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RAQUEL LYRA-DESAFIOS: Economia de Pernambuco precisa crescer para gerar emprego e mudar a vida das pessoas

Previsão de avanço do PIB de Pernambuco para 2022 é de 0,9%, o que significa apenas estabilidade. Já a expectativa de crescimento para o Brasil é de 3,1%

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 01/01/2023 às 6:12
GABRIEL FERREIRA/ JC IMAGEM
PIB Economia de Pernambuco se recupera em ritmo mais lento que a nacional - FOTO: GABRIEL FERREIRA/ JC IMAGEM

A governadora Raquel Lyra (PSDB) vai receber a gestão de Pernambuco com a economia estagnada, há 10 anos sem registar uma taxa de crescimento mais consistente. A Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas (Condepe/Fidem), que calcula o Produto Interno Bruto (PIB), a partir de dados do IBGE, projeta um discreto crescimento de 0,9% para 2022. Caso se confirme, a taxa será bem inferior a do Brasil, estimada em 3,1%. 

O resultado de 2022 ainda reflete o impacto da pandemia da covid-19 sobre o PIB. Em 2020, a economia pernambucana encolheu 4,1% (ante -3,3% do Brasil) e vem enfrentando dificuldade para se recuperar. Essa lentidão em relação ao País já foi percebida em 2021, quando o PIB nacional avançou 5% e o local ficou em 2,2%.

O diretor de Estudos, Pesquisas e Estatística da Condepe/Fidem na gestão Paulo Câmara (PSB), Maurílio Lima, explica que a pandemia foi responsável por derrubar o avanço do PIB em todo o País, mas que Pernambuco vem apresentando uma recuperação mais lenta nos anos pós-covid.

"O PIB ainda sente os efeitos da pandemia. O setor de serviços, por exemplo, que representa mais de 70% do nosso PIB, teve as maiores quedas na crise da covid-19. Além disso, segmentos que se tornaram âncoras da economia estadual nos últimos tempos também enfrentaram problemas. Estamos falando do setor automotivo, que sofreu o impacto do desaquecmento da demanada mundial e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), que tem realizado paradas na operação", detalha. 

Variação Real (%) do PIB do Brasil e de Pernambuco - 2014-2022

Divulgação
PIB do Brasil e de Pernambuco - Divulgação

EDUARDO E PAULO

Nas gestões do ex-governador Eduardo Campos/João Lyra (2006-2014), morto em um acidente aéreo em 2014, o PIB crescia a 'taxas chinesas', como costumava se dizer na época. Em alinhamento nacional com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pernambuco tinha se transformado em um dos miores polos de atração de investimento do País.

Foi nessa época que chegaram projetos estruturadores como os estaleiros, a refinaria, a petroquímica, as indústrias de componentes para a geração de energia eólica e tantos outros empreendimentos. Em 2010, por exemplo, o PIB pernambucano cresceu 9,3% e se falava em pleno emprego no Estado, com trabalhadores de todo o Brasil migrando para cá. Foi um período em que a economia do Estado crescia bem acima da média nacional. 

Em 2015, Paulo Câmara assumiu o governo em um cenário bem mais adverso. O canteiro de obras da Refinaria Abreu e Lima, com 42 mil operários, estava sendo desmobilizado, deixando um legado de desemprego recorde no Estado.

Na mesma época, a operação Lava Jato também mostrou seus muitos tentáculos em Pernambuco, com obras lideradas pela Odebrecht e outras empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção. O resultado foi o fechamento de empresas e mais desemprego. O desfecho se deu com o encerramento da operação dos estaleiros, anos depois. 

Durante os 8 anos da gestão Paulo Câmara, a economia patinou. Os únicos anos em que o PIB cresceu na casa de 2% foram em recupeação a exercícios anteriores, com resultados negativos. Em 2017, por exemplo, a taxa foi de 2,1%, após dois anos de recessão: 2015 (-4,2%) e 2016 (-2,9%).  

CENÁRIO PARA RAQUEL  

A expectativa da Condepe/Fidem é que uma recuperação mais consistente do PIB comece a acontecer em 2023. A previsão da Agência é que a economia cresça entre 2% e 2,5%, levando em consideração a base de baixo crescimento e de queda nos anos anteriores.

"Acreditamos numa recuperação daqui pra frente porque o Plano Retomada (lançado pelo governo de Paulo para alavancar a atração de investimentos, as obras de infraestrutura e os empregos) representa um PIB futuro, que vai aparecer mais adiante", aposta Maurílio Lima.

É verdade que Pernambuco não está sozinho nesse estado de paralisia, uma vez que o Brasil também não apresentou avanço sustentado no PIB nesses últimos anos.

A governadora Raquel Lyra terá o desafio de apresentar e colocar em prática um projeto de estímulo para tirar a economia de Pernambuco desse estado de letargia em que se encontra há uma década

SEM CRESCIMENTO, SEM EMPREGO

A economia morna contribuiu pouco para a geração de empregos em Pernambuco. De 2014 até quase o finaal da gestão Paulo Câmara, a taxa de desemprego bateu recordes e várias vezes figurou como a maior ou uma das três maiores do País. É verdade que no terceiro quadrimestre divulgado pela Pnad Contínua, a desocupação arrefeceu para 13,9%, mas ainda é uma taxa alta. 

Pernambuco tem 600 mil pessoas desempregadas e a informalidade continua avançando. Do total de pessoas ocupadas atualmente, mais da metade (51,9%) é informal. Sem proteção social, esse trabalhador foi o mais prejudicado durante a pandemia. 

Ano Taxa de  desemprego (%)
2014 8,3
2015 10,0
2016 14,8
2017 17,9
2018 16,9
2019 15,6
2020 17,2
2021 19,9
2022 13,9*

Fonte: IBGE/Pnad Contínua - *Até o 3º trimestre 

Até 2014, a taxa de exprego do Estado era de um dígito (8,3%). A partir de 2015, início do governo Paulo Câmara, passou para 10% e seguiu escalando até alcançar o recorde da série histórica da Pnad Contínua, ficando em 19,9% em 2021. 

Segundo o Novo Caged, o saldo de vagas (admissões menos demissões) na gestão do socialista também foi um desastre, com saldos negativos nos três primeiros anos. Só volta a ter resultado positivo a partir de 2018 e retrocede, novamente, em 2020, com a covid-19. 

Saldo de vagas de emprego no governo Paulo Câmara 

Ano Saldo de vagas
2015 -89.782
2016 -48.486
2017  -6.612
2018 2.023
2019 9.696
2020 -11.224
2021 93.159
2022  76.109*

Fonte: Novo Caged  - *Até novembro

NÚMEROS CONTROVERSOS

No balanço que faz do Plano Retomada, o governo socialista comemora a geração de 139.056 empregos entre agosto de 2021 e novembro de 2022. Em comunicação à imprensa diz que "ultrapassou com folga e com um mês de antecedência a meta de 130 mil novas vagas projetada para ser atingida ao fim de 2022", mas o número é controverso. 

O Plano Retomada foi lançado em agosto de 2021 e, dificilmente, um programa de geração de emprego começa a abrir vagas imediatamente. Com um saldo de 15.808 vagas, agosto entrou na contabilidade do governo, quando a contagem deveria ser a partir de setembro.

Sem falar que agosto e setembro são, historicamente, meses de alta abertura de vagas por conta da colheita da cana de açúcar no Estado. Dessa forma, o cálculo se beneficiou de um período sazonal. Excluindo o mês de agosto de 2021, o saldo do Plano Retomada é de 120.852 vagas. Com o resultado de dezembro, a meta poderá ser alcançada, mas não com folga como se alardeia. 

O próprio programa Emprego PE, lançado no âmbito do Plano Retomada, teve resultado muito aquém da meta.  A expectativa era gerar 20 mil empregos e o balanço do site aponta apenas 7.549 vínculos empregatícios validados. A iniciativa foi lançada para estimular a contratação de empregados nas micro e pequenas empresas, bastante prejudicadas pela pandemia. 

O governo pagava R$ 550 por mês, durante um período de seis meses, por cada funcionário contratado. Após esse período, o empregador teria que manter os trabalhadores por pelo menos mais dois meses. Na avaliação do prefessor de economia da UPE, Sandro Prado, talvez a iniciativa não tenha conquistado o sucesso esperado, porque os empresários ainda não estão seguros sobre o futuro da economia.

"Muitas vezes esses programas não têm sucesso porque são ideias mirabolantes. Não adianta oferecer subsídio ao empregador por um tempo e depois ele ter que continuar a arcar com toda a despesa do empregado numa situação de incerteza de como a economia vai se comportar", observa. 

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