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Biografia relata episódios da vida de Hilda Hilst, homenageada da Flip

'Eu e Não Outra', escrito por Laura Folgueira e Luisa Destri, é uma das obras que celebra a poeta

JC Online
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Publicado em 25/07/2018 às 19:42
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'Eu e Não Outra', escrito por Laura Folgueira e Luisa Destri, é uma das obras que celebra a poeta - FOTO: Divulgação
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No início dos anos 1990, Hilda Hilst, já então uma das principais escritoras da língua portuguesa, estava cansada de ficar ao lado de escritores mortos nas prateleiras de sebo. Ainda que tivesse fiéis admiradores, convivia aos 60 anos com dívidas e sofria com a parca circulação da sua obra. Decidiu, então, que queria se “divertir” na literatura. O estalo final veio ao saber que a escritora francesa Régine Deforges, da trilogia erótica A Bicicleta Azul, havia arrecadado US$ 10 milhões com as obras. Ali nascia a Hilda Hilst provocativamente pornográfica, em um projeto de se tornar “a santa que levantava a saia”.

Grande homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa hoje, Hilda teve histórias como essa reunidas no livro Eu e Não Outra – A Vida Intensa de Hilda Hilst (Tordesilhas), escrito pelas pesquisadores Laura Folgueira e Luisa Destri. A abertura do evento, às 20h, conta com o encontro da atriz Fernanda Montenegro e compositora e pianista Jocy de Oliveira, as duas leitores e contemporâneas da poeta.

Na Flip, a obra de Hilda vai ser lembrada através de suas memórias gravadas em fitas (com a cineasta Gabriela Greeb e o sound designer Vasco Pimentel), do silêncio dos leitores e críticos sobre ela e outros autores (com a crítica Lígia Ferreira e o poeta Ricardo Domeneck), de seu lado “santa e serpente” (com a crítica Eliane Robert Elias e a atriz Iara Jamra) e de sua influência em novas obras (com o fotógrafo Eder Chiodetto, o músico Zeca Baleiro e, mais uma vez, Iara). Além disso, a criação de Hilda vai ser o mote para recitais e leituras poéticas na programação principal do evento – uma das que participa é a poeta pernambucana Bell Puã.

As homenagens da Flip, bem se sabe, são influenciadas pela produção de editoras (e as influenciam também). Ainda que a obra de Hilda já tivesse bem trabalhada pela Globo Livros, a transferência dos seus livros para a Companhia das Letras resultou na publicação da poesia e da prosa completa da autora. Além disso, os artigos da autora saíram em 132 crônicas: Cascos & Carícias e Outros Escritos, da Nova Fronteira.

BIOGRAFIA

Eu e Não Outra é outra obra dessa lavra. Mais do que uma biografia, é definido pela suas autoras como um “vislumbre da personalidade e da vida de Hilda Hilst”. Assim, ainda que siga uma cronologia, oferece histórias e momentos saborosos da personalidade única e brilhante da autora.

O mergulho de Hilda na literatura obscena – seu território era mais o do pornográfico do que o do erótico, afinal – a converteu definitivamente em uma escritora mais conhecida pela trajetória do que pela obra. Muito do que a Flip busca na sua programação é evitar o caminho fácil da Hilda “senhora obscena”, que ela mesmo forjou para chegar aos holofotes midiáticos.

A obra de Laura Folgueira e Luisa Destri tem vários momentos espirituosos, quando fala, por exemplo, de como Hilda conheceu Lygia Fagundes Telles e, mais tarde, como as duas viraram símbolos da emancipação feminina no meio literário. Em outro momento, em 1963, estava provando uma roupa em uma loja quando viu um homem bonito passar na rua. Foi logo até a porta e o chamou par entregar um papel: “Meu nome é Hilda; este é meu telefone. Eu quero me encontrar com você”. O homem era Dante Casarini, que jantaria com ela naquela noite e terminaria se casando com a poeta.

O relato biográfico ainda traz a infância e a juventude de Hilda, seu interesse por falar com os mortos e seus perrengues financeiros. No fim, é um retrato valioso de uma personagem “intensa e ousada”, mas também “profundamente humana, em suas fragilidades, seus questionamentos e suas relações”, como dizem as duas biógrafas.

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