“Deixamos de ser meninos, mas a guerrilha continua”, diz o diretor e ator Pedro Vilela, um dos integrantes do Magiltuh, um dos mais atuantes e conhecidos grupos de teatro contemporâneos do Recife, que hoje celebra dez anos de existência. Para comemorar a data, o grupo faz uma festa, às 23h, no Vapor 48, com brega, samba e música popular brasileira, como um esquente para o novo ano que vai começar movimentado: para 2015, os rapazes já têm engatilhados cinco novos projetos.
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“Em dez anos, consolidamos uma linguagem e uma metodologia para o grupo, fruto de podermos estar juntos de fato. Nestes anos, produzimos sete espetáculos, juntos, e desenvolvemos projetos no Recife, como o Pague Quanto Puder, as intervenções urbanas, o Trema! e circulamos por quase todos os estado brasileiros – menos Tocantins e Roraima”, avalia Pedro. Em 2013, o grupo fez 132 apresentações e em 2014, já chegam a 100.
Para o próximo ano, o Magiluth criará três novas montagens, uma delas em parceira com um grupo português, o Mala Voadora, e ainda fará a circulação internacional (pela Europa) de Viúva porém honesta, premiada e excelente adaptação feita pela companhia do teatro de Nelson Rodrigues, no ano em que o Brasil celebrou o centenário do dramaturgo recifense; o lançamento de um revista bimestral sobre teatro e do livro sobre os dez anos de trajetória da companhia.
HISTÓRIA
Nascido de uma demanda da disciplina de Fundamentos da Expressão e Comunicação, ministrada pelo professor Paulo Michelotto, o grupo Magiluth foi alicerçado a partir de uma pesquisa sobre os clowns e o teatro escrito pelo dramaturgo irlandês Samuel Beckett. Daí surgia um espetáculo de rua, sem voz, e todo erguido em gestos e expressões largas, que falava sobre o homem e seus egoísmos. Durante três anos, os atores estiveram envolvidos com a peça.
Embora tenha surgido um ano depois de duas outras importantes companhias locais, o Coletivo Angu de Teatro e Cia. Fiandeiros, o Magiluth se destacava pelo fato de ter sido criado dentro da universidade, por alunos de Artes Cênicas.
Ao estrear, em 2012, Aquilo que o meu olhar guardou pra você, o Magiluth levou ao palco a união de várias marcas estéticas do teatro moderno que o grupo já vinha experimentando ao longo dos oito anos de trabalho, sobretudo de improvisação, o roteiro não linear e fragmentado, e a interação entre palco e plateia. O que os rapazes ratificaram, em Viúva porém honesta, quando recriaram a visão de Nelson com uma ousada montagem em que o jogo cênico é premissa.
No caso do Magiluth, a dramaturgia opta por uma cena em que, pela maneira como é conduzida, fica impossível para o espectador saber se, o que está sendo dito, é verdade ou ficção. Comprometido com a desconstrução do teatro clássico no Recife, e imerso cada vez mais no conceito de teatro pós-moderno, performático e pregador de uma interpretação mais genuína, o Magiluth tem sido legitimado pela plateia, ao mesmo tempo em que conquista espaço nas discussões críticas do teatro nacional. Se a ideia de repensar a encenação está bem defendida pelo grupo, essa sua maneira de conduzir a cena como um jogo também ganhou pauta nos debates e análises dos espetáculos. E que venham mais jogos.