Os aplausos que o Recife guardou para Maria Bethânia

Gustavo Belarmino
Publicado em 02/10/2015 às 1:50


Fotos: Virgínia Melo/especial para o Social1

A frustração de um show adiado devido a uma gripe, com direito a um pedido de desculpas escrito de próprio punho para a comunidade de fãs, ficou no passado. Naquela época, os que se aventuraram no site e conseguiram comprar os ingressos - que se esgotaram em menos de 5 minutos -, aguardaram a primeira data do show da turnê Abraçar e Agradecer, de Maria Bethânia, como uma dádiva, um trofeu. Não aconteceu na data prevista mas, como prometido pela baiana, o Recife teve oportunidade dupla de se encantar com a voz impecável, em duas noites memoráveis.

Com direito, inclusive, a bronca em fã ousado que inventou de subir ao palco e beijar a mão da cantora. Beijar, ela deixou. Mas abraçar, somente no sentido figurado, quando Bethânia abriu a voz, nesta quinta-feira (1º), envolvendo um Teatro Guararapes ultra-lotado e fervoroso.

Vestida de dourado, com pés nus sobre um tablado que mais tarde daria espaço para projeções multimídia de flores, oferendas, água em movimento, campos verdejantes, estrelas e explosões, Bethânia seguiu à risca o roteiro, sem quebrar o script. Abriu com O eterno em mim, de Caetano Veloso, seguindo por Dona do dom, de Chico César, antes de entrar em um dos vários textos que declamou.

Aliás, musicadas ou apenas recitadas, as composições transformam o show em poesia. Ora suave, como uma cantiga de ninar, ora energética, como um trovão, a voz da cantora ecoou e fez vibrar os mais entusiasmados. Gritinhos de “maravilhosa” vez ou outra eclodiam da plateia, como tem sido praxe.

O primeiro dos dois atos - divididos por uma saída de Bethânia para troca de roupa - trouxe ainda canções como Gostoso demais (Dominguinhos e Nando Cordel), Alegria (Arnaldo Antunes), Dindi (Antonio Carlos Jobim) e Tatuagem, de Chico Buarque. Rosa dos ventos encerrou a primeira etapa, para que a baiana saísse de cena e deixasse a afinadíssima banda que a acompanha brilhar.

Na volta, com Vira Mundo, a Abelha Rainha vestia vermelho e dourado e caminhava como se flutuasse nas projeções de um mar calmo. Passeou, então, por Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi), Vento de Lá, Embelezou Eu e Folia de Reis (Roque Ferreira).

Lindo momento reservado para Mãe Maria, com Bethânia sentada num banquinho, mais perto do chão, que exibia projeções em azul. O segundo ato teve um ápice momentos antes da música programada para encerrar essa etapa: silêncio, de Flávia Wenceslau. Foi quando, após ler um texto de Fernando Pessoa, ela irrompeu com a pulsante Non je ne retrete rien. A plateia aplaudiu de pé.

Como em um dos textos que recitou, ao início do espetáculo, Bethânia agradeceu “a tudo que canta livre no ar, dentro do mato, sobre o mar”. E o Recife aplaudiu, mais uma vez.

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