Caruaru, uma eleição decisiva para a governadora Raquel Lyra

Raquel Lyra (PSDB) busca eleger seu ex-vice-prefeito Rodrigo Pinheiro para demonstrar que ainda possui influência no seu berço político

Publicado em 03/10/2024 às 13:02 | Atualizado em 03/10/2024 às 16:14

A eleição para a prefeitura de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, representa não somente a escolha do novo gestor municipal, mas será um teste de popularidade da governadora Raquel Lyra (PSDB). O município é o principal reduto eleitoral da tucana, que governou a cidade por dois mandatos, entre 2017 e 2022, até deixar o cargo para disputar o governo estadual.

Com um candidato acumulando baixas intenções de voto no Recife — o ex-secretário estadual de Turismo e Lazer Daniel Coelho (PSD) —, a governadora espera eleger um aliado pelo menos no município que lhe elegeu por duas vezes.

O candidato de Raquel em Caruaru é Rodrigo Pinheiro (PSDB). Ele era o vice-prefeito da cidade e assumiu o comando da prefeitura quando Raquel renunciou para buscar o governo, há pouco mais de dois anos.

Embora a relação entre os dois tenha passado por uma turbulência logo após Rodrigo assumir a prefeitura, a dupla se uniu novamente e agora tenta dar continuidade ao trabalho no Agreste.

Diferentemente do que acontece no Recife, em que Raquel quase não apareceu em agendas ao lado de Daniel Coelho, a governadora se empenhou na campanha de Caruaru e participou de várias carreatas e atos públicos ao lado do candidato, sempre acompanhada da vice-governadora Priscila Krause (Cidadania).

Para o cientista político e professor universitário Elton Gomes, Raquel Lyra precisa vencer em Caruaru para demonstrar que ainda possui influência política na cidade.

“Primeiramente, é de onde ela provém, é o seu berço político. A cidade é importante porque é um dos maiores centros urbanos de Pernambuco, possui uma quantidade significativa de eleitores. A vitória influencia a governabilidade dela enquanto chefe do Executivo estadual”, apontou.

“A vitória de Rodrigo Pinheiro seria um indicativo da força política e do apoio popular para Lyra, sobretudo em uma construção social onde ela busca se consolidar para buscar, naturalmente, a reeleição em 2026”, completou o especialista.

Disputa com João Campos

Uma possível derrota do candidato de Raquel poderia deixar a imagem da governadora mais vulnerável, segundo apontou o cientista político. Na visão dele, não eleger o candidato poderia comprometer a credibilidade dela, enquanto governadora, e abrir espaço para a oposição fortalecer candidatos rivais que visam o pleito de 2026, como o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Uma derrota de Rodrigo para Zé Queiroz (PDT), candidato apoiado por João em Caruaru, poderia intensificar ainda mais a disputa entre os dois daqui a dois anos, colocando o gestor da capital pernambucana na vantagem.

“Isso não apenas reforçaria a imagem de Campos como um líder forte em Pernambuco, com capacidade de transferir votos para quem apoia, mas também poderia desestabilizar a base da governadora, dificultando a reeleição", avaliou o professor.

Ele entende que a dinâmica eleitoral em Caruaru pode servir como uma espécie de termômetro para as ambições políticas de Raquel.

“Para que ela [Raquel Lyra] possa continuar no cargo de governadora, a conquista de algumas praças importantes, como Caruaru, berço político dela, representa um elemento importantíssimo para que ela possa consolidar sua liderança”, completou Elton Gomes.

Simbolismo da vitória

A relação de Raquel Lyra com Caruaru vem de berço. O pai dela, o ex-governador João Lyra Neto, é natural da cidade e foi prefeito do município por dois mandatos. Raquel, quando eleita deputada estadual, em 2010, foi a candidata mais votada da cidade.

Atualmente, Caruaru é o maior colégio eleitoral do interior de Pernambuco e o quarto maior do estado, ficando atrás apenas do Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda, na Região Metropolitana do Recife. O município do Agreste tem 247.041 eleitores aptos a votar no pleito deste ano.

Para a cientista política Priscila Lapa, vencer uma eleição municipal consolida uma candidatura como competitiva, colocando a chapa como decisiva dentro do cenário estadual. “A governadora vencer lá [em Caruaru] tem esse peso quantitativo”, apontou.

Apesar disso, Priscila reforçou que a vitória na cidade tem um simbolismo político muito maior para a governadora.

“A gente tem que lembrar que ela explorou fortemente essa raiz dela, dizendo que ela era a primeira governadora da história de Caruaru, que era a possibilidade de, pela primeira vez, ter um governador que não é da capital. Tudo isso simboliza muito que Caruaru representa uma espécie de novo ciclo, de nova era para a política estadual. Isso foi muito explorado positivamente quando ela se elegeu e pode ser muito explorado negativamente caso ela não tenha um bom desempenho em 2026, como teve em 2022”, analisou.

Por outro lado, a cientista ponderou que as questões locais são decisivas em uma eleição municipal, diferentemente da eleição estadual e nacional, em que outras questões entram em cena, e que isso pode não significar uma derrota exclusivamente ligada à imagem da governadora.

“Uma possível derrota de Rodrigo Pinheiro a gente não pode atribuir 100% à questão de uma governadora que não estaria performando tão bem. Tem aí, obviamente, uma responsabilidade ou uma variável explicativa originada na própria dinâmica política da cidade”, disse a especialista.

Em um possível caso de derrota, a governadora precisaria, então, compensar a perda do reduto conquistando outras cidades importantes no estado, com vistas a criar uma base para 2026. O Recife, dominado por João Campos, não entra nessa conta.

“Caso João Campos tenha consolidado essa vitória realmente neste domingo, Raquel vai ter ainda que suprir a perda da capital. Não da perda que ela não tinha, mas de não ter a capital com seu numeroso eleitorado, e suprir a perda de Caruaru, que é também um reduto muito importante na composição da vitória para a governadora. Vai exigir um conjunto de estratégias compensatórias para conseguir manter a governadora numa área segura, numa zona segura para a sua reeleição”, disse Priscila Lapa.

Garanhuns e Gravatá

Outra cidade importante para Raquel Lyra é Garanhuns, no Agreste. Nesse município, a governadora apoia o ex-prefeito e atual deputado estadual Izaías Régis (PSDB), líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Izaías já foi prefeito de Garanhuns por dois mandatos, entre 2013 e 2020, e está na quarta legislatura na Alepe.

Ele disputa a prefeitura com o atual prefeito Sivaldo Albino, do PSB, que tem apoio de João Campos para se reeleger, criando mais um embate direto entre Raquel e João em um importante reduto eleitoral do Agreste.

Em Gravatá, outro importante colégio eleitoral do Agreste, a governadora Raquel Lyra apoia o ex-prefeito Joaquim Neto (PSDB), que integrava o governo do estado e deixou a gestão para buscar o quarto mandato à frente da prefeitura. Ele disputará com o atual prefeito Padre Joselito, que deixou o PSB e migrou para o Avante na busca pela reeleição.

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