Mais de 400 prédios antigos dos bairros da Boa Vista, de Santo Antônio, de São José e do Recife, no Centro do Recife, apresentam avarias e correm algum risco de desabamento – baixo, médio ou alto. Cerca de 25 deles classificados com grau 3 e 4, o topo da lista, encontram-se tão danificados que tiveram de ser interditados. Foi exatamente um desses que desabou segunda-feira (9) na Rua da Glória, área histórica da Boa Vista.
“Lamento que tenha acontecido outro desastre desse tipo no bairro. Cada edificação que se vai é uma parte da memória coletiva da cidade que se perde”, declara o economista ambiental Jacques Ribemboim, presidente da ONG Civitate, que há 15 anos busca recuperar de áreas urbanas degradadas no Centro. “Felizmente, desta vez não houve vítimas, o dano é material.”
O prédio da Rua da Glória, 189, que caiu parcialmente sobre a calçada, foi interditado em 2009, tinha rachaduras do piso ao teto e não resistiu à forte chuva de segunda-feira (9). Com três andares (térreo mais dois pavimentos) e cerca de dez metros de altura, o imóvel era usado como moradia, mas estava desocupado. Por causa do desmoronamento, a Secretaria-Executiva de Defesa Civil interditou sete residências do prédio vizinho, o Edifício Dora.
“Vamos derrubar o que sobrou do casarão e as sete famílias só poderão retornar aos apartamentos quando a situação estiver resolvida”, afirma a gerente-geral de Engenharia da Defesa Civil, Elaine Holanda. A demolição teve início às 18h30 da terça-feira (10). De acordo com ela, o prédio 187, conjugado com o 189 e também interditado, não sofreu danos porque o proprietário fez um reforço estrutural depois de ter sido acionado pelo município.
Com relação ao sobrado que desabou, Elaine Holanda disse que o proprietário não foi localizado. Ano passado, a Defesa Civil cercou o prédio com tapumes, que foram retirados por populares. Para Jacques Ribemboim, numa situação dessa Executivo, Judiciário, Ministério Público e sociedade deveriam identificar instrumentos jurídicos capazes de resolver o problema com mais rapidez, dando uso aos prédios históricos.
“É preciso agilizar as desapropriações e posterior leilão dos imóveis, estabelecendo que os novos compradores assumam o compromisso de cuidar do patrimônio histórico”, destaca o economista. O secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, disse que a prefeitura está caminhando no sentido de fazer desapropriações com fins de interesse público, por ordem judicial, quando o proprietário não é localizado.
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Antônio Alexandre observa que é grande a dificuldade de se identificar o dono do imóvel em áreas históricas do Centro do Recife. “Desapropriar não é a solução para revitalizar esses trechos da cidade. O prédio deve ter um uso. O desafio é promover a revitalização econômica desses bairros”, reforça.
Ele cita exemplos como a implantação de atividades educacionais no bairro de Santo Antônio e a expansão de ações de economia criativa do Porto Digital (no Bairro do Recife) para Santo Antônio, São José e Boa Vista. Tudo isso, diz, com o estímulo ao uso habitacional dos prédios históricos. O município, acrescenta, faz vistorias nas edificações e notifica os proprietários para que façam intervenções preventivas.
Terça-feira (10), o engenheiro de sistemas Marcos Antônio de Souza Santos utilizou um drone para mapear danos no prédio e as condições das edificações do entorno, para o mestrado em geotecnologia na UFPE. “A ideia é mostrar até onde é possível cooperar com as autoridades usando tecnologia do drone (veículo aéreo não tripulado e controlado remotamente), de forma preventiva”, diz Marcos Antônio.
O prédio da Rua da Glória integra a Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural da Boa Vista (Zeph-8).