ZONA SUL DO RECIFE

Obras no Ipsep viram arma da oposição contra João Campos

Previstas para acabarem em dezembro de 2023, intervenções só devem ser, de fato, concluídas em agosto; Prefeitura do Recife culpa Compesa e Copergás por atrasos

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Marcelo Aprígio

Publicado em 30/05/2024 às 13:51 | Atualizado em 31/05/2024 às 17:58
Notícia

Anunciadas como inovação pela prefeitura do Recife, as obras de readequação viária no bairro do Ipsep, na Zona Sul da cidade, têm sido a arma da oposição contra o prefeito João Campos (PSB), que busca a reeleição, em meio à sua alta popularidade.

Consideradas um projeto piloto, que representa uma nova concepção de ações na cidade porque, pela primeira vez, a Prefeitura realiza intervenções de infraestrutura voltadas para a mobilidade urbana em um só lugar e de uma só vez, as obras vêm gerando insatisfação na localidade em virtude do tempo de execução.

Iniciadas em 18 de abril de 2022, com investimentos municipais no valor de R$ 36,3 milhões, as intervenções no bairro deveriam ter sido concluídas em dezembro de 2023, mas, cinco meses após o prazo, as obras seguem sem término.

Por causa disso, a reduzida bancada de oposição a Campos na Câmara do Recife tem alardeado a situação do Ipsep, na tentativa de, ao menos, desgastar o gestor no bairro, por onde circulam milhares de pessoas além dos seus mais de 25 mil habitantes, segundo a PCR.

O ataque mais duro da oposição até agora foi visto no dia 22 de maio, quando o vereador Felipe Alecrim (Novo), umas das vozes mais críticas ao prefeito, comandou uma audiência pública na Câmara, com a justificativa de que os serviços estão causando transtornos à comunidade.

DIVULGAÇÃO/CÂMARA DO RECIFE
Audiência pública na Câmara do Recife sobre as obras no Ipsep - DIVULGAÇÃO/CÂMARA DO RECIFE

Numa dobradinha com o deputado estadual Renato Antunes (PL), que é ex-vereador da cidade e tem base eleitoral no bairro, Alecrim mobilizou moradores e comerciantes do Ipsep, além de convocar membros da gestão João Campos.

“A Prefeitura do Recife está fazendo o que quer com a gente. E o Ipsep grita socorro”, afirmou uma das moradoras convidadas para a reunião.

A frase de efeito virou um mantra da oposição e agora estampa faixas presas a muros ao longo da Jean Émile Favre, principal via do bairro.

O tema voltou à Câmara na terça-feira (28). Na tribuna da Casa, Alecrim teceu críticas à PCR. Para o vereador, o caso do Ipsep é o fiel retrato da cidade, que lidera a lista de obras paradas, segundo ele.

“O Recife aparece em primeiro lugar no ranking de municípios com mais obras paralisadas, tanto em valores contratados quanto em montantes já pagos”, expôs.

Edson Holanda/PCR
O projeto, que teve as obras iniciadas no fim de abril de 2022 e previsão de 20 meses para conclusão, prevê a requalificação de diversas vias e a implantação de soluções de circulação não só para carros, mas também para os ônibus e a mobilidade ativa no bairro - Edson Holanda/PCR

Provável adversário de João Campos nas eleições de outubro, o ex-ministro Gilson Machado Neto (PL) também surfou nas ondas de críticas às obras no Ipsep.

Em um evento realizado na segunda-feira (27) ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Gilson inflou dados para ‘bater’ na administração do PSB.

“Estive na Jean Émile Favre há 15 dias, que está com obras há quatro anos”, disse o ex-ministro, apesar do período da obra ter pouco mais de dois anos.

“O comércio está fechando. Eles [os comerciantes] vão entrar com uma ação por lucros cessantes contra a prefeitura, porque ninguém consegue chegar neles. Enquanto isso, a gestão gasta milhões em propaganda", enfatizou ele.

PREFEITURA PROMETE FIM DAS OBRAS PARA AGOSTO

Sem nenhum vereador da base para defender a gestão, coube ao gerente geral de Obras Planas da Autarquia de Urbanização (URB), Vladimir de Souza, que é o responsável pela obra, tentar conter a animosidade contra a prefeitura durante a audiência pública.

Segundo ele, problemas na execução das obras em um pontilhão considerado importante no projeto levaram a administração municipal a adiar o prazo de entrega.

“Isso criou dificuldades para os comerciantes. É uma dificuldade real. Mas estamos correndo para agilizar as ações da obra do pontilhão. As demais áreas da obra já estão prontas. Cerca de 90% da obra está executada”, disse Souza, afirmando que a Caixa Econômica Federal também vem acompanhando o desenrolar da intervenção.

“Precisamos terminar o trecho do pontilhão, além de fazer a limpeza e o resto da pavimentação. Mas até o final de agosto ela estará concluída”, garantiu.

A resposta da gestão, contudo, levantou ainda mais críticas da oposição, que vê no atraso motivação eleitoral.

“Esta gestão do PSB é líder em publicidade e propaganda, não me admira a possibilidade de querer entregar a obra perto da eleição, sem pensar nos transtornos vividos pelos moradores do bairro”, disparou Felipe Alecrim em conversa com o JC.

O deputado Renato Antunes, que chegou a liderar a oposição a Campos quando vereador, pensa parecido.

“Falta de dinheiro não é, porque a Caixa tem garantido os recursos. Sem dúvidas, isso tem a ver com as eleições. Não dá para descartar essa possibilidade [de querer imagens para o guia eleitoral]”, afirma ele, que chegou a acionar o Ministério Público de Pernambuco contra a prefeitura por causa das obras.

“E ainda podemos pedir uma cautelar no Tribunal de Contas. O que está acontecendo no Ipsep é inadimissível”, completou.

'A CULPA É DA COMPESA'

Procurada pelo JC para comentar as críticas e acusações da oposição, a URB afirmou que, além do relatado por um de seus diretores em audiência pública, os atrasos na finalização das obras de requalificação urbana no Ipsep estão relacionados a problemas com a empresa BRK, contratada pela Compesa, e a Copergás.

MARCELO APRÍGIO/SJCC
Obras da BRK, contratada pela Compesa, na Rua Jean Émile Favre, no Ipsep - MARCELO APRÍGIO/SJCC

"A BRK iniciou, durante as obras da URB, um serviço que está ocupando três faixas na avenida Jean Émille Favre, na altura de um posto de gasolina, que não tem previsão de término e está repercutindo, diretamente, na execução dos demais serviços na via. Já a Copergás, realizou implantação de rede de gás na avenida, realizando vários furos no asfalto existente", disse a URB em nota enviada ao JC.

Ainda no comunicado, a autarquia afirmou que já foram implantadas as tubulações de drenagem, canaletas, toda a infraestrutura de telecomunicações, pavimentações e calçadas, além do pontilhão da rua Pampulha.

"Os serviços preveem também a construção de um novo pontilhão sobre o canal da Mauricéia, na rua Jean Émile Favre, além de 1,6 km de faixa exclusiva para transporte público, a implantação de 11 novos abrigos de ônibus e uma ciclofaixa de 650 metros entre as ruas Itacari, Izabel de Souza e Pampulha. As obras incluem ainda a urbanização e paisagismo das vias que constituem o binário, com o plantio de 400 árvores", explicou o órgão.

Por meio de nota, a Copergás rechaçou a ideia de que atrapalhou a execução das intervenções da URB no Ipsep. "As obras na Avenida Jean Emile Favre, executadas pela empresa, foram finalizadas ainda em 2023, em estrito alinhamento com o cronograma de obras estabelecido pela Prefeitura do Recife para a região", disse o órgão.

"Apesar dos desafios e da complexidade inerentes a uma obra de grande porte como a do Bolsão IPSEP/Ibura, a Copergás orgulha-se de ter cumprido o cronograma de implantação do gasoduto dentro do prazo acordado com os demais órgãos competentes", afirmou em nota.

Resposta da Compesa

Diante da resposta da URB, o JC também procurou a Compesa, que enviou nota. Confira:

A Compesa esclarece que a obra que tem motivado a queixa dos moradores e comerciantes do bairro do Ipsep não tem relação com a Companhia. O serviço em execução pela Compesa na Av. Jean Emile Favre, uma intervenção na rede coletora de esgoto, está sendo realizado nas imediações do número 1083, no lado direito da via, sentido Av. Recife. Para execução dos trabalhos, apesar da utilização de trechos das três faixas, uma delas está com acesso livre ao tráfego de veículos nos dois sentidos.

Essa intervenção, autorizada pela Emlurb, tem o objetivo de melhorar a funcionalidade do sistema de esgotamento sanitário do bairro. Estão em andamento os serviços para substituição de 64 metros de tubulação. A previsão é que os trabalhos sejam concluídos até 10 de junho, que é o prazo informado ao órgão municipal.

A atuação ocorre de segunda a sábado, nos turnos diurno e noturno. Entretanto, o serviço é de natureza complexa, visto que os técnicos têm encontrado diversas particularidades construtivas, que devem ser consideradas para fins de planejamento, como o elevado nível da água, que exige a instalação de sistemas de rebaixamento do lençol freático. Vale destacar que a empresa está em contato com os moradores e comerciantes locais, por meio das equipes de responsabilidade socioambiental, para informações sobre a ação.

A Companhia adianta que não há outras pendências na avenida de responsabilidade da empresa além desta intervenção já citada.

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