O julgamento do caso Maria Alice Seabra, que está sendo realizado durante toda esta terça-feira (22), na Câmara dos Vereadores de Itapissuma, Litoral Norte de Pernambuco, ganha contornos dramáticos. A delegada Gleide Ângelo, que acompanhou as investigações e efetuou a prisão do réu Gildo da Silva Xavier, padrasto da vítima, chorou durante o depoimento.
Visivelmente abalada ao relembrar os detalhes do caso, a delegada contou em seu depoimento como se deu a investigação do caso desde o momento que a mãe da jovem Maria Alice, 19 anos, procurou a delegacia até o dia da prisão e a versão contada por Gildo naquela ocasião.
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Ela lembrou ainda que o réu chegou a admitir que o desejo sexual pela enteada surgiu quando ela tinha 16 anos, num determinado momento em que estavam todos em casa e Maria Alice cruzou as pernas de forma descuidada e deixando a calcinha aparecer.
Gleide ainda reafirmou que, em depoimento gravado, Gildo confessou ter planejado o crime com pelo menos três meses de antecedência. Ela ainda fez diversas acusações contra Gildo e acabou sendo repreendida pela juíza Fernanda Vieira Medeiros, que preside a sessão. O teor das acusações da delegada rebatiam o fato de Gildo negar o estupro contra Maria Alice, mesmo tendo assumido o crime na ocasião em que foi preso.
"Eu senti que ele é uma pessoa má, perversa, cruel. Ele destruiu a vida de uma moça de 19 anos. Não só a de Alice, mas da mãe de Alice, da irmã de Alice... tudo para satisfazer um desejo sexual. [...] Ele não só matou, como matou com requintes de crueldade. Matou estuprando, quebrando os dentes, torando a mão, da pior forma que pode existir", disse Gleide Ângelo, emocionada, após prestar seu testemunho no julgamento.
Se condenado, Gildo Xavier, 36 anos, poderá pegar até 48 anos de detenção. Ele foi denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por quatro crimes: sequestro qualificado (para fins sexuais); estupro (com o agravante de ser padastro da vítima); homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, tortura ou outro meio cruel, emprego de asfixia, feminicídio, sem chance de defesa) e ocultação de cadáver. O Júri Popular é composto por sete mulheres. O promotor de Justiça que está atuando no caso é Alexandre Fernando Saraiva da Costa, promotor da comarca da cidade de Itapissuma.
Relembre o caso
Em junho de 2015, Maria Alice Seabra, 19 anos, havia saído de casa após conflitos com o padrasto. Ela estava morando na casa da irmã mais velha, embora preferisse dizer a Gildo que estava passando um tempo com um tio. Com a promessa de levá-la a uma entrevista de emprego, ele buscou a jovem em casa usando um carro alugado. No caminho do suposto compromisso, Gildo espancou, drogou, violentou e matou a enteada.
O corpo da jovem foi encontrado cinco dias após o sequestro, num canavial em Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife. Preso, Gildo confessou os crimes alegando um "desejo sexual" pela jovem como motivo do crime. Perícias realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) comprovaram que a mão esquerda de Maria Alice Seabra foi decepada pelo padrasto com o auxílio de um instrumento contundente pesado, como um machado ou facão.
Gildo nega ter sido autor da mutilação. A delegada Gleide Ângelo foi responsável pela investigação. O acusado aguarda julgamento no Presídio de Igarassu, também no Grande Recife