O arquiteto José Luiz Mota Menezes costuma definir o museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano como um paraíso na cidade atribulada. Faz sentido. O prédio está localizado na movimentada Rua do Hospício, no Centro do Recife. Lá dentro, o tempo é outro, eternizado em objetos do cotidiano de aristocratas, escravos, religiosos e revolucionários que ajudaram a construir a nossa história.
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Inaugurado em 1866, o Museu do Instituto Arqueológico é o primeiro do Estado e um dos mais antigos em funcionamento no País, com 149 anos. As salas do sobrado guardam relíquias, como a espada com a qual José de Barros Lima, o Leão Coroado, deflagrou a Revolução de 6 de março de 1817, Data Magna de Pernambuco. O bicentenário do movimento separatista será comemorado em 2017. “É uma das principais peças do museu”, diz o historiador e sócio da entidade George Cabral.
Na lista de objetos curiosos há uma toalete do século 19 confeccionada em Londres, mas a madeira é folheada com jacarandá do Brasil. O móvel, cheio de gavetas, ficava no quarto de dormir. Uma das gavetas escondia o penico, outra apoiava um pote com água limpa para a higiene do corpo, conta George.
Cadeiras de arruar, onde mulheres e padres eram carregados por escravos, também estão em exposição. “Era um meio de transporte não só para as mulheres se livrarem das ruas alagadas, sujas de lama, urina, bicho morto e animais vivos. Nas liteiras, elas se locomoviam com privacidade”, explica o historiador.
O museu do instituto é um bom lugar para o visitante dar um rosto a pessoas que conhecemos apenas como nome de ruas e avenidas. Nas paredes há quadros com retratos do conselheiro Rosa e Silva, Sigismundo Gonçalves, Nunes Machado, Manuel Borba, Conde da Boa Vista e Gervásio Pires. Este último, diz George, foi um dos líderes da Convenção de Beberibe, que manteve Pernambuco independente da corte no Rio de Janeiro e de Lisboa no período de outubro de 1821 a setembro de 1822.
Outra peça interessante – e que remete a um debate bem atual, sobre a amamentação em público – é uma imagem de Nossa Senhora do Leite, que foi retirada das igrejas católicas no fim do século 18, por ordem do Vaticano. “A imagem mostra Nossa Senhora amamentando, por isso foi proibida”, observa George.
“O mais importante, ao entrar num museu, é sair dele sabendo algo do que se viu. E a peça só fala se você conseguir falar com ela. Reorganizamos os objetos com essa finalidade”, diz José Luiz, presidente do Instituto Arqueológico. A entidade recebe o público de segunda a sexta das 9h às 17h e aos sábados, das 9h às 12h. O ingresso para o museu, a casa 130 da Rua do Hospício, custa R$ 2.
Desde 2014, o prédio tem elevador para visitantes com dificuldades de locomoção, piso tátil e legendas em Braille para cegos e ganhou novo jardim, com bancos para quem quiser sentar, se apropriar do espaço e contemplar um canhão de bronze do século 17, da antiga Companhia das Índias Ocidentais, empresa que financiou a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.
É esse jardim que conduz à biblioteca, considerada uma das melhores em história de Pernambuco, pela qualidade das obras, destaca José Luiz. “Temos material para pesquisas em história, cartografia, turismo e geografia. Ampliamos a área física e agora estamos higienizando os livros. O acervo conta com testamentos e inventários que recebemos do Tribunal de Justiça de Pernambuco, um rico material para estudos”, diz ele.