Reynaldo Fonseca: o mestre da luz difusa

Mirella Martins
Publicado em 10/04/2016 às 6:02
DN290316085 Foto:


Aos 91 anos, Reynaldo Fonseca - o mestre das pinturas, da luz âmbar, dos olhos esbugalhados, dos animais... - ainda é um menino. Menino cheio de sonhos e esperanças. Que odeia sair de casa, não tolera barulho; ama ler o jornal do domingo e fazer as palavras cruzadas. Não perde uma novela e não dispensa um trago do seu cigarro, depois do cafezinho, nem larga sua taça de tinto. “Uma no almoço, outra no jantar”.

Na sua casa, em Setúbal, vive como gosta: arrodeado de obras. Com muitos quadros, livros e santos. É o maior colecionador de si mesmo. “Só vendo os que não gosto”, avisa, aos risos.. Seus traços dividem atenção com sua outra paixão: as artes sacras. Tem por todos os lados. Uma peça chama atenção: do século 16, de uma beleza ímpar; uma santa com traços indígenas, de terracota… Seu favorito, porém, é um Menino Jesus, que está na sala de TV. A literatura também bate mais forte no coração de Reynaldo. Está na fase de Gilberto Freyre - nunca tinha lido! - mas não abandona Machado de Assis por nada.

Trabalha religiosamente. De sexta a sábado. Só faz pausa para fazer sua fisioterapia-ginástica-hidroterapia. Cinco vezes por semana. Tudo em casa. “Pinto mais hoje em dia do que antigamente”, compara. Nos pincéis, pessoas descontraídas, mulheres, crianças, gatos, cachorros… “O importante é passar sossego”, ensina. Na hora do trabalho, é metódico. Faz primeiro um projeto, passa para o quadriculado e depois para a tela. No momento da nossa visita, estava iniciando A mulher e o dobermann. Di-vi-no!

Reza todos os dias, é devoto de Sant'Ana, mas gostaria de ter mais fé. “Às vezes, tenho dúvidas”, diz pensativo. Teme a morte e a possibilidade do desconhecido. “Ninguém voltou para me contar como é”. Para Reynaldo, chegar a esta idade tem um preço: “É ruim ver tanta gente conhecida e querida partir”.

Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory