Jô Mazzarollo era a diretora de Jornalismo mais antiga na Rede Globo. Era, verbo no passado. Difícil de falar isso, de escrever e até imaginar.
Nesta terça, após uma linda trajetória, o aquário, no meio da redação da Globo Nordeste, em plena rua da Aurora, ficou apagado.
Apagado.
Muita gente estranhou. Logo, as notícias se espalharam.
Demissão na emissora do Oiapoque ao Chuí. Marcelo Canellas, Eduardo Tchao, Flávia Januzzi, Monica Sanches, Luciana Osório Elza Gimenes, Alba Mendonça e Arthur Guimarães saíram da Vênus Platinada.
Gente graúda, superlativa, importante. Gente que marcou a história do jornalismo nacional, mas, no meio de tantas personalidades relevantes para história do Brasil, tem Jô. Nossa Jô. Nossa porque ela não é/era apenas da Globo, era também de Pernambuco.
Gaúcha de nascimento, pernambucana de coração. Jô entrou na casa em 2000. Sucedeu Vera Ferraz. Imprimiu novo ritmo à emissora. Criou novos produtos. Mudou a sede da empresa de Ouro Preto, ao lado do diretor comercial Iuri Maia Leite, para Santo Amaro. Novo ritmo. Modernizou-se.
Foi a responsável pelo lançamento de programas locais de sucesso como o "Lance Final", "Pernambuco Quero te Ver, em que todos os sábados, entrava-se ao vivo de uma cidade pernambucana diferente, mostrando belezas e curiosidades, antes do NE1 e o "Nordeste, Viver e Preservar".
Investiu também em coberturas marcantes, como o velório do ex-governador Eduardo Campos, que durou o dia todo no ar e a queda do avião da Air France.
Inovou. Quebrou paradigmas. Ousou.
Em 2009, ela tirou a bancada do NE, modelo que foi seguido por todo o G5, a posteriori. Também criou o Calendário do NETV, copiado por todo o jornalismo da Globo. Movimentação que virou case destacado por Carlos Schroder, diretor da Globo na época.
Jô, em todo o tempo em que sentou-se naquela cadeira, teve uma vida discreta e reservada ao lado do marido Alfredo Vizeu e dos filhos. Gostava de amigos, de ouvir histórias e, como boa filha de Deus, de um bom vinho. Participava ativamente da sociedade pernambucana, seja em grupos de discussões econômicas, seja em encontro de empoderamento feminino.
Lembro que, na sua festa de aniversário, na Cachaçaria Carvalheira, há alguns anos, pediu reserva. Queria celebrar com amigos - uma legião, diga-se de passagem - mas de forma anônima, sem flashes, sem coberturas.
(O terror de qualquer colunista, mas...)
Jô era isso: serenidade e furacão. Tinha um faro como ninguém. Era amiga dos amigos e acreditava no ser humano. Acreditava, sobretudo, no potencial pernambucano. Na nossa cultura. Na nossa força. Na sua gente.
O que dizer na odisseia de colocar o nosso calunga para brilhar nacionalmente e até internacional no mesmo dia de outro gigante, o Galo. Ela deu novo status ao Boneco Gigante de Olinda e seu desfile no Sábado de Zé Pereira. Ela sabia do potencial. Só deu um empurrãozinho.
E foram vários empurrãozinhos. Artistas, jornalistas, empresários. Muita gente deve a Jô sua carreira e até oportunidade. E a gente também. E, neste post de "até mais", engrossamos o coro dizendo: obrigada, Jô. Vai voar teu voo merecido.
Seja no litoral pernambucano, seja tomando chimarrão. Curta. Viva. Seja!
"A Globo, assim como as demais empresas de referência do mercado, tem um compromisso permanente com a busca de eficiência e evolução. Seus resultados refletem a boa performance do conjunto das suas operações e uma constante avaliação do cenário econômico do país e dos negócios. Como parte do processo de transformação pela qual vem passando nos últimos anos e alinhada à sua estratégia, a empresa mantém a disciplina de custos e investimentos em iniciativas importantes de crescimento", diz a nota da Globo ao Notícias da TV.
Jô Mazzarolo ingressou na RBS, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, em 1984. Foi editora do Jornal Hoje e chefe de produção do Jornal Nacional e Jornal da Globo.