ÍCONE

Os cuidados com o ceratocone

Doença é caracterizada por uma baixa resistência da córnea. A descoberta se dá, na maioria dos casos, ainda na adolescência

JC Online
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Publicado em 06/05/2017 às 15:00
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Doença é caracterizada por uma baixa resistência da córnea. A descoberta se dá, na maioria dos casos, ainda na adolescência - FOTO: Divulgação
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A cada duas mil pessoas no mundo, uma é diagnosticada com ceratocone ao longo da vida, segundo dados da Sociedade Brasileira de Ceratocone. Apesar de ser considerada comum - é a maior causa de transplante de córnea no mundo - essa doença ocular ainda provoca um pouco de surpresa para quem recebe a notícia. “Eu não sabia o que era. Sempre usei óculos, então eu pensei que era normal que eles não fossem suficientes”, pensou o webdesigner recifense Carlos Bartolomeu Jr., de 29 anos.

Carlos acreditava que o grau dele aumentava rapidamente porque não usava os óculos como deveria. O problema, na verdade, era uma alteração na curvatura da córnea, que pode comprometer a visão de um ou dos dois olhos.

O ceratocone é caracterizado por uma baixa resistência da córnea. Por isso, ela pode se abaular, se deformar, se curvar ainda mais que o normal, provocando mudanças estruturais. Lentamente, o formato do olho vai ficando cônico. “Como a córnea é uma lente, ela tem uma função ótica. Quando ela se deforma, provoca miopia e astigmatismo. Mexe no foco do olho, provoca distorção”, explica o oftalmologista Álvaro Dantas, do Instituto de Cirurgia Ocular do Nordeste (Ícone).

Ceratocone tem tudo a ver com a genética, e a descoberta se dá, na maioria dos pacientes, na adolescência. Um dos primeiros sinais é visão embaçada. “Alguém que tem um grau muito forte de astigmatismo pode se questionar se tem ceratocone. Astigmatismo alto não é tão comum. Outros sinais são mudança de grau frequente e histórico familiar”, diz. A confirmação vem através de exames de tomografia do olho.

Álvaro aponta ainda para um sinal muito importante e bastante comum em quem recebe o diagnóstico: coceira nos olhos. “Existe uma relação entre o ceratocone e a coceira. Quando você aperta o olho, aumenta a pressão interna, e essa pressão força a córnea”, continua. Evitar coçar é uma das grandes recomendações dos oftalmologistas para evitar o desenvolvimento da doença.

Foi uma das partes mais difíceis para Carlos. Já era um hábito. “Era o que eu mais fazia. Eu tenho alergia e, quando ataca, influencia meus olhos também. Eu era muito de coçar os olhos, às vezes com muita força. Hoje, evito”, pontua Carlos Bartolomeu.

Infelizmente, não é possível prevenir o ceratocone, uma vez que ele é hereditário, mas é possível tomar alguns cuidados para evitar o desenvolvimento, detectar e tratar o quanto antes. “Não coçar os olhos, monitorar o ceratocone, usar colírio antialérgico e ter acompanhamento. A prevenção da evolução do ceratocone é possível. Prevenir a doença, na forma congênita, não”, conclui Álvaro.

Além da genética, cirurgias refrativas podem ser a causa de ceratocone porque elas enfraquecem a córnea. É muito importante fazer exames antes de realizar procedimentos cirúrgicos de correção de grau e manter em dia todo o acompanhamento médico necessário.

Ceratocone, e agora?

O transplante não é mais a única forma de lidar com o ceratocone. “Há algum tempo atrás, só existia transplante. O sujeito aparecia com ceratocone e o médico fazia várias recomendações. Se, mesmo assim, evoluísse, ia para o transplante. Hoje a história é outra”, diz Álvaro.

Quando o caso ainda é leve, o paciente deve evitar coçar os olhos, usar colírios antialérgicos e fazer consultas regulares ao oftalmologista. A correção da visão pode ser feita com óculos. Naqueles casos em que eles já não são suficientes, os oftalmologistas indicam lentes de contato rígidas, que uniformizam a córnea e melhoram a visão.

Quando nem a lente consegue devolver o formato normal do olho, uma cirurgia de implante de anel intracorneano, o anel de ferrara, pode melhorar a curvatura e a visão. “É uma peça de plástico que você coloca dentro da córnea e aumenta a resistência dela”, resume. Outra possibilidade é o crosslinking, um procedimento que, embora não melhore a visão, estabiliza a progressão da doença. Aqui se aplica no olho uma medicação de vitamina B2, chamada riboflavina, para reagir com raios ultravioleta. O objetivo é fazer com que a medicação reaja com o tecido da córnea, aumentando a resistência. O transplante de córnea vem somente em último caso.

Carlos não precisou chegar até lá. Ele confessa que demorou a procurar um tratamento mais efetivo porque se acostumou à visão imperfeita. “Considero que eu descobri a tempo, mas deveria ter cuidado antes. Ainda bem que minha demora não atrapalhou tanto”, fala, aliviado. Ele recebeu implante de anel para reforçar a córnea e aproveitou para corrigir todo o grau de miopia que tinha antes de saber da doença – além de cuidar do ceratocone, ele implantou uma lente intraocular, a ICL Visian. “Hoje eu consigo levar vida normal sem óculos nenhum, sem queixa nenhuma”, finaliza.

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