Tensão

Manifestantes bolsonaristas dificultaram combate ao fogo após tumulto em Brasília, diz Corpo de Bombeiros

Segundo a corporação, o grupo que tomou as ruas da capital federal, bloqueando o trânsito e incendiando ao menos oito veículos, lançou pedras e outros objetos contra ao menos três viaturas quando os militares faziam seu trabalho

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 13/12/2022 às 18:33
Evaristo Sá/AFP
Ônibus e carros foram queimados em Brasília durante manifestação de bolsonaristas, também houve tentativa de invadir a sede da PF - FOTO: Evaristo Sá/AFP
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Da Agência Brasil

Bombeiros que tentavam apagar as chamas em veículos incendiados durante tumulto na área central de Brasília, na noite desta segunda-feira (12), também foram alvo dos ataques dos manifestantes.

Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o grupo que tomou as ruas da cidade, bloqueando o trânsito e incendiando ao menos oito veículos, incluindo ônibus, lançou pedras e outros objetos contra ao menos três viaturas da corporação no momento em que os militares faziam seu trabalho, atrapalhando o combate ao fogo.

"A corporação ficou muito limitada em sua área de atuação, pois, em razão da violência da manifestação, o perigo às guarnições de bombeiros era real", informou a corporação, em nota. Só o Corpo de Bombeiros mobilizou 18 viaturas e 63 pessoas para atender às várias ocorrências.

Ainda de acordo com a corporação, só uma pessoa precisou de atendimento médico: um homem de 67 anos, cujo nome não foi divulgado desmaiou, durante a confusão. Atendido primeiramente pelos bombeiros, ele foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, reclamando de ter inalado gás lacrimogêneo e de estar sentindo dor de cabeça.

Segundo o Corpo de Bombeiros, quatro ônibus e quatro carros foram incendiados em um raio de 1 quilômetro, entre o início da Asa Norte e o começo da Asa Sul, no centro da capital federal, a apenas 4 quilômetros da Praça dos Três Poderes.

A confusão começou depois que parte dos manifestantes que estão acampados em frente ao Quartel General do Exército há mais de um mês, protestando contra o resultado das eleições presidenciais, tentaram invadir a sede da Polícia Federal, na Asa Norte, no início da noite de ontem.

O catalisador dos atos violentos teria sido a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Acácio, um dos manifestantes acampados diante do QG do Exército, foi detido ontem à tarde.

Ex-candidato à prefeitura de Campinápolis (MT), ele se apresenta como uma das lideranças da Terra Indígena Parabubure e, em vídeos compartilhados pelas redes sociais, questiona o processo eleitoral e a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial. A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Moraes determinou a detenção de Acácio por suspeita de crime de ameaça, perseguição e ataques ao estado democrático de direito.

Contido pela Polícia Militar, o grupo que pedia a liberação de Acácio tomou as ruas da área central, bloqueando o trânsito e incendiando veículos, incluindo ônibus – um deles estacionado em frente ao prédio da PF, no Setor Comercial Norte.

Para conter a baderna, policiais militares usaram bombas de efeito moral e gás pimenta, mas não prenderam ninguém. Em nota divulgada hoje (13), a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que ninguém foi detido porque as forças de segurança agiram para dispersar a manifestação, procurando "reduzir danos e evitar uma escalada ainda maior dos ânimos". A secretaria assegurou, contudo, que a Polícia Civil está tentando identificar os responsáveis pelo quebra-quebra para responsabilizá-los.

Hoje, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, classificou como "lamentáveis" os fatos desta segunda-feira. Em sua conta pessoal no Twitter, Ibaneis escreveu que as forças policiais (criticadas por não terem efetuado nenhuma prisão em flagrante) agiram com rapidez e da maneira mais adequada possível.

"Junto do secretário de Segurança do Distrito Federal, acompanhei todas as ações e orientei que todos, devidamente identificados, que participaram desse ato de vandalismo sejam punidos conforme prevê a lei", acrescentou o governador, assegurando que esteve em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e com o governo de transição durante todo o tempo.

Os atos de vandalismo ocorreram faltando 20 dias para a posse de Lula e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, ambos diplomados ontem, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Antes mesmo das forças de segurança pública conseguirem pôr fim ao tumulto, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, o senador eleito Flávio Dino, se reuniu com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo. Após a reunião, os dois deram declarações a jornalistas. Dino disse que alguns manifestantes confundem liberdade de expressão com direito de cometer crimes.

"Há pessoas que, infelizmente, desejam o caos antidemocrático e ilegal? Sim, há. Só que essas pessoas não venceram e não vencerão amanhã. Este é o sentido principal da nossa mensagem: tranquilidade. Temos plena confiança nas garantias do governo do Distrito Federal", afirmou Dino.

Já Danilo confirmou que ao menos parte das pessoas envolvidas na confusão participa do acampamento em frente ao QG do Exército. "A gente não pode garantir que são todos porque alguns podem inclusive residir em outros locais, mas parte realmente estava lá no QG, lá no acampamento, e participou desses atos. Quem for identificado será responsabilizado", assegurou o secretário distrital.

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