A história do Convento de São Francisco, na Cidade Alta de Olinda, começa em 1577 quando a pedido de Dona Maria da Rosa, uma benfeitora, é construído um pequeno prédio para receber os frades portugueses que viriam morar no Brasil. Eles só chegam em 1585, a edificação foi incendiada pelos holandeses em 1631 e os religiosos levaram 42 anos para refazer a nova casa.
É esse prédio, erguido aos poucos de 1712 a 1754 com a típica arquitetura franciscana barroca, que recebe o título de patrimônio brasileiro em 1938. “Tudo o que sobrou do antigo imóvel depois do incêndio foi a Capela do Capítulo, onde os frades rezavam e faziam as reuniões de planejamento”, informa frei Rogério Lopes, guardião do convento.
Com um altar de talha dedicado a Nossa Senhora Sant’Ana e decorada com azulejos coloridos, a capela faz parte do roteiro de visitas do Convento de São Francisco. “Todas as pedras desse prédio falam, elas guardam a nossa história e quando contamos essa história aos visitantes estamos preservando a nossa memória”, diz frei Rogério Lopes.
O grande atrativo da edificação secular são os azulejos portugueses, espalhados em vários ambientes, afirma o frade. No claustro, os painéis do século 18 contam passagens da vida de São Francisco. Os azulejos que forram a nave da Capela de Sant’Ana retratam o casamento dos avós de Cristo (São Joaquim e Santana, pais de Maria), entre outras imagens do casal, baseadas nos evangelhos apócrifos.
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Um dos painéis de azulejo da Igreja de Nossa Senhora das Neves mostra a circuncisão de Jesus. “É uma cena rara e emociona o público”, destaca frei Rogério. Pela nave da igreja o visitante tem acesso à Capela de São Roque, da Ordem Terceira de São Francisco (associação de leigos católicos), separadas por um arco em talha.
A sacristia decorada com móveis de jacarandá, mesa de mármore, azulejos e pinturas a óleo sobre madeira no forro do teto retratando a devoção franciscana a Nossa Senhora é outra relíquia no Convento de São Francisco. “É um lugar de muito bom gosto e a vista para o mar é belíssima”, destaca frei José Milton de Azevedo Coelho. Segundo ele, Dona Maria da Rosa servia de intérprete na confissão de índios.
Visita
Os religiosos cobram R$ 2 pela visita e o dinheiro arrecadado ajuda na manutenção do Convento de São Francisco, onde moram seis frades. Como a taxa de acesso não sustenta a edificação, desde 2015 eles abriram as portas do convento para retiros de espiritualidade franciscana. “Afora isso, alugamos o auditório para palestras e cursos de capacitação e temos os recursos dos casamentos”, afirma frei Rogério.
Populares também colaboram com doações espontâneas. “Pintamos a área externa do prédio com verba doada pela comunidade. Nós promovemos momentos de encontro com a população, para as pessoas sentirem que esse monumento também é delas. É um patrimônio com mais de 400 anos de história que pertence a todos, não só aos franciscanos”, ressalta o guardião. A parceria com o Iphan permite obras de restauração, acrescenta.
No momento, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está recuperando a torre, a pintura e a cantaria (pedra) que contorna portas e janelas da fachada do Convento de São Francisco, com recursos do PAC Cidades Históricas do governo federal. A obra também contempla intervenção no pátio defronte da igreja para reintegrá-lo ao cruzeiro, como antigamente.
“Em 1934, três anos antes da criação do Iphan, cortaram o adro para a circulação de veículos pela Ladeira de São Francisco e a igreja ficou separada do cruzeiro. Agora vamos recuperar essa paisagem, mas os carros continuarão passando na rua”, informa Frederico Almeida, engenheiro do Iphan-PE.
Serviço
Convento de São Francisco
Ladeira de São Francisco, 280, Carmo
Fone: (81) 3429-0517 e 3439-3320
Visitas: segunda a sexta das 8h às 11h30 e das 14h às 16h30; sábado das 8h às 12h