Logo depois de aprovar até dez dias de folga por mês para juízes federais com "acúmulo de funções", o Conselho da Justiça Federal (CJF) pode decidir nesta terça-feira (21) sobre o pagamento da correção monetária de parcelas de auxílio moradia pagos a magistrados entre 1994 e 2002. Um entendimento a favor da correção implicaria em um passivo de R$ 240.920.570,42, devidos a 995 magistrados.
O tema começou a ser debatido na sessão do dia 23, no CJF. Na ocasião, a presidente do colegiado, ministra Maria Thereza de Assis Moura, manifestou-se contra o pedido da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e do juiz Danilo Fontenele Sampaio Cunha para que o índice de correção monetária da Parcela Autônoma de Equivalência (PAE) paga aos magistrados seja o IPCA (inflação) e não a Taxa Referencial (TR). Na avaliação da ministra, a reabertura da discussão quanto aos índices de correção monetária é "indevida".
Ainda na sessão do dia 23, logo após a ministra Maria Thereza ler seu voto, o juiz Guilherme Calmon Nogueira da Gama pediu mais tempo para analisar o caso, suspendendo a discussão. De outro lado, sinalizou que pretendia devolver os autos à pauta do Conselho da Justiça Federal para que o debate seguisse na sessão de amanhã.
INDIGNAÇÃO NA JUSTIÇA
Na primeira sessão de julgamento do processo administrativo comum movido pela Ajufe, a ministra Maria Thereza de Assis Moura foi enfática. Ela lembrou o posicionamento do ex-presidente do conselho, ministro João Otávio de Noronha, em sessão que, em dezembro de 2018, mandou pagar as diferenças do mesmo passivo. Segundo Maria Thereza, o colega à época mostrou "sua indignação sobre o tema, que se renova".
"Eu espero que essa grande reprodutora, a mãe da PAE, sossegue agora, que ela seja esterilizada, vamos ligar as trompas. Não pode mais gerar recursos de dinheiro, dinheiro, dinheiro. Isso já chegou a um limite. Espero que essa seja a última decisão em matéria de PAE. Que a gente sepulte isso, não há mais tetas para serem exprimidas nesse caso da PAE", disse Maria Thereza, reproduzindo as palavras de Noronha.
Em seguida, a ministra ressaltou que "concorda inteiramente" com a posição do ex-presidente do CJF. Segundo Maria Thereza, a discussão sobre a correção monetária do PAE se "arrasta desde o século passado e já rendeu sucessivos pagamentos de passivo, cada um deles supostamente definitivo". "Trata-se de um passivo que se renova diuturnamente. Aparenta um eterno pensionamento", assinalou ela.
"É difícil compreender como um passivo referente a supostos valores devidos entre 1994 e 1999, que já foi pago e repago inúmeras vezes, gerando centenas de milhares de reais a cada magistrado beneficiário, pode, mais de 20 anos depois, admitir mais uma revisão de cálculo. Essas parcelas foram quitadas, e, sem dúvidas, eventuais resíduos foram fulminados pela prescrição", completou.
PRESCRIÇÃO DAS CORREÇÕES
A tese da ministra é a de que o direito às correções reivindicado pela Ajufe já está prescrito. Ela anotou que os passivos estão ligados a parcelas com períodos aquisitivos próprias, pagos em momentos diversos: o auxílio de moradia, referente a setembro de 1994 a dezembro de 1997; o juros do auxílio, referente a janeiro de 1998 a setembro de 1999; e o pagamento da PAE, de setembro de 1999 a maio de 2002.
Na avaliação da ministra, trata-se de "matéria resolvida, com cálculos conforme os aplicados à época". "Os critérios de correção dos passivos e dívidas requeridos frente à administração pública devem ser rebatidos na discussão originária, sempre antes da liquidação. Se assim não for, os critérios de correção poderiam ser sucessivamente revistos, sempre buscando o mais favorável ao credor. As rediscussões sucessivas eternizam o debate e criam passivos fictícios."
PASSIVO DEVIDO
Maria Thereza explicou que o passivo que seria devido com o acolhimento do pedido da Ajufe é de R$ 240,9 milhões devidos a 995 magistrados, correspondente à correção dezembro de 2022. Ainda de acordo com a ministra, os valores pagos por tribunais regionais a títulos de passivos da PAE já totalizam R$ 603 milhões, em valores históricos. O valor chegaria a R$ 844 milhões, com o atendimento do pleito em pauta no Conselho.
A magistrada ainda alertou que qualquer valor gasto com passivos administrativos afetam os limites orçamentários da Justiça Federal, concorrendo com outras despesas de prestação jurisdicional. Além disso, ela anotou que uma decisão acolhendo o pedido em discussão, resultará na criação de um passivo, mesmo que não haja disponibilidade de pagamento, ensejando uma possível nova discussão sobre correção posteriormente, com uma bola de neve.