Noite histórica no Cine PE com homenagem ao ator Rodrigo Santoro

Rodrigo Santoro se emocionou várias vezes durante homenagem e recebeu um Calunga Especial pela carreira

Felipe Souto Maior / Divulgação
FOTO: Felipe Souto Maior / Divulgação

Desde que voltou ao Cinema São Luiz três anos atrás – onde teve a primeira edição, em 1997 –, o Cine PE ainda não havia tido uma noite histórica igual a do último sábado. Afinal, não é todo dia que uma plateia gigantesca testemunha um astro do cinema se debulhar em lágrimas. Foi o que aconteceu durante a homenagem ao ator Rodrigo Santoro. Depois do resumo da carreira e da exibição de um vídeo, ele já subiu ao palco visivelmente emocionado. Não deu cinco minutos, parou de falar e as lágrimas começaram pelo seu rosto. A emoção não aflorou uma vez, mas várias, até que foi socorrido por Cássia Kis, que lhe entregou um Calunga Especial pela carreira.

“Cássia foi minha mãe em Bicho de Sete Cabeças e em Não Por Acaso. Há 17 anos eu vi uma performance da Nação Zumbi sobre Chico Science e nunca esqueci. Não é porque estou no Recife, mas foi uma emoção incrível. Eu quero dedicar a homenagem a essa força incrível, esse potencial e a responsabilidade de fazer um país melhor”, disse.

Para Santoro, o Cine PE é especial por causa do Calunga de Melhor Ator que ganhou em 2001 por Bicho de Sete Cabeças. A primeira aparição dele no cinema foi no curta Medo do Escuro, de Dirceu Lustosa, que concorreu na edição de 1997.

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LONGAS-METRAGENS

Com a homenagem e a exibição de seis filmes – quatro curtas e dois longas –, a maratona foi maior que a da sexta e só terminou à 1 da manhã de ontem. Mesmo assim, cansativa, a sessão dupla de Marcha Cega e Dias Vazios foi compensadora, com os os filmes dignos de prêmios. O documentário Marcha Cega, de Gabriel Di Giacomo, já pode ser considerado uma petição para o Congresso Brasileiro e Câmaras Municipais começarem a pensar seriamente na reformulação da atuação da Polícia Militar. Em cerca de 1h30min, o filme refaz o percurso de quatro anos de manifestações populares e estudantis de São Paulo – da manifestação pioneira de 13 de junho de 2013, quando o governo paulista aumentou as passagens para R$ 3,20, até a greve geral de abril de 2017.

O documentário tem como fio condutor o fotógrafo Sérgio Silva, alvejado por uma bala de borracha da PM, em junho de 2013. Perdeu o olho esquerdo. A partir de Sergio, Gabriel Di Giacomo mostra como os manifestantes e estudantes se tornaram alvo dos policiais e até do Exército. Os estudantes apontam a existência de um jovem oficial da inteligência que se infiltrou para incitar os estudantes e depois entregá-los aos PMs. Com depoimentos de estudantes, militantes, advogados e estudiosos, entre eles o tenente-coronel reformado Adilson Paz de Souza, que aponta as falhas na abordagem da PM ao não seguir as orientações de proteção ao cidadão, além de toda uma longa lista de procedimentos herdados da época da Ditadura Militar.

Já a produção goiana Dias Vazios, de Robney Bruno Almeida, foi um choque para quem ficou para a sessão, inciada a 0h30 dessa madrugada. Adaptação do romance Hoje Está um Dia Morto, de André de Leones, o filme é um dos retrato dos mais sensíveis já surgidos no cinema brasileiro sobre a adolescência desamparada. A partir do cruzamento de duas histórias, passado e presente, verdade e imaginação se misturam de uma forma que deixa o espectador tão em dúvida quanto os seus personagens. Dias Vazios é uma experiência emotiva arrasadora.

Filmado numa pequena cidade de Goiás, com atores jovens que vivenciam a realidade do lugar, Dias Vazios é um quebra cabeças em que o estudante e aspirante a escritor Daniel (Arthur Dávila), com a cumplicidade da namorada Alanis (Nayara Tavares), tenta recontar o que aconteceu com o casal Jean (Vinícius Queiroz) e Fabiana (Nathália Dantas), que dois antes tiveram suas vidas modificadas e não deixaram explicações. Grave, doloroso e inteligente, o filme é tambem um tratada sobre as relações amorosas entre cinema e literatura.

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