Urbanismo

Instituto Arqueológico questiona mudanças em nomes de ruas do Recife

Por lei, a instituição deveria ser consultada sobre alterações na denominação de vias antigas e consagradas pelo povo

Cleide Alves
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Cleide Alves
Publicado em 27/09/2015 às 8:08
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Por lei, a instituição deveria ser consultada sobre alterações na denominação de vias antigas e consagradas pelo povo - FOTO: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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Basta uma assinatura de Geraldo Julio e a Avenida Beberibe, na Zona Norte do Recife, terá o nome alterado para Avenida Beberibe Santa Cruz Futebol Clube. A proposta foi aprovada pela Câmara de Vereadores e aguarda a sanção do prefeito para virar lei. Quem não está gostando da novidade é o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, que deveria opinar sobre mudanças em logradouros públicos com denominação já consagrada pelo povo.

“A Câmara agiu à revelia, sem nos consultar, como prevê a Lei Municipal nº 1.223 de 1951”, diz o pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti, da Comissão de História do Instituto Arqueológico. “Discordamos da modificação”, reforça. “Não fiz a consulta porque não se trata de substituição, é um acréscimo. Eu não troquei uma história por outra, juntei as duas numa só avenida, o Santa Cruz também é uma referência ali”, justifica o vereador Romero Jatobá (PR), autor da proposta.

No entendimento do instituto, acrescentar novos nomes às ruas antigas é, sim, uma modificação. “A história vai se perdendo com essas mudanças”, alerta o pesquisador. Segundo ele, a Câmara está recorrendo a esse artifício com regularidade. E cita como exemplos a Avenida Norte Miguel Arraes, o Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre e Governador Eduardo Campos e o Largo dos Coelhos Reginaldo Rossi. Os dois últimos são projetos em tramitação.

O Recife, informa Carlos Bezerra, tem mais de mil vias sem denominação que poderiam ser batizadas pelos vereadores, sem causar polêmica. “Cada rua conta um pedaço da nossa história e isso precisa ser respeitado.” Em 2007, o instituto negou a inclusão do nome Vovô Zerinho à Rua das Fronteiras, na Boa Vista, como queria o vereador Carlos Gueiros (PTB). Sem a intervenção da entidade, a Rua Amélia, nas Graças, hoje seria Joseph Tourton.

Este ano, ao ser consultado pela vereadora Michele Collins (PP), emitiu parecer contrário à denominação Avenida Armando da Fonte no lugar da centenária Estrada do Bongi, na Zona Oeste da cidade. “Armando da Fonte foi um empresário e morador daquela região, ele está ligado à história do bairro. Recebi solicitação de pessoas da comunidade pedindo a homenagem póstuma”, informa Michele Collins.

“Não vou desistir, tentarei de outra forma. Uma saída é acrescentar o novo nome e a via passaria a se chamar Estrada do Bongi Armando da Fonte, eu estaria somando”, avisa. Michele Collins não é a primeira pessoa a apresentar a proposta na Câmara. Sete anos atrás, Roberto Teixeira, vereador pelo PP, na época, também tentou mudar a Estrada do Bongi para Avenida Armando da Fonte. O projeto de lei foi arquivado.

Alterar nome de rua, de acordo com Carlos Bezerra, é uma prática antiga. Com a República, em 1889, houve uma tentativa de apagar os vestígios do Império. “A Rua do Imperador Dom Pedro II virou Rua 15 de Novembro, mas o povo nunca acatou”, cita o pesquisador. Ele esclarece que o instituto não faz apenas negar os pedidos. “Concordamos com as propostas que não mexem em logradouros centenários e com aceitação popular.”


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