SEGURANÇA

POSSE DE LULA: com esquema inédito de segurança, Lula toma posse para 3º mandato neste domingo (1º)

Só a Polícia Federal empregará mais de 1.000 funcionários nos trabalhos de "inteligência e segurança" para o evento - o maior contingente já mobilizado em uma cerimônia de posse

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Filipe Farias

Publicado em 31/12/2022 às 17:13
Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva toma posse neste domingo (1º) - SERGIO LIMA/AFP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumirá a presidência pela terceira vez no próximo domingo (1º), diante de um público estimado em centenas de milhares de apoiadores e dezenas de chefes de Estado estrangeiros, em meio a medidas de segurança reforçadas após uma tentativa de atentado.

No entanto, o presidente em fim de mandato Jair Bolsonaro, que lhe passaria a faixa presidencial, viajou nesta sexta-feira com destino aos Estados Unidos, segundo a imprensa. O Diário Oficial informou sobre uma viagem para a Flórida com duração até 30 de janeiro.

Cerca de 300 mil pessoas são esperadas em Brasília para acompanhar os atos institucionais e assistir a um megashow com os mais variados artistas brasileiros, batizado de "Lulapalooza" nas redes sociais.

Lula será oficialmente empossado presidente pela terceira vez juntamente com seu vice, Geraldo Alckmin, em cerimônia no Congresso.

O momento mais aguardado por seus apoiadores será quando o ex-líder sindical, 77 anos, que garante que irá governar o país com "a energia de 30 e o tesão de 20", subir a rampa de acesso ao Palácio do Planalto, onde deve fazer um discurso para os milhares de presentes.

Haverá uma operação de segurança inédita envolvendo todos os eventos, com as principais avenidas do entorno do Congresso e do Planalto fechadas. Brasília irá mobilizar "100%" de sua polícia na posse de Lula, o que pode envolver até 8 mil agentes, segundo autoridades.

Só a Polícia Federal empregará mais de 1.000 funcionários nos trabalhos de "inteligência e segurança" para o evento - o maior contingente já mobilizado em uma cerimônia de posse, informou a PF.

Como medida adicional de segurança, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, proíbiu o porte de armas para várias categorias de civis no Distrito Federal.

ENTREGA DE FAIXA

Na rampa do Planalto, Lula deve receber a faixa presidencial, feita de seda verde e amarela e bordada em ouro e diamantes. Normalmente, o presidente eleito a recebe das mãos de seu antecessor, mas Bolsonaro partiu para os Estados Unidos na sexta-feira (30). Nenhum presidente brasileiro se ausentou da cerimônia de posse de seu sucessor desde 1985.

Após a sua derrota, em outubro, o presidente autorizou o início da transição de governo, mas não reconheceu publicamente a vitória de Lula (que venceu com 50,9%, contra 49,1%) e tem se mantido em silêncio na maior parte do tempo.

Outra tradição ainda está em dúvida: o desfile do novo presidente para o público em um Rolls Royce conversível. Devido às preocupações com a sua segurança, muitos pedem o uso de um carro blindado.

Embora o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, tenha dito que a decisão será tomada "de acordo com a avaliação do momento", ensaios desta sexta-feira para a cerimônia utilizaram o Rolls Royce.

Os preparativos para a cerimônia de posse foram abalados nesta semana, depois que autoridades prenderam um apoiador de Bolsonaro por ter instalado um explosivo nas proximidades do aeroporto de Brasília.

Desde a eleição, alguns bolsonaristas continuam acampados em frente a quartéis do Exército em várias cidades, reivindicando uma intervenção para impedir a posse de Lula. Em 12 de dezembro, alguns deles incendiaram veículos e entraram em confronto com a polícia em Brasília.

AUTORIDADES PRESENTES

Pelo menos 65 delegações estrangeiras, incluindo quase 20 chefes de Estado e governo, estarão presentes na cerimônia de posse, a maior participação da História, segundo os organizadores.

Entre eles estarão os presidentes de Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Honduras e Uruguai, além do rei da Espanha.

Washington enviará sua secretária do Interior, Deb Haaland, uma mulher indígena e crítica de Bolsonaro. Em nome da China, o vice-presidente, Wang Qishan, estará presente.

CLIMA FESTIVO

"Essa vitória não foi só do Lula, foi a vitória do povo brasileiro", diz à AFP Herval Nogueira Júnior, que aos 60 anos percorreu mais de 1.300 km de bicicleta para assistir, no domingo (1º), à posse do presidente eleito.

Com o capacete de ciclista ainda na cabeça, este portuário aposentado causou sensação no acampamento de ativistas de esquerda, instalado em um enorme hangar em um parque no centro da capital federal.

Dezenas de milhares de pessoas são aguardadas neste domingo para um dia de cerimônias oficiais e atos festivos para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Há vários dias, chegam de várias partes do país, trazendo barracas de camping decoradas com imagens de Lula ou a estrela vermelha de seu Partido dos Trabalhadores (PT), responsável pela organização do acampamento, que abrigará cerca de 18.000 pessoas.

Nogueira Júnior saiu de bicicleta em 21 de dezembro de Aracruz, no Espírito Santo.

Ele percorreu cerca de 130 km por dia, dormiu em hostels baratos, com exceção do oitavo dia, quando precisou montar sua barraca à margem da rodovia.

"Pode parecer louco, mas desafiei a mim mesmo a fazer esse pedal. Tenho duas próteses nos joelhos e comecei a fazer atividade física para fortalecer os músculos da perna", disse este homem, que lesionou a cartilagem enquanto trabalhava no porto.

O casal de professores Raquel Rocha, de 34 anos, e Marcos Angelus, de 38, também fizeram uma longa viagem para chegar a Brasília: saíram de carro de João Pessoa, na Paraíba, em 26 de dezembro, e foram os primeiros a chegar ao acampamento na quinta-feira (29).

Os organizadores não esperavam as primeiras chegadas - a maioria de ônibus -, mas mesmo assim as pessoas puderam montar suas barracas. "Podíamos ter vindo de ônibus, mas a gente queria aventura, vir dirigindo, conhecer os lugares", disse Angelus.

"Queremos uma festa de paz, de amor, que não tenha violência, que possamos viver esse momento histórico", completou Raquel, sua companheira, de longos cabelos loiros.

Amanda Vannucci, de 30 anos, vinda de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, também se diz preocupada com a segurança depois que foi encontrada, no sábado passado, uma bomba junto a um caminhão-tanque perto do aeroporto de Brasília.

O suspeito do atentado frustrado, um apoiador do presidente Jair Bolsonaro, disse, após ter sido detido, que seu objetivo era "causar o caos", provocar a intervenção das Forças Armadas e evitar, assim, a posse de Lula.

"Estamos tomando os devidos cuidados, sempre andamos em grupo. Estou um pouco receosa, mas estou feliz porque quem vai tomar posse é um torneiro mecânico como meu pai", explica Amanda, que é parda.

A maioria das pessoas abrigadas no acampamento precisou se registrar previamente. Em sua chegada, identificam-se na recepção e depois são revistadas minuciosamente com detectores de metais na entrada. Mas do lado de dentro, o clima é festivo. Um grupo de jovens de Minas Gerais canta músicas de rock brasileiro, acompanhadas por um violão.

Leonam Costa, um engenheiro de 27 anos, viajou 24 horas de ônibus de Toledo, no Paraná, onde mora. Natural do Pará, um dos estados amazônicos mais afetados pelo desmatamento, ele se diz esperançoso com a mudança de presidente.

"Espero que agora, com Lula, tudo vá mudar, que a gente possa preservar mais a natureza", diz o jovem negro, usando um chapéu de palha tradicional, decorado com fitas coloridas.

 

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