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Psicóloga fala sobre como o luto pode influenciar a separação de casais

Debate sobre o luto voltou às redes sociais após separação de Whindersson Nunes e Maria Lina

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JC

Publicado em 18/08/2021 às 16:02 | Atualizado em 18/08/2021 às 16:52
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Em tempos de pandemia, o debate sobre o luto se tornou ainda mais necessário. Para além desse fator, internautas trouxeram o assunto à tona nas redes sociais ao comentar a separação de Whindersson Nunes e Maria Lina. O término acontece alguns meses após a morte do filho do casal, que nasceu de forma prematura.

Para entender sobre esse o luto e como esse processo pode afetar indivíduos e seus relacionamentos, o Jornal do Commercio conversou com a psicóloga Roberta Bastos. A profissional conta à reportagem que dois textos de Freud são importantes pontos de partidas sobre essa discussão: Introdução ao narcisismo (1914-1916) e Luto e melancolia (1917), é um dos últimos textos chamados "metapsicologicos" do pai da psicanálise.

"Eles são textos muito importantes para se falar em melancolia, luto e depressão. Quando levanta-se a questão de como o luto pode influenciar na separação de um casal, preciso levantar o conceito de investimento libidinal. Para a psicanálise, libido é qualquer energia usada para algo coisa que um indivíduo se propõe a fazer, seja trabalho, arte, estudo, ginástica etc. Isso é o que mobiliza, a pulsão da vida do indivíduo", inicia Roberta Bastos.

Em outras palavras, o investimento libidinal é depositado de acordo com o interesse do indivíduo, sendo a força capaz de levá-la a algum lugar e, posteriormente, exercer a sua ocupação. Esse investimento também é depositado por uma pessoa nela mesma e em outras. Ou seja: em relacionamentos, tira-se um pouco do investimento do "eu" para deslocá-lo ao outro.

"A balança geralmente fica equilibrada porque o outro faz o mesmo e fica em pé de igualdade. Com o luto, algo desse investimento é quebrado. Minha energia libidinal, que teria de voltar para o eu, trinca porque eu começo a me depreciar. Com um desaparecimento ou uma morte, esse investimento fica vagando. O trabalho de retorno para o indivíduo não é simples: é necessário pensar, sentir e viver a perda para que ela seja entendida afetivamente e cognitivamente, para que essa energia volte e eu entenda que não posso mais investir energia lá", explica a psicóloga.

A profissional faz uma metáfora e compara a situação, guardadas as devidas proporções, com uma dor no dente. Quando sente-se essa dor, é difícil pensar em outra coisa, pois o foco do nosso sistema está nela. Não conseguimos trabalhar, encontrar amigos, estudar etc. Toda nossa energia se volta para a dor.

"Em proporções diferentes, isso acontece com pessoas. Quando a gente perde alguém, esse investimento maciço tem de ir para algum lugar. Dessa forma, o luto pode levar casais à separação. Quando perdemos alguém, esse investimento libidinal fica empobrecido na gente e em outras coisas. Isso pode fazer com que o outro entende que não gera mais interesse. Além disso a depreciação deixa o indivíduo amarrado, sem conseguir se movimentar de forma natural", conclui Roberta.

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