Campanha eleitoral no Recife entra na reta final do mesmo jeito que começou
Analistas políticos apontam que, embora oposição tenha pautado polêmica das creches, João Campos deve seguir em alta nos dias finais de campanha
Iniciada oficialmente no dia 16 de agosto, a campanha eleitoral deste ano vai se encaminhando para reta final com um cenário semelhante àquele percebido ainda na pré-campanha. O atual prefeito João Campos (PSB) segue com alta popularidade nas pesquisas eleitorais e os opositores continuam buscando um meio de fragilizá-lo.
Após o início da campanha em rádio e TV, no dia 30 de agosto, João chegou a perder alguns pontos em pesquisas, mas nada que abalasse os seus mais de 70% de intenções de voto.
Para a cientista política Priscila Lapa, a oposição teve muita dificuldade de encontrar espaço político para atingir João Campos de forma contundente até esse momento. E isso se deu devido à alta popularidade do prefeito em todo o mandato, mantida no período eleitoral.
A especialista reconheceu, porém, que a polêmica das creches municipais se tornou um tema recorrente na campanha devido à agenda da oposição, embora não tenha sido suficiente para desabonar a popularidade do prefeito junto ao eleitoral.
“A oposição conseguiu um espaço para colocar isso na agenda. Tanto que o prefeito vem na defensiva, dando explicações sobre o tema, que até agora não estavam na agenda da eleição. Mas tudo isso sem provocar um efeito de desgaste na opinião ou na intenção de votos do prefeito, que parece continuar performando muito bem em todos os segmentos do eleitorado”, apontou Priscila.
Ela também afirmou que os primeiros dias de campanha tiveram um comportamento tradicional de pleitos municipais, quando as agendas locais pautam o debate. Embora alguns candidatos tenham tentado trazer o lulismo e o bolsonarismo como plano de fundo, os problemas da cidade ainda seguem sendo o principal interesse dos eleitores da capital.
“É uma eleição que está pautada pela agenda local. Gestores bem avaliados estão com tendência de reeleição ou fazer seu sucessor, e isso é algo comum, esperado para uma eleição municipal”, disse Priscila Lapa.
Reta final deve ser igual
O cenário visto até agora na capital pernambucana deve se manter nessa reta final de campanha, na visão da cientista política. Faltando pouco mais de 20 dias para a votação do primeiro turno, marcada para 6 de outubro, os candidatos de oposição devem manter a mesma postura crítica a João para tentar fragilizar a imagem dele junto ao eleitorado.
“O que a gente imagina é que a oposição vá buscar outros pontos de fragilidade que possam levar a um desgaste de imagem, alguma notícia que possa causar efeito mais forte na opinião pública para tentar levar a disputa para um possível segundo turno, mas ainda estamos muito distantes desse cenário”, apontou Priscila Lapa.
O analista de risco político e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, Ernani Carvalho, também acredita que os opositores devem continuar batendo no prefeito, mas não necessariamente com a intenção de impedir a provável reeleição de João. Segundo ele, o objetivo é ganhar corpo para a eleição de 2026, quando poderão concorrer aos cargos de deputado federal e estadual.
“Quando você ingressa numa campanha onde o candidato a prefeito que vai à reeleição está com um patamar de 80% dos votos, é difícil pensar que a primeira estratégia seja a de vencer. Provavelmente, todos os oponentes nesse momento estão querendo maximizar sua posição para o mercado eleitoral do próximo pleito, daqui a dois anos, para deputados. Essa é talvez a estratégia marcante desde o início e acredito que vai permanecer”, apontou o especialista.
Internamente, comenta-se que pelo menos três candidatos envolvidos no pleito deste ano estão de olho no Legislativo em 2026: Dani Portela (PSOL) pode tentar novo mandato na Alepe; Daniel Coelho (PSDB) pode tentar retornar à Câmara Federal ou integrar a chapa de Raquel Lyra na busca pela reeleição; e Gilson Machado (PL) também almeja uma cadeira no Congresso. Sem contar o próprio João Campos, que deve tentar o governo estadual.
Ernani Carvalho acredita ser pouco provável que esses dias finais de campanha sejam suficientes para abalar a alta probabilidade de reeleição do atual prefeito.
“Dada a gordura que o prefeito tem, em torno de 70% de intenção de votos, na média, dificilmente esse quadro vai ser alterado. O que podemos, de certa forma, asseverar é que o prefeito está com uma boa probabilidade de se eleger no primeiro turno”, apontou.
Pesquisas
As recentes pesquisas políticas deixaram o prefeito João Campos ainda mais tranquilo, mostrando uma intenção de voto que bateu 80% na primeira rodada da Quaest, divulgada no final de agosto. Na segunda rodada, publicada na última quarta-feira (11), o atual gestor contabilizou 76%.
Na Datafolha, o prefeito chegou a perder alguns pontos para Gilson Machado (PL), que ficou em segundo lugar e comemorou o feito aos quatro ventos. Contudo, a preferência por João seguiu intacta, batendo 74% no levantamento do último dia 5. Antes, o prefeito havia somado 76%.
Além de Gilson, Daniel Coelho (PSD) e Dani Portela (PSOL) completam a tríade que busca o segundo lugar. Os três empataram tecnicamente em todos os levantamentos publicados durante o período de campanha, embora as próprias pesquisas indiquem uma possível vitória de João no primeiro turno.
Campanhas milionárias
De acordo com a legislação, as candidaturas e partidos podem arrecadar recursos até o dia da eleição, mesma data em que podem ser contraídas obrigações financeiras. Até o momento, os postulantes no Recife já arrecadaram cifras milionárias.
Somadas, as chapas já acumularam R$ 20.373.949,00, até a publicação desta matéria. Na última eleição municipal, de 2020, as nove candidaturas receberam, juntas, R$ 29 milhões ao final da disputa.
Neste ano, Daniel Coelho é o candidato com maior arrecadação. A candidatura dele recebeu R$ 7,8 milhões, repassadas na íntegra pelo PSD. Em segundo lugar aparece Gilson Machado, com R$ 6 milhões, também destinados pelo diretório do partido, e João Campos, que recebeu R$ 4.867.500,00 também da direção partidária.
Dani Portela (PSOL) recebeu R$ 1.385.800,00 da campanha, divididos entre recursos do partido e uma pequena contribuição própria.