Em reunião na Casa Branca, Luiz Inácio Lula da Silva propôs ao presidente americano Joe Biden uma governança global para a questão climática. Em visita a Washington, o petista, porém, afirmou que o Brasil é soberano na Amazônia.
Ao lado do democrata, ele disse ainda que os atos antidemocráticos dos Estados Unidos e do Brasil não podem se repetir. Biden, por sua vez, afirmou que as democracias dos dois países "foram testadas", mas prevaleceram.
"Não sei qual é o fórum, se é na ONU, no G-20, no G-8, mas alguma coisa temos de fazer para que a gente obrigue países, os nossos Congressos, os nossos empresários a acatar decisões que nós tomamos a nível globais", afirmou no Salão Oval.
"Se isso não acontecer, a nossa discussão sobre a questão climática ficará muito prejudicada", afirmou. O petista acrescentou que "não há muito tempo" e que tomar atitudes é "urgente".
Havia a expectativa de um comunicado conjunto e do anúncio da adesão do EUA ao Fundo Amazônia, que, criado em 2008, conta com recursos da Alemanha e Noruega.
Após o encontro, Lula concedeu uma entrevista coletiva, mas a nota não fora divulgada nem a entrada dos americanos no órgão haviam sido confirmada até a conclusão desta edição.
"Só não acho que (os EUA) vão (participar do fundo), quanto é necessário que participem. O Brasil não quer transformar a Amazônia em um santuário da humanidade, mas também não quer abrir mão de que a Amazônia que é um território do qual o Brasil é soberano", afirmou Lula aos jornalistas.
"Vamos fazer um esforço muito grande para transformar a Amazônia não num santuário da humanidade, mas num centro de pesquisa compartilhado com o mundo todo."
Críticas
A Biden, Lula criticou Jair Bolsonaro e acusou o antecessor incentivar o garimpo em terras indígenas e incentivar o desmatamento da floresta amazônica.
O petista disse que o ex-presidente, que está na Flórida desde antes da posse, isolou o Brasil do mundo, não gostava de manter relações com outros países e repetia fake news "de manhã, de tarde e de noite". Biden riu: "Soa familiar", em referência ao americano Donald Trump.
O presidente brasileiro disse também que os dois países devem trabalhar juntos para combater as desigualdades e o racismo. Biden acenava com a cabeça, em concordância, ao ouvir Lula, em postura diferente da adotada diante de Bolsonaro.
Ao encontrar com o ex-presidente no ano passado, em Los Angeles, Biden olhava para as próprias mãos, com semblante sério, durante o momento em que os dois posaram para as câmeras. Biden nunca convidou Bolsonaro para uma visita à Casa Branca.
Violência
Biden disse ao brasileiro que as agendas dos dois governos parecem "muito semelhantes" e afirmou que as duas nações rejeitam a violência política. "Estamos juntos na defesa das instituições democráticas", afirmou Biden.
"Temos que continuar a defender juntos os valores democráticos que constituem o núcleo da nossa força, não só no hemisfério, como no mundo", disse. "As nossas duas nações são democracias fortes e foram testadas, duramente testadas. Em ambos os casos, a democracia prevaleceu."
O presidente americano também defendeu a união dos EUA e Brasil para enfrentar problemas globais. "Nossos valores em comum e os fortes laços entre os nossos povos tornam Brasil e EUA parceiros naturais para enfrentar os desafios globais atuais e especialmente as mudanças climáticas", afirmou Biden.
Esta segunda viagem de Lula ao exterior. A primeira foi para a Argentina e para o Uruguai. Lula já esteve na Casa Branca outras seis vezes, nos governos de George W. Bush e de Barack Obama.
Desta vez, Lula foi com os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente) e Anielle Franco (Igualdade Racial). Ele encontrou deputados democratas, líderes sindicais e o senador Bernie Sanders.