação em vigor e estrita observância aos padrões de preço do mercado".

Quando questionada sobre as irregularidades indicadas pela Justiça, a empresa disse que não responde a ações penais, embora admita ser investigada.

A campanha de Bolsonaro não respondeu às perguntas encaminhada por O Globo sobre a Unipauta.

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