Novo 'blocão' inclui aliados do PT e mostra força de Lira sobre Lula

Arthur Lira (PP-AL) conseguiu formar o maior bloco parlamentar da Casa, com nove partidos e 173 deputados
Estadão Conteúdo
Publicado em 12/04/2023 às 21:52
O movimento de Lira ocorreu após o racha do Centrão, que ele lidera Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados


O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conseguiu formar o maior bloco parlamentar da Casa, com nove partidos e 173 deputados. O novo grupo será o fiel da balança em qualquer votação importante para o Palácio do Planalto. Com o arranjo, Lira mostra poder em relação à governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A composição foi anunciada nesta quarta, 12, um dia depois da instalação de comissões mistas para analisar medidas provisórias de Lula, em uma queda de braço perdida por Lira no duelo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O senador está na China com o petista, em viagem oficial (mais informações na página ao lado).

O "blocão", como já é conhecido, abriga PP, União Brasil, PSB, PDT, PSDB-Cidadania, Solidariedade, Avante e Patriota. Embora conte com partidos de centro-esquerda e aliados do governo, como PDT e PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin, o grupo isolou a federação PT-PCdoB-PV, com 81 deputados, e também o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, com 99.

O movimento de Lira ocorreu após o racha do Centrão, que ele lidera. Há duas semanas, o Republicanos, que integrava o núcleo duro do Centrão, deixou o grupo para formar um bloco com MDB, PSD, Podemos e PSC, com 142 deputados. A nova correlação de forças também envolve cargos e até a antecipação da disputa pela presidência da Câmara, daqui a dois anos.

Em sua rápida reação, Lira mandou recados ao Planalto, que depende de suas articulações políticas. Líderes de partidos afirmaram, porém, que o "blocão" pode fortalecer Lula. Até mesmo o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), vetado pelo PT para ocupar um cargo na Esplanada, disse que não há interesse do grupo em criar "qualquer tipo de celeuma" com o governo.

"Nós, do PSB, do PDT, do Solidariedade, partidos do campo de centro-esquerda, aliados de primeira hora do presidente Arthur Lira, vamos iniciar a largada desse bloco simbolizando que é um bloco que vai procurar ajudar o presidente Lula a pavimentar a governabilidade e ter uma base sólida aqui na Câmara", disse o deputado Felipe Carreras (PSB-PE). Carreras será o primeiro líder do bloco, com mandato de dois meses.

Haverá rodízio na liderança do novo bloco, que será ocupada, inicialmente, por legendas "afinadas" com o Planalto. A Coluna do Estadão mostrou, porém, que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, tentou dissuadir os aliados de aderir ao grupo até o último momento.

Carreras disse ainda que Lira não participou nem interferiu na criação do bloco. O deputado do PSB agradeceu ao PP e ao União Brasil, os dois maiores partidos do grupo, por decidirem se aliar a legendas menores. Dentro do maior bloco da Casa, todas essas siglas terão mais poder para compor comissões mistas de MPs e reivindicar relatorias de projetos.

"É um momento novo que o nosso país vive, fruto, sobretudo, da nossa legislação eleitoral, com que as forças políticas conversem entre si ao proporcionar um protagonismo maior da Câmara dos Deputados, no sentido de fazer as coisas andarem", disse Elmar. Para ele, a decisão de entregar a partidos alinhados com o governo a prioridade na liderança do bloco demonstra a disposição de evitar atritos.

Coube ao líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE), a leitura de um manifesto do grupo, defendendo a "união de forças" após um período de "extremos". Figueiredo será o segundo líder do bloco, depois de Carreras.

"O Brasil vive, atualmente, um momento de oportunidades. Passado o período em que estava dividido em extremos, no qual o diálogo havia sido deixado de lado, é chegada a hora de unir forças para viabilizar o modelo de Nação que o povo quer e precisa", diz um trecho do manifesto.

PDT, PSB e Solidariedade já anunciaram que negociam formar uma federação partidária, o que foi interpretado, nos bastidores, como uma contraposição ao PT no Congresso. Os partidos federados devem atuar de forma conjunta por pelo menos quatro anos, inclusive em eleições majoritárias, como a de presidente e senador, em que só precisam lançar um único candidato.

Houve também uma tentativa de federação entre PP e União Brasil. As negociações travaram em impasses regionais, mas precipitaram conversas de bastidores entre os outros partidos. A própria formação do bloco do Republicanos com as legendas de centro-direita foi vista como uma reação ao movimento do partido de Lira, que também reagiu com a criação do "blocão".

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