CIDADANIA

Projeto ajuda na ressocialização de jovens da Funase através do cinema

Cerca de 60 internos participarão de sessões cineclubistas e oficinas de filme-carta até julho

AMANDA RAINHERI
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AMANDA RAINHERI
Publicado em 26/05/2017 às 8:03
Foto: Alexandre Gondim/ JC Imagem
Cerca de 60 internos participarão de sessões cineclubistas e oficinas de filme-carta até julho - FOTO: Foto: Alexandre Gondim/ JC Imagem
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“Era um sonho que eu não imaginava que aconteceria algum dia na minha vida.” A iniciativa que mudou as perspectivas da socioeducanda de 18 anos do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Santa Luzia, localizado no Cordeiro, Zona Oeste do Recife, é o projeto Cartas ao Mundão, que leva a vivência do cinema para seis unidades da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) no Estado.

Cerca de 60 internos participarão de sessões cineclubistas e oficinas de filme-carta até julho. O projeto social propõe reflexões e debates que aproximam os alunos das instituições de ensino ligadas a unidades da Funase da produção cinematográfica, através de aulas sobre iluminação, manuseio de equipamentos para captação de imagens e toda a linguagem do meio. Ao fim, o material produzido será exposto em uma mostra coletiva aberta ao público, marcada para julho.

A iniciativa teve início em novembro do ano passado e surgiu a partir de uma experiência semelhante na mesma unidade, em 2014. Naquela ocasião, oficinas foram oferecidas a várias escolas da rede regular de ensino, além do Case. Desta vez, o foco é nos jovens internados nessas instituições. “Estes alunos pertencem a um recorte social muito estigmatizado, a imagem deles é vinculada à violência, a uma realidade muito dura”, justifica o coordenador-geral do projeto, o cineasta Caio Sales.

A escolha do gênero é uma tentativa de mandar uma mensagem para o mundo exterior. “Um filme-carta segue a lógica de uma correspondência, um remetente que envia algo a um destinatário. Neste caso, é uma conexão entre dois mundos, é mostrar para quem está fora a realidade de quem vive neste espaço de privação de liberdade”, explica Sales.

Para quem participa do projeto, a iniciativa representa algo ainda maior: esperança. “Está sendo uma experiência muito boa, que vai servir para o meu futuro”, comemora uma interna, que terá identidade preservada. “Elas chegam com a ideia de que não sabem de nada, de que não prestam pra nada. A auto-estima é muito baixa. A arte ajuda na percepção de que elas podem produzir coisas boas, que não nasceram para o mal”, defende Lourdes Paz, coordenadora da Escola Carlos Alberto Gonçalves de Almeida, ligada ao Case Santa Luzia.

VULNERABILIDADE SOCIAL

A unidade abriga 27 adolescentes, com idades entre 12 e 18 anos. A maioria é do interior do Estado e cometeu crimes ligados ao tráfico de drogas ou violência doméstica. “Quando você vê as histórias, como elas chegaram a isso, nota uma ausência dos equipamentos sociais. Poderia ser diferente se tivéssemos escolas mais abertas, com atividades no contra-turno como esta que elas estão desenvolvendo. Deveria ter sido antes, mas elas só estão tendo esta experiência dentro da Funase”, lamenta Jailda Costa, coordenadora-técnica do Case.

Para ela, o projeto é uma oportunidade de quebrar preconceitos. “A gente só vê a Funase em pautas negativas. Para a sociedade, são todos bandidos, marginais irrecuperáveis. Esses jovens cometeram crimes e devem responder por eles, mas são adolescentes como os outros. É hora de desmitificar a visão da sociedade.”

Além do Case Santa Luzia, participam do projeto os jovens do Case Jaboatão dos Guararapes, Vitória de Santo Antão, Abreu e Lima, Cabo de Santo Agostinho e o Centro de Internação Provisória (Cenip) Recife.

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