Nesta quarta-feira, 21 de junho, um dos maiores símbolos a arte em Pernambuco comemora seus 95 anos. Para a dama do teatro pernambucano, Maria Eugênia Franco de Sá da Rosa Borges,ou simplesmente Geninha da Rosa Borges, nós prestamos nossa homenagem e todas as reverências que ela merece resgatando aqui um especial que fizemos com a atriz em 2015. Aqui, trazemos a trajetória desse ícone da cultura pernambucana. Boa leitura!
"Cumpri minha missão". Geninha da Rosa Borges resume sua vida com esta frase. Com o mesmo coque alto de sempre, batom nos lábios, sobrancelha desenhada, sorriso largo de quem não teme o tempo, a dama do teatro pernambucano observa suas plantas no terraço, ouvindo apenas o barulho do vai e vem na cadeira de balanço, relembrando o quanto foi e é feliz. Fez o que quis fazer, assumiu a pele de 80 outras mulheres. Sentiu e refletiu a dor de Yerma, a que não podia ter filhos, gargalhou em Um sábado em trinta com a famosa frase: ô minha filha, você ainda é moça? Geninha sente-se feliz, apenas, um tudo que é tanto.
Abriu as portas do seu apartamento em Casa Amarela para nós numa tarde de quinta-feira como se recebesse um amigo querido. Estava orgulhosa. "Eu fico muito feliz de saber que eu estou com 93 anos e ainda tem gente que quer me entrevistar, saber de mim", dizia ela. Contou-nos sobre sua carreira, os momentos mais fortes que houve na sua trajetória, divagou sobre felicidade, vida e morte. Sorriu de olhos fechados ao conversar com o marido já falecido como se ali ao seu lado estivesse, ouvindo seu recado: "Sinto tanta paz, espero o dia que você virá me buscar. Eu sei que você vem.", cochichava ela.
Maria Eugênia Franco de Sá sente que foi predestinada a viver da arte, nasceu com a missão de atuar. E desde criança já percebia isso. Foi no Colégio São José, que revelou o seu pendor para as artes cênicas. Em 1941, com um grupo de moças da sociedade recifense, atuou numa apresentação teatral beneficente e chamou atenção do autor da peça, o médico e diretor Valdemar de Oliveira,que a convidou a integrar o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP).
https://youtu.be/YM5icNun_ZA
TEATRO
Geninha entrou como protagonista da peça Primerose, de Robert de Flers e Gaston de Caillavet, em 1941, sob a direção de Valdemar de Oliveira, e recebe muitos elogios da crítica teatral. No ano de 1944, o TAP, numa atitude ousada, convida o diretor polonês Zigmunt Turkow – que desde 1941 trabalhava junto ao teatro amador da comunidade judaica de Recife – a dirigir A Comédia do Coração, de Paulo Gonçalves. Nesta peça, o elenco integrado pela atriz descobre a importância do encenador como “orquestrador do espetáculo”. Geninha, ao longo da participação neste e em muitos elencos das peças representadas pelo TAP, também tem a oportunidade de ser dirigida por artistas nacionais e estrangeiros de renome como Zbigniew Ziembinski, Graça Melo, Flamínio Bollini Cerri, Bibi Ferreira, Luís de Lima, entre outros. Destaca-se como diretora e intérprete em Yerma, de Garcia Lorca (1978), A Promessa, de Luiz Marinho (1983) e As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, de Rainer Fassbinder (1987).
SANTA ISABEL
O Teatro de Santa Isabel, importante patrimônio cultural de Pernambuco, foi sede do TAP de 1941 a 1963. Geninha o dirige em quatro ocasiões: de 1983 a 1986; de 1991 a 1993 e de 1994 a 1997. A vida da atriz confunde-se com o teatro a tal ponto que ela lhe dedica o livro: Teatro de Santa Isabel: Nascedouro & Permanência.
EDUCAÇÃO
Formada em letras anglo-germânicas e em pedagogia pela Faculdade de Filosofia do Recife, é designada, em 1964, pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para coordenar a equipe do Sistema Nacional de TV e Rádio Educação e dar início a um programa pioneiro em Pernambuco de aulas teatralizadas para o rádio. Entre outubro de 1966 e setembro de 1967, passa seis meses nos Estados Unidos e dois meses no Japão, onde realiza cursos de pós-graduação em teleducação. Geninha, que pertence à Academia de Artes e Letras de Pernambuco e à União Brasileira dos Escritores (UBE), Seção de Pernambuco, possui em seu currículo alguns trabalhos publicados na área da educação e da cultura.
CINEMA
No final da década de 30, participa do primeiro filme pernambucano falado: O Coelho Sai, de Firmo Neto (1939). Em 1983 é contratada por Tizuka Yamazaki para fazer a diretora da escola no filme Parahyba Mulher Macho. Conta-se que Tizuka olhou para ela e perguntou: “Você é a Greta Garbo do Nordeste?”. Também atua no filme Baile Perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Teixeira (1997) e nos curtas-metragens Nóis Sofre Mais Nóis Goza, de Sandra Ribeiro e Conceição, de Heitor Dhalia, ambos filmados no ano de 2002. Faz sua primeira aparição na televisão em 2004, na novela Da Cor do Pecado, de João Emmanuel Carneiro, produzida pela TV Globo.
FAMÍLIA
Geninha da Rosa Borges casou-se em 1946 com Otávio Rosa Borges, irmão de Diná, mulher de Valdemar de Oliveira. Teve quatro filhos.